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Anna Shaw e Carrie Chapman Catt, fundadora da Liga das Eleitoras, lideraram cerca de 20 mil apoiadores em uma marcha pelo sufrágio feminino, na Quinta Avenida de Nova York, em 1915 | Foto: Wikimedia Commons
Edição 238

Imagem da Semana: as sufragistas de Nova York

Em 1915, milhares de mulheres marcharam pacificamente e vestidas de branco pela Quinta Avenida com uma única demanda: o direito ao voto feminino

Daniela Giorno
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“Você confia em nós com as crianças; confie em nós com o voto.” Esta era a frase estampada em uma das faixas carregadas por sufragistas na passeata que ocorreu no dia 23 de outubro de 1915, em apoio ao referendo no estado sobre a concessão do voto às mulheres. 

Lideradas por Anna Shaw e Carrie Chapman Catt, fundadoras da Liga das Eleitoras, pelo menos 25 mil mulheres — mães, esposas, trabalhadoras, ricas, pobres e de todas as classes sociais — marcharam por 8 quilômetros vestidas de branco e de maneira pacífica pela Quinta Avenida de Nova York, em uma campanha por votos populares. Mas estima-se que o número foi muito maior, cerca de 40 mil a 60 mil, fora os espectadores que pararam para ver a marcha passar. Até então, desde o início do movimento sufragista, no início dos anos 1870, essa havia sido a maior manifestação nos Estados Unidos. No dia seguinte, o jornal New York Times publicou: “Na luz dourada do sol e na calorosa atmosfera, o grande desfile fez seu caminho triunfal”.

Harriet Tubman, uma ex-escrava que conduziu mais de 300 escravos fugitivos à liberdade através da Ferrovia Subterrânea, também foi uma defensora declarada do sufrágio feminino após a Guerra Civil. Apesar de ser totalmente analfabeta, ela viajou entre Nova York, Boston e Washington para falar em nome da garantia do direito ao voto para todas as mulheres — independentemente da sua raça | Foto: Domínio Público

Infelizmente, a grandiosa marcha não deu resultado imediato. As mulheres no estado de Nova York só receberam o direito ao voto dois anos depois, em novembro de 1917. A luta foi longa e árdua, tanto no Congresso como nas ruas. Nacionalmente, as mulheres americanas exerceram seu direito democrático de votar depois da aprovação da 19ª Emenda à Constituição americana, em 1919, ratificada em agosto de 1920 com o seguinte decreto:

“O direito de voto dos cidadãos dos Estados Unidos não deve ser negado ou abreviado pelos Estados Unidos ou por qualquer Estado em razão do sexo.”

Em 4 de junho de 1919, foi aprovada a 19ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, estabelecendo que todas as mulheres maiores de idade têm direito ao voto | Foto: Domínio Público

Apesar da aprovação no Congresso, as mulheres negras foram excluídas da ação. O voto feminino negro só foi validado em 1964, com a Lei dos Direitos Civis. Mulheres latinas e asiáticas também enfrentaram dificuldades nos Estados Unidos. As brasileiras conquistaram o direito ao voto em 1932, e as suíças, somente em 1971. O primeiro país a reconhecer o direito ao sufrágio feminino foi a Nova Zelândia, em 1893.

A briga que essas mulheres compraram foi grande. Elas enfrentaram preconceito, assédio e perseguição por parte de seus oponentes. Eram descritas como “solteironas, divorciadas ou mulheres sem filhos”. Na maioria dos países, eram proibidas de assinar contratos sem a autorização de uma figura masculina. Não tinham direito à propriedade privada nem podiam alugar imóveis. Logo, reivindicar o direito ao voto era uma revolução. Não por acaso o historiador britânico Eric Hobsbawm considera esse movimento o mais marcante do século 20.

Membros do movimento sufragista organizaram cartazes para chamar a atenção para sua causa. A opinião pública foi moldada em parte pela entrada do país na Primeira Guerra Mundial, em abril de 1917, quando as mulheres assumiram empregos vagos por homens que lutavam nas linhas de frente, incluindo tarefas agrícolas | Foto: Wikimedia Commons

Muitas sufragistas foram presas ao longo do movimento. Em novembro de 1872, nas eleições presidenciais, Susan Brownell Anthony desafiou os fiscais de uma seção eleitoral em Rochester, Nova York, e depositou seu voto em uma urna. Foi presa em flagrante e levada ao tribunal do júri formado apenas por homens. Indagada pelo juiz se tinha algo a declarar, ela afirmou: “Isto é um ultraje contra meus direitos de cidadã […] vocês estão pisoteando os mais vitais princípios de nosso governo. Meus direitos naturais, meus direitos civis, meus direitos políticos, meus direitos judiciais estão sendo todos ignorados”.

O pronunciamento de nada adiantou. Ela foi condenada a pagar uma multa de US$ 100, o que se recusou a fazer. Susan morreu em 1906. Não viveu para ver as mulheres finalmente votarem. Em 2020, ano centenário da emenda, o então presidente Donald Trump concedeu o indulto presidencial com “perdão total e completo”.

Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Anthony batalharam pelo direito ao voto feminino | Foto: Wikimedia Commons
Cartões-postais antissufrágio, da Associação de Oposição ao Sufrágio Feminino do Estado de Nova York, sugerindo que o voto feminino castraria os homens e apenas substituiria os políticos corruptos do sexo masculino por mulheres políticas corruptas | Foto: Cortesia de Steven H. Jaffe/Dunston-Weiler Lithograph Co./Nova York

Elizabeth Cady Stanton, Alva Vanderbilt Belmont, Mary Morris Burnett Talbert, Alice Morgan Wright, Sarah Tompkins Garnet, Harriot Stanton Blatch são alguns dos nomes que desafiaram o sistema, sofreram com a resistência e alcançaram um marco histórico. A busca pelo direito de expressar a opinião política nas urnas foi um dos objetivos entre muitos na batalha pela igualdade, não só nos Estados Unidos mas também no restante do mundo. O movimento sufragista foi um importante capítulo do século 20 e uma inspiração até os dias de hoje.

Annie Kenney e Christabel Pankhurst com uma placa com os dizeres “Votos para mulheres”, inspiração inglesa de manifestação sufragista do início do século 20 | Foto: Wikimedia Commons
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Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

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