Pesquisas recentes mostram que os meios culturais dos Estados Unidos reduziram significativamente a militância em torno de pautas identitárias nos últimos anos. As universidades, por exemplo, têm deixado de levar em consideração critérios de “minoria” para admitir estudantes. Já a imprensa tem citado menos chavões “progressistas”, como “privilégio branco” e “transfobia”. Além disso, nas últimas semanas, uma dúzia de tradicionais empresas norte-americanas — que empregam mais de 1 milhão de funcionários — anunciou publicamente que está abandonando as políticas de diversidade, equidade e inclusão, conhecidas pela sigla DEI. É o declínio da agenda woke, ao menos nos Estados Unidos.
As pautas identitárias floresceram nas últimas décadas e tiveram seu auge entre 2019 e 2020, especialmente depois da morte de George Floyd. Instituições e empresas foram sistematicamente pressionadas a criar cotas para contratar negros, principalmente pelo movimento racial extremista Black Lives Matter. Muitas companhias também aderiram a cotas para mulheres, homossexuais e transexuais, pressionados por ONGs ligadas a pautas da comunidade LGTB, como Human Rights Campaign (HRC).
Atualmente, contudo, pesquisas mostram que há menos entusiasmo da população norte-americana por temas raciais e sexuais. Uma sondagem recente da consultoria Gallup revela que, no começo deste ano, 35% das pessoas disseram que se preocupam muito com as relações raciais. Em 2021, esse índice era de quase 50%.
Pesquisas sobre discriminação sexual mostram um padrão semelhante, de queda nos últimos anos. A parcela de norte-americanos que considera o “sexismo” um problema muito ou moderadamente grande atingiu o pico de 70%, em 2018, depois do #MeToo — movimento criado para combater o assédio sexual e a agressão sexual, impulsionado por artistas de Hollywood. De acordo com uma pesquisa do centro de estudos Pew, esse número caiu para 57% em 2019.
Mídia e universidades
Recentemente, o jornal The Economist publicou um estudo sobre a frequência com que a mídia tem usado termos woke, como “microagressão”, “opressão”, “privilégio branco” e “transfobia”. A tendência também é de queda. O estudo verificou a frequência de 154 dessas palavras em publicações de seis jornais — Los Angeles Times, New York Times, New York Post, Wall Street Journal, Washington Post e Washington Times — entre 1970 e 2023. Em todos, exceto no Los Angeles Times, a frequência desses termos atingiu o pico entre 2019 e 2021 e caiu de lá para cá. “Privilégio branco”, por exemplo, apareceu cerca de 2,5 vezes para cada 1 milhão de palavras no New York Times, em 2020, mas em 2023 caiu para apenas 0,4 menções para cada 1 milhão de palavras.
Outro dado que chama atenção vem do jornal norte-americano Chronicle of Higher Education: 86 projetos de lei em 28 Estados dos EUA foram apresentados para coibir iniciativas de DEI nas universidades no ano passado. Ao todo, 14 se tornaram lei. “Em parte, o recuo das universidades foi ordenado por lei”, lembra o jornal, referindo-se à decisão de julho deste ano que considerou inconstitucional a política de cotas para negros em universidades norte-americanas. “A Suprema Corte proibiu ações afirmativas com base em raça no ano passado.”
As cotas ferem a igualdade prevista na 14ª Emenda à Constituição, decidiram os juízes do tribunal, por maioria, ao julgarem as políticas de cotas de Harvard e da Universidade da Carolina do Norte.
‘Go woke, go broke‘
Assim como no meio cultural, o setor empresarial, aos poucos, vai pondo fim à agenda woke. Aparentemente dispostas a enfrentar pressão dos patrulheiros do “politicamente correto”, companhias bilionárias anunciaram, desde agosto, que vão deixar de investir em ações contrárias ao que seu público-alvo deseja. Compõem essa lista a centenária Ford, com patrimônio líquido de US$ 42,8 bilhões; a fabricante de maquinário agrícola John Deere (US$ 19,5 bilhões); a fabricante de motocicletas Harley-Davidson (US$ 3,5 bilhões); e a longeva destilaria Jack Daniel’s, do grupo Brown-Forman, com patrimônio líquido de US$ 4 bilhões. Para tanto, esses conglomerados receberam um “empurrãozinho” de Robby Starbuck, cineasta conservador e influenciador do Tennessee. Por meio das redes sociais, o influencer começou uma campanha para expor integralmente as políticas de diversidade das empresas, de modo a mostrar para os consumidores e para os acionistas suas reais intenções.
