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Edição 238

A eleição futura

O resultado da disputa deste ano deixa uma interrogação sobre a eleição anterior: Como foi que Lula ganhou?

Alexandre Garcia
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O governo logo tratou de propagandear que o resultado eloquente da eleição municipal não tem nada a ver com a eleição presidencial de 2026, como disse o porta-voz político, ministro Alexandre Padilha. Os votos municipais mostram que a direita e a centro-direita superam em muito a esquerda e a centro-esquerda — quase o dobro. Mais do que um significado para a próxima eleição, deixa uma interrogação sobre a eleição anterior: Como foi que Lula ganhou? O PL foi o partido mais votado na eleição municipal, com 15,7 milhões de votos; o PT teve pouco mais da metade disso: 8,9 milhões. Os partidos de esquerda fizeram 862 prefeituras; os de direita, 2.291. Se juntarmos todo o espectro de esquerda, somam-se 11.991 prefeitos; o espectro da direita elegeu 3.516 prefeitos. Se os municípios elegem quase o dobro de candidatos direitistas, as perguntas que brotam naturalmente são: Como um candidato de esquerda foi eleito presidente em 2022? Por que o outro perdeu?

Agora o campeão de votos foi o PL; o de prefeitos, o PSD; o de vereadores, o MDB. O PT nem aparece entre os cinco primeiros das listas. Lula não elegeu o genro em Barra dos Coqueiros, Sergipe, embora o candidato tenha feito campanha com vídeo gravado com o sogro. Danilo de Lula só teve 3% dos votos. Edinho do PT não conseguiu eleger a sucessora em Araraquara, onde Lula se abrigou no 8 de janeiro, e onde aquela cidadã foi presa por estar sentada num banco de praça na pandemia. O presidente participou da campanha em 21 municípios e perdeu em 16 deles. A vitória no Rio é de Eduardo Paes, PSD e ex-DEM. Nas capitais com segundo turno, o PT disputa só em quatro das 26. Em São Paulo, berço do partido, o candidato é do Psol. O PT e Lula podem não estar com votos, mas continuam com a mídia, os professores, os artistas e gente do Judiciário.

Lurian Cordeiro, filha de Lula, Lula e Danilo Segundo, companheiro da filha mais velha do presidente | Foto: Divulgação/PT

Talvez haja alguma pista para essa previsão do governo, de que 2026 nada terá a ver com 2024. É a divisão da direita e centro-direita. As vaidades, os interesses, os oportunismos. O segundo turno prevê enfrentamentos entre gente do mesmo lado ideológico. Em Goiânia, Bolsonaro e Caiado vão se enfrentar, cada um com o candidato de seu partido, da mesma direita: o PL, com Fred Rodrigues, e o União Brasil, ex-PFL, ex-DEM, ex-PSL, com Sandro Mabel. Em Curitiba, a jornalista Cristina Graeml, que, sem fundo eleitoral e boicotada na mídia e nas pesquisas, empatou com o neto de Paulo Pimentel e vai para o segundo turno. Eduardo Pimentel tem como vice o PL de Bolsonaro, enquanto Cristina e Bolsonaro se admiram reciprocamente. Disputa dentro da mesma ideologia. Assim é o segundo turno em Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, João Pessoa, Manaus, Palmas e Porto Velho — só para falar em capitais. E ainda tem o pastor Malafaia chamando Bolsonaro de “porcaria de líder” e Cristina Graeml de “aquela mulher lá”.

Meu barbeiro Simonini, um profeta, dizia que chegaria o dia em que digladiariam “os próprios contra os mesmos”. Façamos uma hipótese aritmética: a soma da direita é 3.516 prefeituras; dividida pelo meio, dá 1.758 — menos que as 1.991 da esquerda. É só um estudo para demonstrar que a superioridade de dois terços sobre um terço se esvai quando ela se divide. 

Imagine agora a Avenida Faria Lima fazendo jantar para apoiar a candidatura de Lula em 2022 “pela democracia”. Lembram da Carta pela Democracia? Não parece um masoquismo da direita e do centro, querendo sofrer com a esquerda? Agora com os candidatos mais próximos do eleitorado, em eleição municipal, mostra sua face majoritariamente conservadora e direitista, temente a Deus e à esquerda. O PT não elegeu nem um prefeito sequer em capitais na eleição anterior nem está com chances de eleger agora. Só em quatro capitais ficaram para o segundo turno, mas com pouca chance ou nenhuma, como em Porto Alegre, onde o atual prefeito fez 49,72% no primeiro turno. A esquerda só foi vitoriosa em Recife, com o PSB do prefeito João Campos.

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Em São Paulo, Bolsonaro livrou-se de um dilema tipo “decifra-me ou devoro-te”. Imagine se Marçal tivesse ido para o segundo turno com Nunes. Mas haverá Goiânia, Curitiba e outros dilemas, em disputas entre candidatos do mesmo padrão ideológico. Podem restar sequelas para 2026. E não se pode esquecer da credibilidade na contagem, que só o comprovante do voto confere. Diante do quase empate entre os três de São Paulo e dos quase 50% de Porto Alegre, fica a vontade de recontar, mas é impossível. Não custa lembrar que a apuração é feita longe dos olhos e da compreensão do público, a despeito do que manda o artigo 37 da Constituição, sem esquecer o artigo 14, do voto direto e secreto. Já há mobilização para 2026, em busca de um sistema que não deixe dúvidas, embora o presidente do Supremo tenha descoberto que as críticas ao processo eleitoral perderam credibilidade e relevância. Não custa lembrar que os eleitores ficaram sem o palanque digital do X para exercerem o direito pétreo de expressão do pensamento, em debate onde se forma opinião e se decide voto. Eleições livres, limpas e transparentes são meus votos para 2026.

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2 comentários
  1. Julio Fressa
    Julio Fressa

    Como foi que Lula ganhou? Da mesma forma que ganhará as próximas, simples assim. Para bom leitor, pingo é letra.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Não obstante a vitória da direita, queremos eleições livres e transparente, as fraudes são evidentes, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro. Basta olhar o algoritmo

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