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Apoiadores de Donald Trump, durante comício de campanha em Greensboro, na Carolina do Norte (2/11/2024) | Foto: Sam Wolfe/Reuters
Edição 243

A vitória da contracultura

A eleição presidencial americana de 2024 foi uma prova do poder duradouro dos jovens eleitores em transformar cenários políticos

Ana Paula Henkel
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Mais de uma semana depois de uma das eleições mais importantes e espetaculares da história americana, os Estados Unidos analisam o fenômeno Trump e o tsunami vermelho que inundou o país de costa a costa. Enquanto os democratas seguem fazendo a autópsia da campanha de Kamala Harris e do caminho que o partido escolheu, agora é possível analisar com mais precisão onde e como Donald Trump virou um jogo que já dura oito anos.

Em meu artigo para Oeste da semana passada, explorei as similaridades entre as campanhas e governos de Ronald Reagan e Donald Trump — por mais que isso possa parecer algo improvável de ser testemunhado, elas existem e são gritantes. Dos slogans às políticas governamentais, os dois republicanos, embora muito diferentes na entrega da mensagem, fizeram conexões orgânicas e preciosíssimas com um eleitorado que vai além de suas bolhas partidárias.

E, mergulhando nos detalhes deste histórico pleito, não é difícil atestar que a eleição presidencial americana de 2024 foi uma prova do poder duradouro dos jovens eleitores em transformar cenários políticos. Muitas vezes vistos como idealistas ou desorganizados, os movimentos juvenis historicamente desafiaram expectativas, mobilizando-se em torno de causas que redefinem o discurso político de sua época. Neste ano, mais uma vez, os jovens emergiram como uma força decisiva, inclinando a balança em uma eleição marcada por desafios nacionais e globais. E, mais uma vez, basta olhar o impacto profundo de sua participação na Era Reagan para entender que a ligação entre Ronald e Donald vai muito além das campanhas e da administração da Casa Branca.

Apoiadores de Donald Trump, durante comício no Centro de Convenções do Condado de Palm Beach, em West Palm Beach, na Flórida (6/11/2024) | Foto: Brian Snyder/Reuters

A eleição presidencial de 1980 trouxe Ronald Reagan ao poder em um momento de estagnação econômica, tensões internacionais e desilusão generalizada após a Guerra do Vietnã. De forma impressionante, a campanha de Reagan conseguiu capturar a imaginação dos jovens eleitores, apesar de sua plataforma conservadora. Sua mensagem de esperança, renovação e força ressoou com uma geração ansiosa para superar a letargia dos anos 1970. Muitos, em uma maioria silenciosa, não queriam fazer parte de uma cultura depravada de “sexo, drogas e rock’nroll” oferecida na época.

A capacidade de Reagan de envolver os jovens não foi acidental. Sua retórica de “é manhã na América novamente”, que ficou eternizada em comerciais e discursos, e seu foco em oportunidades econômicas deram aos jovens um senso de propriedade no futuro do país. Além disso, sua posição de reduzir a interferência governamental alinhava-se ao ethos contracultural da liberdade pessoal, um valor apreciado por muitos americanos jovens. Essa conexão contraintuitiva — onde um candidato conservador conseguiu dialogar com uma demografia jovem, muitas vezes associada a ideais progressistas — destacou o poder político de moldar mensagens em torno de aspirações compartilhadas, em vez de divisões ideológicas.

No entanto, por trás dessa participação, havia um toque de rebeldia. Muitos jovens eleitores da Era Reagan estavam rejeitando a estagnação política e os fracassos percebidos da geração de seus pais. Ao abraçarem Reagan, eles sinalizavam um rompimento com a dominância progressista dos anos 1960 e 1970 — uma forma de contracultura que rejeitava a narrativa predominante de dependência do governo e cabresto nas decisões pessoais.

Poder coletivo

Os caminhos até 2024 apresentam semelhanças impressionantes em alguns aspectos. Hoje, os jovens enfrentam uma série de desafios: uma agenda woke irreal, incertezas econômicas, desigualdades sociais e os efeitos persistentes de uma pandemia global que colocou muitos jovens na depressão. Mesmo diante de profundas desesperanças, assim como os jovens da Era Reagan, eles se recusaram a permanecer em silêncio. A eleição deste ano testemunhou uma das maiores participações de jovens eleitores na história recente, um testemunho de sua crescente conscientização sobre seu poder coletivo.

