Pular para o conteúdo
publicidade
Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 235

Um dia de liberdade

Os escravos brasileiros se lembraram da sensação de poder falar livremente na praça pública, sem se sentir um marginal cometendo um crime

Rodrigo Constantino
-

Alguém soltou a notícia: “O X está de volta!”. Era quarta-feira, o meio da semana, e logo a boa nova se espalhou. Ninguém compreendeu de imediato o que tinha acontecido, e logo as especulações surgiram: será que o projeto de lei da congressista da Flórida contra censores como Alexandre de Moraes tinha surtido efeito? Melhor ir com mais calma: parece que era um “bug” mesmo.

Os especialistas apresentaram a explicação mais palatável: Elon Musk trocara o IP dos servidores do X. Antes era da rede que pertence ao Twitter-Network, onde as operadoras aplicaram o bloqueio. Agora o IP do X é da CloudFlare e, se as operadoras bloquearem esse acesso, o impacto será enorme e afetará boa parte da internet no país. Apertando a tecla SAP: jogada de mestre?

O próprio Musk, no mesmo dia, publicou isto no X: “Qualquer magia suficientemente avançada é indistinguível da tecnologia”. Por um passe de mágica, Musk complicou um pouco a vida do nosso censor tupiniquim. Isso veio no dia seguinte a dois acontecimentos ruins para Alexandre: o projeto de lei de María Salazar, mencionando especificamente seu nome; e a Casa Branca, por meio de sua porta-voz, admitindo que banir o X é inaceitável.

Karine Jean-Pierre, a porta-voz da Casa Branca, disse que a liberdade de expressão inclui o acesso irrestrito às redes sociais: “Acho que, quando se trata de redes sociais, sempre fomos muito claros de que todos devem ter acesso às redes, é uma forma de liberdade, de liberdade de expressão”. O New York Post repercutiu a resposta, que foi ignorada pela própria Globo, emissora da jornalista que fez a pergunta.

Ilustração: Shutterstock

Isso ocorreu no apagar das luzes do governo Biden, que está senil e “desaparecido”. Imagina se Donald Trump voltar à Casa Branca no ano que vem! Certamente a chapa vai esquentar para o lado dos censores brasileiros, ainda mais quando lembramos da proximidade de Trump com Elon Musk. O dono do X, aliás, divulgou nesta terça que o Iêmen tem acesso agora aos satélites da Starlink. O Iêmen! Praticamente tudo que é país pode utilizar a internet da Starlink. Já o Brasil…

O mundo observa atento o que se passa em nosso país. Eu concedi uma entrevista ao canal Rebel TV, do Canadá, e o apresentador estava bem por dentro dos abusos de Alexandre e seus cúmplices, e esteve na manifestação do 7 de Setembro na Paulista. Cada vez mais gente fala disso e reage. Uma jornalista alemã fará um documentário sobre os crimes alexandrinos. O custo do sistema para mantê-lo será cada vez mais alto. O Brasil será um pária mundial sob sanções econômicas, como os demais países do eixo do mal.

Enquanto isso, a oposição faz seu trabalho no Senado, pressionando e conseguindo mais adesões ao pedido de impeachment de Alexandre de Moraes. O povo deve fazer sua parte, cobrando diretamente do seu senador uma postura. Afinal, essa é a pauta prioritária no país hoje. Não há como discutir qualquer coisa que seja sem antes resgatar a liberdade mais básica de todas. Os abusos alexandrinos fizeram muitas vítimas, mas a coisa extrapolou para muito além da esfera bolsonarista.

O brasileiro tem demonstrado que não quer seguir para o abatedouro passivamente, não aceita ver seu país virar uma Venezuela sem luta

No dia de liberdade, em que os brasileiros puderam acessar o X sem o uso de VPN, era visível o clima de euforia e comemoração. Esse “bug” vai reforçar o sentimento de liberdade em quem havia sucumbido à censura por medo e covardia. É como dar e tirar o doce da criança. O dia de liberdade fez com que os escravos brasileiros se lembrassem da sensação de poder falar livremente na praça pública, sem se sentir um marginal cometendo um crime. Não há nada mais importante do que nossa liberdade.

Ilustração: Shutterstock

Desde muito tempo sabemos que uma parcela significativa do povo aceita a servidão voluntária, acaba adotando uma postura resignada, perde a esperança ou a capacidade de manifestar indignação e reação. Os autoritários contam com isso, tentam intimidar, quebrar a espinha da população. Mas o brasileiro tem demonstrado que não quer seguir para o abatedouro passivamente, não aceita ver seu país virar uma Venezuela sem luta. Ter o gostinho de utilizar o X novamente sem restrição era a faísca que faltava para unir essa gente toda em torno de uma causa comum.

Alexandre de Moraes vai cair. Ele precisa cair! Que essa sensação de um dia de liberdade refresque a memória dos brasileiros de como é ser livre. Há muita coisa a ser feita no Brasil para realmente termos uma democracia que mereça tal nome, mas combater a censura é o primeiro passo fundamental. Para atingir Elon Musk, Alexandre foi longe demais. Seu descontrole fez com que ele prejudicasse muita gente. Agora até esquerdistas podem se dar conta do problema da censura. Muitos querem o X de volta. Não é uma disputa pessoal entre Alexandre e Musk, e sim a luta pela liberdade essencial. E o tirano vai perder.

Leia também “Uma capitalista pró-armas?”

1 comentário
  1. Luís Gustavo Romanini
    Luís Gustavo Romanini

    Não vejo essa “reação” do povo que o Consta percebe. Bem diferente disso. Para mim acabou. Se dia 1º de outubro ainda tivermos nos holofotes multa para meros mortais, eu desistirei. Deu. Cancelo minhas assinaturas da Oeste, Gazeta do Povo e Brasl Paralelo e vou viver minha vida calado e quieto. Cansei de gritar sozinho.

Anterior:
Além da censura
Próximo:
A nova face do ódio
Newsletter

Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.