Ser um agente penitenciário é um trabalho difícil. Ninguém que segue a carreira de vigiar condenados acha que vai ter uma vida fácil. No entanto, sem dúvida as agentes penitenciárias estão no seu direito de esperar nunca ter de lidar com ameaças de estupro vindas de homens durante o trabalho. Na verdade, elas não deveriam ter que se deparar com homens, já que trabalham no setor feminino, certo? Bom, é inacreditável, ou talvez não, mas existem acusações de que exatamente isso, essa coisa inconcebível, tenha acontecido em uma prisão na Irlanda no ano passado: uma funcionária foi supostamente ameaçada de estupro.
Esta é a notícia: a “Barbie Kardashian” está de volta ao tribunal. Trata-se de um rapaz irlandês de 22 anos, cujo nome verdadeiro é Gabrielle Alejandro Gentile, que se disfarça de mulher e é conhecido por usar maquiagem extravagante e roupas estranhas. No ano passado, ele foi considerado culpado na Circuit Criminal Court de Limerick por ameaçar estuprar e assassinar sua mãe, e foi condenado a cinco anos e meio de prisão. Mas fica pior: “Kardashian” foi mandado para a área feminina da prisão de Limerick. Um homem que ameaçou praticar a violência sexual mais hedionda contra a própria mãe foi preso com mulheres vulneráveis. Insano é pouco.
Depois de um protesto, ele foi transferido para a ala masculina. Mas há alegações de que, enquanto estava com as mulheres, “Kardashian” fez coisas terríveis. Ele está sendo julgado na Circuit Court de novo, desta vez por suposta ameaça de estupro a Róisín Linnane, a diretora da prisão. Linnane alega que “Kardashian” disse que a agrediria sexualmente com um “instrumento”. “Nunca tive medo de um prisioneiro antes, mas nesse caso temi pela minha segurança”, declarou ela ao tribunal, em meados de outubro. Uma detenta, Tegan McGhee, afirma que também foi ameaçada. “Não me esqueci de você. Vou estuprar você”, “Kardashian” teria dito a ela.
“Kardashian” nega as acusações e, claro, deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. No entanto, um crime foi definitivamente cometido. E foi cometido pelo Estado irlandês. A decisão doentia de colocar a “Barbie” na ala feminina, de prender com mulheres um homem que sonhava em cometer violência contra uma mulher, foi um crime contra a decência. Foi um crime contra a razão. Foi um crime contra os direitos das mulheres — sim, até mesmo as mulheres encarceradas devem ter o direito de não viver lado a lado com homens de índole violenta. Pessoalmente, eu arrastaria as elites irlandesas para o banco dos réus, sob a acusação de sacrificar a dignidade das mulheres da Irlanda no altar de seu absurdo sistema de crenças pós-científicas, que diz que você pode ter um pênis e ser uma mulher, e que qualquer um que diga o contrário é um canalha preconceituoso.
O direito das mulheres de não serem estupradas
Está na hora de falar sobre colocar homens que se disfarçam de mulher em prisões femininas. Nada resume melhor a loucura da cultura woke, a lama da misoginia e do relativismo moral que todos nós somos obrigados a atravessar, do que isso. Do que a prisão de homens violentos em espaços fechados com mulheres problemáticas. Do que a prisão de mulheres que estão apenas tentando cumprir suas penas com homens que agrediram, estupraram e até mesmo assassinaram mulheres. Do que a punição cruel e inusitada — pois é disso que se trata — de não apenas prender mulheres que cometeram delitos, mas também forçá-las a viver com medo de homens que fizeram coisas indescritíveis com mulheres. A sociedade medieval punia as mulheres “más” atirando frutas nelas, esquivando-se delas ou amarrando-as a estacas; agora nós as punimos forçando-as a ficar em uma cela com um estuprador.
Sim, até mesmo estupradores foram colocados em prisões femininas. As pessoas devem se lembrar do caso inacreditável de Isla Bryson — nome verdadeiro: Adam Graham —, que foi condenado por estuprar duas mulheres e mandado para a HM Prison Cornton Vale, em Stirling, a única prisão da Escócia exclusiva para mulheres. Depois, houve Karen White (Stephen Wood), um predador condenado por estuprar mulheres e cometer atos de indecência grave com uma criança. Ele disse que é mulher, o sistema judiciário acreditou e, por isso, Wood foi levado para New Hall, em West Yorkshire, uma prisão exclusiva para mulheres. Enquanto esteve lá, ele agrediu sexualmente duas detentas. Esse é o saldo da cultura woke, em que a sociedade agora prefere colocar as mulheres em grave perigo para não correr o risco de ofender a identidade delirante de um sujeito violento. Pelo jeito, seu “direito” de ser tratado como mulher se sobrepõe ao direito das mulheres de não serem estupradas.
Nos EUA, a situação é ainda pior. Vale lembrar do caso em Edna Mahan Women’s Correctional Facility, em Nova Jersey. Um homem verdadeiramente sádico que matou uma prostituta para satisfazer seu “fetiche por sangue” foi colocado nessa unidade correcional. Bom, ele diz que é mulher. Um homem condenado por usar um martelo para espancar até a morte uma mulher de 55 anos também foi colocado em Edna Mahan. Outra “mulher trans” que foi mandada para lá fez sexo com detentas e engravidou duas delas. Por cortesia do culto trans que coloca os sentimentos dos homens acima da segurança das mulheres, essa prisão está sendo “atormentada por transferências de homens violentos”, diz Genevieve Gluck, do site Reduxx, que falou sobre seu excelente trabalho contra a ameaça trans às detentas no meu podcast.
É sensato confinar homens violentos com mulheres?
Há muitos outros casos em todo o mundo supostamente civilizado de homens violentos sendo encarcerados com prisioneiras. É um espetáculo grotesco. Enquanto as feministas girlboss (“garota-chefe”) lutam pelo direito das mulheres de se tornarem membros do elegante e opulento Garrick Club em Londres, mulheres muito abaixo na escala social são obrigadas a viver com estupradores. E, muitas vezes, essas girlbosses — junto com todos os outros adeptos da opinião politicamente correta dos ativistas do século 21 — aprovam a própria ideologia da autoidentificação que gerou essa situação, em que até mesmo os estupradores que dizem “sou mulher” têm suas alucinações reforçadas e legitimadas pelo Estado. Bom, os piores impactos dessa ideologia são reservados às mulheres da classe trabalhadora que estão em apuros, então quem se importa? Só me deixe entrar no Garrick.
Não há incriminação maior para a classe dominante do que o fato de apenas uma pequena parcela dela, se é que existe alguém, ter parado para pensar: “É sensato confinar homens violentos com mulheres?”. As pessoas falam sobre a “loucura das multidões”, mas estou muito mais preocupado com a loucura das elites. Porque agora sabemos que essas pessoas estão tão embriagadas com a política identitária, tão empolgadas com as falácias desequilibradas da questão transgênero, que se contentam em colocar as mulheres em perigo, contanto que sua própria virtude política exagerada se mantenha intacta. Uma sociedade que permite que um homem que assassinou uma mulher com um martelo viva perto de outras mulheres é uma sociedade doente e perdida. Consertar esse terrível colapso da razão vai ser difícil e essencial.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
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