O que distingue a juventude de hoje, porém, é o caráter abertamente rebelde de seu engajamento político. Seus votos não foram simplesmente depositados, mas utilizados como uma arma contra a complacência e a injustiça, contra a cultura do cancelamento e da incerteza. Em um sistema político frequentemente criticado por servir a interesses arraigados, os jovens eleitores tornaram-se uma força disruptiva, desafiando normas e pressionando os líderes a abordarem questões negligenciadas nos últimos anos.

Em 1980, os jovens eleitores contribuíram para um realinhamento político sísmico, ajudando a consolidar a identidade do Partido Republicano como uma força de liderança forte, pró-negócios, pró-liberdade, pró-trabalhadores. A vitória de Reagan sinalizou uma mudança que influenciou a política americana por décadas. Da mesma forma, a eleição de 2024 revela o potencial para um novo realinhamento impulsionado pelo ativismo juvenil.

Presidente Ronald Reagan com Mary Lou Retton e a equipe olímpica dos Estados Unidos de 1984, no The Century Plaza Hotel, em Los Angeles, Califórnia (13/8/1984) | Foto: Domínio Público

Os jovens eleitores de hoje se mostraram declaradamente contraculturais, muitas vezes rejeitando tanto as ideologias rígidas dos partidos tradicionais quanto as tentativas superficiais de atrair sua atenção sem abordar suas reais preocupações. Essa evolução espelha a lição da Era Reagan: os jovens não são um bloco homogêneo. Eles não se movem por lealdades partidárias, mas pela promessa de mudança significativa.

No fundo, o papel dos jovens nas eleições é inerentemente contracultural. Tanto na Era Reagan quanto hoje, seu engajamento desafiou estereótipos de apatia ou radicalismo, estabeleceu conexão com o passado para proteger o futuro. Ao votarem em números recordes, eles desafiam o status quo, a agenda progressista de divisão, escravidão ideológica e demonização dos homens e da América. As meninas, exaustas do atual feminismo que oferece apenas briga com o sexo oposto, abortos à vontade e um futuro sombrio e solitário, aparecem também em massa nos vídeos que viralizaram nesta semana celebrando a vitória de Trump.

Os paralelos entre a Era Reagan e hoje nos lembram da natureza cíclica da história. Jovens eleitores, antes descartados como politicamente ingênuos, demonstraram repetidamente sua capacidade de redefinir o discurso. Seja pela promessa de renovação de Reagan, seja pelos clamores por justiça de hoje — muitos viram uma perseguição implacável nas dezenas de processos abertos contra Trump —, essa influência é inegável.

Separadas por 40 anos, as gerações agora se encontram em uma veia de rebeldia — seja rejeitando a ortodoxia progressista dos anos 1970 para abraçar o conservadorismo de Reagan, seja enfrentando a inércia política e a agenda identitária até 2024.

A corrente vermelha

A suposição de que Trump representava uma anomalia que seria finalmente relegada ao monte de cinzas da história foi levada embora na terça-feira, 6 de novembro, por uma corrente vermelha que varreu os estados-pêndulo e a compreensão da América há muito nutrida por sua elite governante de ambos os partidos. E os jovens tiveram uma pesada contribuição nisso.

establishment político não pode mais descartar Trump como uma pausa temporária na “longa marcha do progresso”, um acaso que de alguma forma se esgueirou para a Casa Branca em uma vitória peculiar e única do Colégio Eleitoral há oito anos. Com sua vitória de retorno para recuperar a Presidência, o agora 47º presidente se estabeleceu como uma força transformadora, remodelando os Estados Unidos à sua própria imagem. E a “geração Z” caiu de amores pelo “malcriado do Twitter”.

