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Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Ricardo Stuckert/PR
Edição 239

Lula promete respeitar o arcabouço fiscal, mas gringos não acreditam

E mais: o socorro às aéreas, a redução dos investimentos da Petrobras, o Vasco do BTG e a revolução da Asaas

Carlo Cauti
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Lula se reuniu nesta semana com representantes do setor bancário brasileiro e internacional em São Paulo, garantindo o equilíbrio das contas públicas. Entretanto, os investidores parecem não acreditar mais nas promessas do governo. Especialmente os estrangeiros.

O leilão das Notas do Tesouro Nacional (NTN) tipo F, o chamado “papel do gringo”, ocorrido poucas horas após a reunião de Lula com os banqueiros, teve as maiores taxas de juros do ano e um volume menor do que a média. 

Um sinal que mostra como os investidores internacionais só aceitam comprar títulos da dívida brasileira se oferecerem taxas de juros elevadas.

Menos impostos, presidente

Durante a reunião, os banqueiros apresentaram um pedido para o presidente Lula: repensar o aumento da carga tributária que vai pesar sobre o setor.

Dirigentes de bancos privados e da Febraban sugeriram que o governo busque solução alternativa ao aumento das alíquotas da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) das empresas.

Segundo os banqueiros, o aumento das alíquotas pressionará o custo do crédito.

O aumento das alíquotas pressionará o custo do crédito | Foto: Shutterstock

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Milionários no alvo do Planalto

O governo está determinado a criar um imposto mínimo para pessoas físicas que ganhem mais de R$ 1 milhão por ano. Segundo um estudo do banco Santander, a criação desse novo imposto, com uma alíquota efetiva de 12%, teria um potencial arrecadatório anual de cerca de R$ 40 bilhões.

Todavia, a arrecadação deverá ficar em R$ 20 bilhões, por causa do planejamento tributário. Um montante insuficiente para cobrir o rombo de R$ 45 bilhões nos cofres públicos provocado pela isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês.

Atualmente, somente 250 mil contribuintes ganham acima de R$ 1 milhão anuais.

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Compra da Gol pela Azul: agora vai?

A negociação para a compra da Gol pela Azul, antecipada por esta coluna em abril, estaria começando a se concretizar.

Fontes internas das duas companhias aéreas informaram que, assim que os acordos com os credores e os arrendadores forem concluídos, as negociações para a fusão voltarão a ocorrer.

Em nota, as duas empresas negaram que algo tivesse sido fechado. Mas as aéreas estão preparando seus balanços para a operação. A Azul deverá receber recursos de grupos americanos, enquanto a Gol está renegociando sua dívida e espera sair da recuperação judicial no começo de 2025.

A negociação para a compra da Gol pela Azul estaria começando a se concretizar | Foto: Shutterstock

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Governo socorre as aéreas (com dinheiro dos contribuintes)

O governo decidiu socorrer as companhias aéreas com um pacote de R$ 4 bilhões do Fundo Nacional da Aviação Civil (FNAC).

O projeto de lei enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional prevê um socorro bilionário às empresas, que estariam em dificuldades financeiras desde a época da pandemia de covid-19.

As companhias alegam que não recuperaram ainda os patamares de passageiros pré-coronavírus. E duas das três maiores aéreas brasileiras, Gol e Latam, já pediram recuperação judicial nos Estados Unidos.

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Petrobras vai investir menos

A Petrobras vai reduzir os investimentos planejados para 2025.

Apesar dos pedidos do governo para que a estatal aumente o Capex, a previsão é que sejam realizados investimentos de US$ 21 bilhões, que poderiam cair para US$ 17 bilhões em caso de conjuntura desfavorável.

A estatal vai priorizar projetos que precisem de menos investimentos e entreguem retornos maiores e mais rápidos. Também há planos para abrir novos poços de petróleo e gás.

Os números definitivos serão divulgados no dia 22 de novembro, durante a apresentação do Plano Estratégico para o período 2025-2029.

Uma redução dos investimentos da Petrobras é um problema para o governo Lula, que conta com os recursos da estatal para implementar o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que, segundo o Planalto, deveria chegar a R$ 1 trilhão (cerca de US$ 190 bilhões).