Dois casos emblemáticos de 2023 serviram de lição para os entusiastas da agenda woke: a derrocada da Bud Light, que perdeu a liderança de 20 anos no mercado norte-americano de cervejas depois de exibir um comercial com a ativista trans radical Dylan Mulvaney, e o fracasso da agenda “progressista” da varejista Target.
E não para aí. Outras empresas de grande porte anunciaram publicamente o fim das políticas de diversidade, como a Polaris, gigante das motos de neve e veículos comerciais, com patrimônio líquido de US$ 1,2 bilhão; a fabricante de cerveja Coors (US$ 29 bilhões); a Stanley Black & Decker (US$ 9 bilhões); a Tractor Supply (US$ 2,15 bilhões); e a Indian Motorcycle (US$ 15,1 bilhões).
As companhias afirmam que não vão mais destinar dinheiro a eventos com a temática homossexual nem transexual. Além disso, pretendem destituir as equipes especializadas em contratar funcionários com base nas políticas de cotas. O que chama mais atenção, contudo, é o rompimento dessas empresas com o Índice de Igualdade Corporativa da Human Rights Campaign (HRC). Trata-se de uma pesquisa anual, usada para prestigiar as empresas que avançaram na agenda woke.
Um levantamento da HRC concedeu a 545 empresas a pontuação máxima no índice (100 pontos). A lista dos condecorados inclui a Ford, a Lowe’s e a Brown-Forman. A Tractor Supply e a John Deere, também agraciadas, fizeram 95 pontos.
Agora, as grandes corporações parecem menos dispostas a se arriscar no “go woke, go broke”, ou o popular “quem lacra não lucra”.
O que dizem as companhias
Há pouco tempo, algumas companhias mergulharam de cabeça na política de inclusão e diversidade. A John Deere, segundo o influenciador Starbuck, chegou a financiar um evento de orgulho LGBT para crianças de até 3 anos. Além disso, a empresa teria pedido que os funcionários listassem seus “pronomes preferidos” em todos os comunicados internos.
Outra empresa que “voltou à sanidade”, nas palavras de Starbuck, foi a Jack Daniel’s. No fim de agosto, a Brown-Forman, controladora da destilaria, anunciou que colocaria fim às políticas de diversidade e inclusão e aos patrocínios à causa LGBT. “O que a Brown-Forman estava fazendo era muito profundo”, disse Starbuck à Fox News. A controladora do Jack Daniel’s justificou que, desde 2019, quando aderiu à estratégia de diversidade e inclusão, “o mundo evoluiu, nossos negócios mudaram e o cenário legal e externo mudou drasticamente, principalmente nos Estados Unidos”.
A Harley-Davidson também adotou a mesma postura em agosto, depois que Starbuck informou publicamente que a companhia estava patrocinando shows de drag queens e promovendo as pautas de identidade de gênero. Algumas companhias, como a Lowe’s, justificaram o fim das políticas de inclusão com a decisão da Suprema Corte que considerou inconstitucional a política de cotas para negros nas universidades.
‘Não é cancelamento; é capitalismo’
“Extraímos as maiores concessões na história dos boicotes”, comemorou Starbuck, em agosto, quando as companhias começaram a anunciar publicamente o fim das políticas de diversidade. Já a Human Rights Campaign, que tinha um patrocínio vultoso da Tractor Supply, criticou a varejista por bajular “extremistas de extrema direita”.
“Isso não é tudo o que queremos, mas é um ótimo começo”, escreveu Starbuck, ao falar sobre os casos da Ford e da Lowe’s. “Agora, estamos forçando organizações multibilionárias a mudar suas políticas sem nem mesmo postar, apenas pelo medo de serem a próxima empresa que exporemos. Estamos vencendo e, um por um, vamos trazer a sanidade de volta à América corporativa.”