Donald Trump
Presidente americano eleito, Donald Trump | Foto: Reprodução/@reladonaldtrump

Por mais que dezenas de milhões de eleitores ainda votem contra Donald Trump, ele mais uma vez explorou a sensação entre outros milhões fora das bolhas partidárias de que o país que eles conheciam estava desaparecendo, sitiado econômica, cultural e demograficamente. Os vídeos que viralizaram nesta semana com centenas de mulheres raspando a cabeça “em protesto” à vitória republicana mostram exatamente por que esse tsunami vermelho aconteceu. Ninguém aguenta mais essa loucura. Muito menos os jovens.

A vitória de Trump fala da profundidade da marginalização sentida por muitos jovens que acreditam que estão no deserto cultural há muito tempo e de sua fé na única pessoa que deu voz à sua frustração e à sua capacidade de centralizá-los na vida americana. Como disse o lendário Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone, em um de seus clássicos: “Não importa quão forte você bate, mas quanto você aguenta apanhar e continuar seguindo em frente. Quanto você consegue suportar e seguir em frente”.

O fato de que Trump foi capaz de se recuperar de tantas derrotas legais e políticas nos últimos quatro anos, qualquer uma das quais teria sido o suficiente para arruinar a carreira de qualquer outro político — ter sobrevivido a duas tentativas de assassinato —, foi uma prova de sua notável resiliência e desafio. E jovens honestos apreciam quem enfrenta todas as probabilidades de derrota.

Liderança, coragem e resistência

Essa revolução cultural não está restrita a adultos conscientes das batalhas políticas; ela encontrou eco até mesmo entre as crianças. Nos últimos anos, o Halloween, tradicionalmente dominado por fantasias de super-heróis e personagens fictícios, ganhou um novo protagonista: Donald Trump. Meninos e meninas saíram às ruas usando ternos, gravatas vermelhas e os icônicos bonés com a frase “Make America Great Again”. O que, à primeira vista, pode parecer apenas uma escolha divertida ou inusitada revela algo muito mais profundo. Essas crianças, muitas vezes influenciadas pelo que veem e aprendem em casa, estão adotando os valores de liderança, coragem e resistência que Trump representa. Ele não é apenas uma figura pública; para elas, ele é um herói real — alguém que desafiou o sistema e se manteve firme, mesmo sob intensa pressão. Alguém que levou um tiro, levantou e gritou com o punho cerrado: “Lutem! Lutem! Lutem!”.

Apoiadores de Donald Trump, durante campanha na Dorton Arena, em Raleigh, na Carolina do Norte (4/11/2024) | Foto: Jonathan Drake/Reuters

E esse impacto vai muito além das fantasias e ultrapassa os limites de uma celebração sazonal. Trump está moldando uma geração que, em vez de se dobrar ao progressismo, ao coitadismo, ao vitimismo, encontra nele um líder que defende a liberdade de pensar diferente, o mérito individual e o amor incondicional à pátria. 

Em um mundo onde se tenta desconstruir tudo que é tradicional, essas crianças e jovens, com suas escolhas aparentemente simples de fantasias, danças e músicas para referenciar Donald Trump, encontraram uma forma de se impor e mostrar que se recusam a ser moldados por narrativas que traem os valores que seus pais e avós defendem. Cada terno minúsculo e cada chapéu vermelho são um símbolo de resistência, um pequeno ato de coragem. Donald Trump não está apenas disputando ideias, ele está resgatando uma geração inteira — uma fantasia de Halloween por vez.

Ao olharmos para o futuro, as lições dessas eras são claras. Os políticos que subestimam o poder dos jovens eleitores o fazem por sua conta e risco. A vitória com direito a um triunfante retorno de Trump sinaliza um tipo diferente de país. 

Não adiantou o esforço dos democratas nos últimos anos em demonizar e desumanizar Trump e seus eleitores. No final, Donald J. Trump não é a aberração histórica que alguns pensavam que era, mas, sim, uma força transformadora que está remodelando os Estados Unidos modernos à sua própria imagem. Uma imagem que resgata no passado que “é manhã na América novamente”.

Leia também “A América sempre reage”

1 comentário
  1. Lauro Patzer
    Lauro Patzer

    Concordo com a Ana, o povo está cansado do discurso esquerdista, querendo impor conceitos ultrapassados sobre a economia, atacando valores clássicos da humanidade como a família, o gênero homem e mulher, aborto, apadrinhamento de criminosos… etc.

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