Empresário Petrobras
Uma redução dos investimentos da Petrobras é um problema para o governo Lula | Foto: André Motta de Souza/Agência Petrobras

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Hotel BTG

O BTG Pactual aumentou ainda mais sua presença no setor hoteleiro com a compra dos negócios brasileiros da rede francesa Accor.

Os fundos geridos pelo banco pagaram R$ 1,7 bilhão para adquirir um portfólio de 18 imóveis. Entre eles, o hotel Fairmont e o antigo Caesar Park, ambos no Rio de Janeiro. O BTG se limitou a adquirir os imóveis, e a operação hoteleira vai continuar sendo realizada pela Accor.

Com essa transação, o BTG Pactual se torna o maior dono de hotéis do Brasil, controlando 54 imóveis destinados à hotelaria e mais de 5 mil quartos.

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BTG Vasco

O BTG Pactual estaria negociando um financiamento de R$ 165 milhões ao Vasco.

A operação se enquadraria nos preparativos da recuperação judicial. O crédito seria concedido no modelo Debtor in Possession (DIP) por um prazo de dois anos e seis meses e terá juros de CDI mais 11,5% ao ano.

A garantia serão ações da SAF do Vasco que representam o controle do clube. O que inclui 20% das ações detidas pela Associação Club de Regatas Vasco da Gama (CRVG) já desembaraçadas e outros 39% das ações que fazem parte do litígio societário com a 777 Partners.

O BTG também terá como alienação fiduciária os direitos econômicos decorrentes dos direitos de arena, incluindo direitos futuros de transmissão e do uso do estádio São Januário, seja para jogos de futebol, shows, seja para quaisquer outros eventos que gerem receitas à SAF, bem como venda de atletas e de material esportivo.

O BTG Pactual estaria negociando um financiamento de R$ 165 milhões ao Vasco | Foto: Matheus Lima/Vasco

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Novo presidente da ANP

O novo diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) deverá ser Pietro Mendes, atual secretário do Ministério de Minas e Energia (MME). A indicação de seu nome está na Casa Civil e deverá ser divulgada nos próximos dias.

Além de secretário do MME, Mendes é presidente do Conselho de Administração da Petrobras, cargo ao qual terá que renunciar se sua indicação for confirmada.

O atual diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, encerra seu mandato em 22 de dezembro.

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Minha Casa, Minha Vida bombando

O governo autorizou a contratação de propostas para a construção de 16,5 mil novas moradias do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) em 21 Estados.

Segundo as portarias publicadas no Diário Oficial da União, 11.203 unidades serão construídas para atender beneficiários do programa que moram em áreas rurais, 3.094 moradias serão contratadas na modalidade urbana, financiada pelo Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), enquanto outras 2.203 unidades entrarão na modalidade Entidades, bancada pelo Fundo de Desenvolvimento Social (FDS).

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O inimigo agora é outro?

Para acelerar a fusão, as gigantes do setor de pets Petz e Cobasi estariam tentando convencer o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de que seus maiores concorrentes seriam marketplaces internacionais, como Mercado Livre, Shopee e Alibaba.

Todavia, dificilmente o órgão deverá aceitar essa tese, pois menos de 1% das vendas de produtos destinados a pets passam por essas plataformas.

A fusão entre Petz e Cobasi deverá criar um gigante de 494 lojas, com uma receita bruta anual de R$ 7 bilhões.

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A revolução da Asaas

Encontrar em um único lugar tudo que uma empresa precisa para tocar o seu negócio. Essa foi a ideia que levou à criação da fintech Asaas, empresa de Joinville (SC) que já superou R$ 1 bilhão em aportes desde sua fundação, em 2014.

A última rodada com os investidores atraiu R$ 820 milhões, graças ao interesse de um grupo de venture capitalists liderados pela americana BOND, gestora de São Francisco.

“Estamos vivendo um momento de expansão muito relevante. Nossa marca está se tornando uma referência no mercado onde atuamos. E estamos consolidando nossa oferta de produtos, principalmente da conta PJ”, explica a Oeste Piero Contezini, cofundador e CEO da Asaas.

