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Kamala Harris embarca no Força Aérea Dois, a caminho de Milwaukee, no Aeroporto Internacional do Condado de Oakland, em Waterford Township (21/10/2024) | Foto: Jacquelyn Martin/Reuters
Edição 243

A mágica falhou

Bota um especialista dizendo que o povo não sabe votar e que houve conluio com a Rússia

Guilherme Fiuza
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— É, acho que deu ruim.

— Calma, tá cedo ainda.

— Você acha que dá pra virar?

— Claro. A mágica tá com a gente.

— Tá demorando a fazer efeito dessa vez.

— Deixa de ser ansioso. Eles vão dar um jeito.

— Enquanto isso o que a gente faz?

— Vamos continuar noticiando o cenário indefinido e a força da alegria contra o ódio.

— Ok. Que tal dizermos que a Marina Silva está cotada para ser a autoridade climática da Casa Branca?

— Acho muito. Vamos por uma linha mais conservadora.

— Vou ver então o que o De Niro tá falando e botamos uma frase forte no ar.

— De Niro tá calado.

— Caramba, aí fica difícil. E a Beyoncé?

— É “Beyônce”, que fala.

— Ah, tipo “Kâmala”?

— Exatamente.

— Tá. Onde é o showmício da Beyônce? Vamos dar uma alegrada nessa cobertura.

— Não tem showmício. Tá todo mundo quieto.

— Putz… O que houve com essa gente bonita? Bom, escolhe aí um Estado importante onde a apuração esteja mostrando uma tendência pro nosso lado. Vamos passar um clima de esperança.

— Não tem.

— Não tem o quê?!

— Nenhum Estado importante tá com uma tendência clara pro nosso lado.

— Porra, não é possível. Cadê a mágica?

— Sei lá.

— Cadê os mortos?

— Acho que estão desanimados dessa vez.

— Aí não dá! Nem com os mortos a gente pode contar mais?

— É, acho que faltou um discurso mais inclusivo.

— E as cédulas noturnas pelo correio? E o eleitorado sem identidade?

— Pois é, nada tá sendo suficiente.

— Mas ainda falta chegar os votos do Nordeste.

— Nos EUA não tem Nordeste.

— Claro que tem. Todo país tem Nordeste.

— Bom, não adianta especular. Vamos fazer a nossa parte. Bota aí um especialista no ar dizendo que a eleição tá pau a pau, como indicavam as pesquisas.

— Não vai dar.

— Por quê?

— Já era.

— Como “já era”?!

Game over. Fim de papo.

— Perdemos?

— Perdemos. E agora? O que a gente bota no ar?

— Bota um especialista dizendo que o povo não sabe votar e que houve conluio com a Rússia.

— Mas é pra dizer que a culpa foi do povo ou da Rússia?

— Sei lá, querido. Resolve aí. Joga uma moeda pro alto.

— Tá. Tem que ser de dólar ou pode ser de real?

Kamala Harris reconhece a vitória na eleição presidencial dos EUA de 2024 do presidente Donald Trump, na Universidade Howard, em Washington (6/11/2024) | Foto: Hannah McKay/Reuters

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