Salva de palmas, abraços, cumprimentos, gritos de entusiasmo, mãos espalmadas em prece, pulos de felicidade, lágrimas de alívio e muita emoção. Parecia uma vitória por pênaltis da seleção brasileira numa final de Copa do Mundo. Assim foi a comemoração, nos estúdios da Rede Globo, do triunfo de Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
Neste domingo, 27 de outubro, o ambiente nas redações foi bem diferente. Depois da derrota acachapante da esquerda no pleito municipal, não houve espaço nem clima para festividades. Em vez de celebração, o que se viu na imprensa brasileira foram penosas buscas de justificativas para o fracasso.
Três apresentadoras da GloboNews se uniram num jogral para explicar por que Boulos não foi eleito. A primeira disse: “Ele apresenta uma melhora, ainda que discreta, mas contínua, em diferentes segmentos, mas em um específico: baixa renda. Ele começa a melhorar entre esses eleitores agora, a um dia da eleição”.
A segunda foi em frente: “Boulos parece ter acertado na campanha muito tarde. A rejeição dele também cai. Ele parece que encaixou a campanha, mas precisava de mais uma semana”. A terceira concluiu: “Uma fonte da campanha do Boulos que está acompanhando a gente falou exatamente esta frase: ‘Esse segundo turno é muito curto'”. E as três entoaram o refrão: Boulos não ganhou por falta de tempo.
De acordo com essa fantasia, o Palmeiras pode afirmar que perdeu o Mundial de Clubes para o Chelsea em 2022 porque o jogo não teve 15 minutos a mais de prorrogação. E Felipe Massa está liberado para dizer que só não venceu Lewis Hamilton na final da Fórmula 1 em 2008 porque faltou mais uma última volta. Haja criatividade.
Outros comentaristas preferiram uma tese igualmente inventiva. O PT perdeu, mas Lula ganhou. “O eleitor acha que o Bolsa Família é um direito adquirido, e ele está certo, mas é agradecido ao Lula por isso, não ao PT”, afirmou um dos caçadores de explicações sem pé nem cabeça. “Ele é leal ao Lula. E isso tanto é verdade que o eleitor do Lula vota no Nunes, não no Boulos. O compromisso dele é com o Lula.”
Uma das parceiras concordou: “Lula não entrou de cabeça nas campanhas. Isso foi uma estratégia, já que as campanhas não estavam fortes. Ele fazendo isso não sai como derrotado”.
Alguns jornais se consolaram com o que chamaram de “derrota de Bolsonaro”. Vistas por esse olhar, as urnas avisaram que o real perdedor da disputa foi o ex-presidente. Invencionice que inspirou manchetes publicadas no dia seguinte ao do pleito: “Candidato de Caiado bate nome de Bolsonaro”, “Pimentel vence sem apoio de Bolsonaro” e “Derrota de candidatos fiéis a Bolsonaro expõe racha entre pragmatismo e ideologia no PL”.
“A questão é que não só Bolsonaro optou por ficar nichado, como, ao fazer essa opção pelo nicho mais vocal de suas ideias, ele desgastou aliados”, observou uma jornalista, sem fornecer nenhuma pista do que seria um “nicho vocal”. “Ele evitou a vitória importante do PP em João Pessoa, evitou vitória do Progressistas em primeiro turno em Campo Grande e fez com que aliados do Republicanos ficassem chateados”.
A velha mídia também tentou espalhar que a vitória de Ricardo Nunes deve ser atribuída exclusivamente a Tarcísio de Freitas. Nenhum veículo registrou que o vice do prefeito reeleito foi uma indicação direta de Bolsonaro nem que o governador não perde nenhuma oportunidade de dizer que só existe politicamente graças ao ex-presidente.
Outra novidade nos jornais e programas de televisão foi o surgimento da “direita” e da “centro-direita. Até a véspera da eleição, qualquer político que não fizesse coro com o consórcio era imediatamente anexado à extrema direita.
“O centro, a centro-direita e a direita controlam a maior parte das capitais brasileiras e das cidades”, teorizou um dos analistas. “Este é um alerta para a extrema direita: onde a direita e a centro-direita deram certo foi onde o candidato conseguiu levar um discurso mais moderado.” Outro comentarista estatizado garantiu: “Existe vida inteligente na direita fora de Bolsonaro”.
Enfim apontado como o representante do que seria a direita moderada, Ronaldo Caiado submeteu-se ao calvário que nunca tivera chance de conhecer. Fez escalas em várias redações para avalizar a teoria da “direita dividida” e da derrota de Jair Bolsonaro.
(Um fato ignorado pelos integrantes do consórcio: fundador da União Democrática Ruralista, a UDR, Caiado foi o único dos 22 candidatos que disputaram a eleição presidencial de 1989 assumidamente de direita.)
Na GloboNews, o governador de Goiás fez dobradinha com o ministro Paulo Pimenta. Sem explicar direito como chegou a tal conclusão, o petista gaúcho afirmou: “O grande recado das urnas foi a derrota da extrema direita. O governo sai fortalecido desse processo”. Segundo o deputado, o PT perdeu, mas ganhou.
Ironicamente, uma das conclusões mais sensatas extraída do resultado das eleições foi formulada por Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais: “O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas ainda não saiu do Z4 em que entrou em 2016 nas eleições municipais”. No Campeonato Brasileiro de Futebol, Z4 é o grupo que reúne os quatro times ameaçados de cair para a Série B. As urnas deram o recado: o rebaixamento da esquerda é questão de tempo.
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Excelente texto! Análise perfeita !
Quem ganhou foi os outros ladrões do centrão que estavam reclamando do quinhão que tem direito no país do terrorismo nazismo fascismo ladruismo narcotraficanteismo banditismo assaltantismo e etc uismo
Acho que Jair Bolsonaro tem chance em 2026 somente com reforma no sistema eleitoral.
Caso isto não ocorra, serão mais viáveis nomes como Tarcísio, Zema e Caiado.
Pois é Branca, já que Bolsonaro perdeu, esses poderosos jornais poderiam sugerir ao TSE do Alexandre de Moraes que torne Bolsonaro elegível para ai sim consagrarem sua derrota. Mas, poderão se surpreender. Agora, se Bolsonaro inelegível, Caiado só terá alguma chance se tiver o apoio de Bolsonaro. Penso que não terá.
Tentar explicar o resultado das urnas nas eleições municipais de 2024 para um esquerdista doutrinado é missão impossível.
Irão continuar no discurso sem pé nem cabeça até o PT voltar a ser sindicato, mais um entre os 17 mil existentes no país que não contribuem para nada.
As “analistas” da GloboNews foram hilárias e ridículas ao mesmo tempo. E quase morri de vergonha por elas.
Hoje nada na revista está dando certo. Nem os vídeos.
Ou será o meu celular?
Consegui assistir aos vídeos!
Comigo tudo certo!
A sensação que temos é que há muito tempo, a imprensa brasileira deixou de contratar jornalistas, para contratar marqueteiros.
Ou… militantes!
Marketeiros militantes!
Creio q marketeiros de verdade fariam seu trabalho independentemente do espectro político de seus clientes
Eu não consigo assistir essa emissora ridícula, militante e recalcada, por mais de 30 segundos que começo a ficar com raiva, por isso nem sei mais quem é quem naquele lixo.