Hoje a fintech atua principalmente com gerenciamento de cobranças, antecipação de recebíveis e automação de processos de contas a pagar, tem 170 mil clientes ativos, mais de 700 colaboradores, um crescimento de cerca de 60% ao ano e deve faturar R$ 400 milhões em 2024.

Piero Contezini, cofundador e CEO da Asaas | Foto: Divulgação

Entretanto, Contezini está de olho na conjuntura econômica do Brasil, que poderia afetar o crescimento da empresa. “Alta de impostos, Selic em dois dígitos e dúvidas sobre a estabilidade das contas públicas podem prejudicar todo o mercado”, explica.

Confira os melhores trechos da entrevista com o cofundador e CEO da Asaas.

Como está o atual momento da empresa?

Estamos vivenciando um bom período. O crescimento continua acelerado, e hoje movimentamos em nossas plataformas cerca de R$ 41 bilhões por ano. Um valor um pouco maior que o produto interno bruto de Joinville. Estamos investindo muito para manter essa trajetória positiva. Somente em marketing, já investimos mais de R$ 40 milhões para expandir o posicionamento da empresa em todo o país. E ainda temos muito para crescer.

Quais são as perspectivas futuras da Asaas?

Estamos atuando em um segmento muito promissor, o de pequenas e médias empresas. Temos um mercado potencial de 5 milhões a 7 milhões de empresas que poderiam se tornar nossos clientes. Em 2026, já queremos ter pelo menos 1 milhão de clientes. Temos uma série de desafios, mas o trabalho está indo no caminho certo. Todas as semanas expandimos nossa linha de produtos. E estamos projetando uma abertura de capital na Bolsa de Valores para 2028. Mas, antes, queremos chegar a pelo menos R$ 1 bilhão de receita. E já estamos testando a inteligência artificial para deixar nossas soluções ainda mais eficientes e performantes para nossos clientes.

Fintech Asaas, empresa de Joinville (SC) que já superou R$ 1 bilhão em aportes desde sua fundação, em 2014 | Foto: Divulgação

Qual é o segredo para continuar crescendo?

Testar, testar e testar. Sempre procurar novidades. A inovação é nosso mantra. Somos fanáticos por fazer testes. Transformamos a empresa em um gigantesco laboratório onde testamos produtos e preparamos lançamentos. Queremos continuar sendo a vanguarda da digitalização financeira para as pequenas e médias empresas.

Com tantas empresas como clientes, vocês tem o pulso da situação econômica brasileira. Qual é sua visão sobre a atual conjuntura do país?

O que percebemos é que, nos primeiros seis meses do ano, a economia foi bem ruim. Agora está dando uma acelerada, e poderá crescer mais do que se esperava no começo do ano. Mas temos a percepção de que a taxa básica de juros não está baixando, aliás, está subindo, por causa da inflação elevada. Se a Selic continuar nesse patamar ou superior, teremos um problema no mercado. Por exemplo, nunca se fechou tanta empresa no Brasil. Foram 2 milhões de empresas no ano passado. Isso poderá ocorrer novamente neste ano. Muito vai depender da estabilidade das contas públicas. Se o governo não conseguir fechar o orçamento no azul, teremos repercussões no mercado. Não é possível também aumentar ainda mais a carga tributária. O poder de compra das pessoas não vai aguentar. E o câmbio com o dólar será o primeiro indicador a disparar. Isso tudo poderia dar uma reversão a esse cenário.

Recentemente vocês passaram da bandeira Elo para a Mastercard. Como foi essa mudança?

Essa nova parceria tem muito a ver com a necessidade de entregar para nossos clientes produtos que funcionem no mundo inteiro da mesma forma que funcionam no Brasil. A Elo é uma marca nacional, de bancos brasileiros, alguns dos quais públicos. Mas, no final do ano passado, recebemos muitas reclamações de clientes que chegavam ao exterior e não conseguiam usar o cartão. Por isso decidimos mudar para a Mastercard. Além de fazerem uma oferta muito melhor, eles são aceitos pelos melhores bancos digitais do mundo.

Leia também “Funcionários do Banco Central estão comprando dólares”

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