Para o influenciador, não se trata de cancelamento de empresas, mas de capitalismo. “A cultura do cancelamento ataca os indivíduos e destrói sua vida por causa de suas crenças”, escreveu Starbuck, no Twitter/X, no começo de agosto. “Não faço isso. Estou expondo corporações que usam nosso dinheiro para financiar uma ideologia contrária aos nossos valores. Não gastarmos mais nossos dólares lá não é cultura de cancelamento, é capitalismo.”
Em maio, antes da debandada registrada em agosto e setembro, um texto da articulista Emily Stewart no site Business Insider alertava para a mudança de posicionamento das empresas. “Elas estão sendo extremamente cautelosas ao opinar sobre os debates sociais e políticos do dia”, escreveu, na ocasião.
Philip Mirvis, psicólogo organizacional e pesquisador do Laboratório de Inovação Social da faculdade de empreendedorismo Babson College, disse que essa iniciativa visa a coibir a agenda woke. “Certamente, para as empresas, trata-se de ganhar dinheiro”, observou. “E, na lógica convencional, todas essas questões representam riscos.”
A cientista política Júlia Lucy, especialista em marketing e comunicação, pensa da mesma forma. Para ela, o abandono desse tipo de política ocorre justamente porque é incompatível com a finalidade das empresas, que é gerar dinheiro e riqueza. “O resultado financeiro se impõe sempre”, afirmou.
Segundo a especialista, o preenchimento de vagas por cotas raciais e de gênero leva a contratações erradas. “Muitas vezes, a pessoa não tinha o perfil para o cargo, não tinha as habilidades requeridas, mas acabou sendo contratada para cumprir a cota”, disse Júlia, ao argumentar que profissionais incapazes irão fracassar de qualquer maneira. “Percebeu-se que a pura diversidade não traz resultados, ao contrário do que os defensores desse tipo de política sempre repetiram.”
Outro problema, acrescenta Júlia, é a própria percepção que o cotista tem de si mesmo. “Quando o funcionário chega muito com essa perspectiva de grupo, ele não se reconhece como um indivíduo e tem menor disposição a colaborar com pessoas de outros grupos”, observou. “Porque essa rivalidade não vai diminuir no ambiente de trabalho. Não existe cultura organizacional que consiga reverter isso.”
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A pessoa deve ser contratada por ser séria e competente, não por ser branco, preto, amarelo, indio, gay ou trans. Da mesma forma, produtos devem ser adquiridos por serem de boa qualidade e bom preço, não porque a empresa fabricante é adepta da agenda woke
Enfim algumas empresas tiraram a agenda Woke de suas instituições,,o critério que dá certo é o da competência e bons resultados. Esse regime de cotas trazem prejuízo, não interessa a cor e ideologias.
A Toyota depois de anos como uma das empresas mais engajadas na cultura woke comunicou que vai abandonar todas as políticas que remetem a pautas identitárias, alegando diminuição nas vendas por fuga de compradores conservadores, é o capitalismo se impondo à realidade do mercado.
O brasileiro também precisa estar atento a estes movimentos das empresas. Principalmente, com relação a corrupção e esquemas escusos com o governo.
Como, por exemplo, as marcas do picareta Joesley Batista. Friboi, Seara, Minuano, e outras.
E, por outro lado, fomentar marcas competentes e comprometidas com o país, como existem tantas espalhadas pelo Brasil.
Empresas existem para gerar progresso através de seus produtos e/ou serviços.
Não é lugar para desenvolver ideologias que se mostram indesejadas pelos seus clientes e consumidores.
Quando aceito alguma cota estou me diminuindo como pessoa e como profissional.
Todo ser humano tem o direito de escolher o caminho que deseja seguir, mas não tem o direito de impor este caminho a quem não se interessa por ele.
Antes tarde do nunca. Espero que essa onda chegue por aqui o mais rápido possível.
A jumentada é internacional, ainda bem que está diminuindo nos EUA. Aqui no Brasil chega faz vergonha, tanta coisa urgente para se preocupar, como essa política surrealista, onde preto é branco e água é vinho. Com um governo imposto na fraude e uma justiça de bandidos ladrões mentirosos
e espero que isso também apareça no resultado da eleição lá, ou seja, que Kamala seja varrida para onde merece
Como disse Starbuck, parece estar havendo uma volta ao bom e velho critério da competência e do mérito para tratar funcionários e candidatos a.