“Você confia em nós com as crianças; confie em nós com o voto.” Esta era a frase estampada em uma das faixas carregadas por sufragistas na passeata que ocorreu no dia 23 de outubro de 1915, em apoio ao referendo no estado sobre a concessão do voto às mulheres.
Lideradas por Anna Shaw e Carrie Chapman Catt, fundadoras da Liga das Eleitoras, pelo menos 25 mil mulheres — mães, esposas, trabalhadoras, ricas, pobres e de todas as classes sociais — marcharam por 8 quilômetros vestidas de branco e de maneira pacífica pela Quinta Avenida de Nova York, em uma campanha por votos populares. Mas estima-se que o número foi muito maior, cerca de 40 mil a 60 mil, fora os espectadores que pararam para ver a marcha passar. Até então, desde o início do movimento sufragista, no início dos anos 1870, essa havia sido a maior manifestação nos Estados Unidos. No dia seguinte, o jornal New York Times publicou: “Na luz dourada do sol e na calorosa atmosfera, o grande desfile fez seu caminho triunfal”.
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Infelizmente, a grandiosa marcha não deu resultado imediato. As mulheres no estado de Nova York só receberam o direito ao voto dois anos depois, em novembro de 1917. A luta foi longa e árdua, tanto no Congresso como nas ruas. Nacionalmente, as mulheres americanas exerceram seu direito democrático de votar depois da aprovação da 19ª Emenda à Constituição americana, em 1919, ratificada em agosto de 1920 com o seguinte decreto:
“O direito de voto dos cidadãos dos Estados Unidos não deve ser negado ou abreviado pelos Estados Unidos ou por qualquer Estado em razão do sexo.”
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Apesar da aprovação no Congresso, as mulheres negras foram excluídas da ação. O voto feminino negro só foi validado em 1964, com a Lei dos Direitos Civis. Mulheres latinas e asiáticas também enfrentaram dificuldades nos Estados Unidos. As brasileiras conquistaram o direito ao voto em 1932, e as suíças, somente em 1971. O primeiro país a reconhecer o direito ao sufrágio feminino foi a Nova Zelândia, em 1893.
A briga que essas mulheres compraram foi grande. Elas enfrentaram preconceito, assédio e perseguição por parte de seus oponentes. Eram descritas como “solteironas, divorciadas ou mulheres sem filhos”. Na maioria dos países, eram proibidas de assinar contratos sem a autorização de uma figura masculina. Não tinham direito à propriedade privada nem podiam alugar imóveis. Logo, reivindicar o direito ao voto era uma revolução. Não por acaso o historiador britânico Eric Hobsbawm considera esse movimento o mais marcante do século 20.
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Muitas sufragistas foram presas ao longo do movimento. Em novembro de 1872, nas eleições presidenciais, Susan Brownell Anthony desafiou os fiscais de uma seção eleitoral em Rochester, Nova York, e depositou seu voto em uma urna. Foi presa em flagrante e levada ao tribunal do júri formado apenas por homens. Indagada pelo juiz se tinha algo a declarar, ela afirmou: “Isto é um ultraje contra meus direitos de cidadã […] vocês estão pisoteando os mais vitais princípios de nosso governo. Meus direitos naturais, meus direitos civis, meus direitos políticos, meus direitos judiciais estão sendo todos ignorados”.
O pronunciamento de nada adiantou. Ela foi condenada a pagar uma multa de US$ 100, o que se recusou a fazer. Susan morreu em 1906. Não viveu para ver as mulheres finalmente votarem. Em 2020, ano centenário da emenda, o então presidente Donald Trump concedeu o indulto presidencial com “perdão total e completo”.
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Elizabeth Cady Stanton, Alva Vanderbilt Belmont, Mary Morris Burnett Talbert, Alice Morgan Wright, Sarah Tompkins Garnet, Harriot Stanton Blatch são alguns dos nomes que desafiaram o sistema, sofreram com a resistência e alcançaram um marco histórico. A busca pelo direito de expressar a opinião política nas urnas foi um dos objetivos entre muitos na batalha pela igualdade, não só nos Estados Unidos mas também no restante do mundo. O movimento sufragista foi um importante capítulo do século 20 e uma inspiração até os dias de hoje.
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Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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Ótima e justa lembrança.