Ao menos três fatos nos últimos tempos comprovam que novos ventos sopram no mundo, indicadores de um novo ciclo político na América, sem o protagonismo da esquerda: a vitória maiúscula de Donald Trump nos Estados Unidos, o sucesso de Javier Milei na Argentina e o resultado das eleições municipais no Brasil — um massacre para o presidente Lula da Silva. A esquerda ficou sem votos e sem povo.
A aritmética eleitoral provou que a tal agenda woke — ou campo progressista, politicamente correto e demais sinônimos — não atende às necessidades reais dos pagadores de impostos. Mas não é só: revelou-se um movimento autoritário, disposto a tomar liberdades e perseguir quem não se dobra às suas “verdades”, com amplo apoio da velha mídia e dos autoproclamados intelectuais no mundo inteiro.
A surra nas urnas deixou parte dessa turma em parafuso. Algumas reações previsíveis surgiram nos últimos dias: em frangalhos (252 prefeituras pequenas), o PT afirmou que a democracia está mais em risco do que nunca por causa da extrema direita; também houve no partido quem sacou a manjada carta das “falhas na comunicação”; e até tentaram falar do perigo da volta de Jair Bolsonaro, mas logo surgiu a cortina de fumaça da vez. Em pleno novembro de 2024, a esquerda quer obrigar a sociedade a trabalhar menos, porque quem deve pagar a conta é o governo. Entrou em debate a legislação trabalhista do Estado Novo, assinada por Getúlio Vargas em maio de 1943, mas pela ótica da esquerda: em vez de se adequar ao novo modelo de mercado e ao avanço da tecnologia, a ideia é dobrar a meta dos benefícios trabalhistas de Vargas.
A redução da jornada de trabalho foi o tema da semana em Brasília, com a possibilidade de emplacar uma emenda para mudar a Constituição — o que parece dificílimo de passar no Congresso Nacional por causa do quórum alto (308 deputados e 52 senadores, em duas votações no plenário), às vésperas da eleição para a presidência das duas Casas.
Que se trata de uma pauta da esquerda, não restam dúvidas. A novidade foi que a iniciativa não partiu das centrais sindicais de sempre. A responsável, Erika Hilton (Psol-SP), é parlamentar dedicada às causas trans. Talvez nem conheça a base sindical da década de 1980 do PT ou tenha memória das greves no ABC Paulista. Provavelmente, o Psol foi escolhido o porta-voz, já que a própria autora afirmou em entrevista à GloboNews que não tinha ideia do provável impacto econômico do seu projeto. Tampouco o Psol, com 13 deputados, tem força para alavancar 308 votos da noite para o dia. Mas foi o suficiente para a imprensa tradicional tratar o tema como prioritário, com dezenas de especialistas falando por horas na TV, e deixar de lado a nomeação dos auxiliares de Donald Trump na Casa Branca ou reforçar o seu horror a Elon Musk, o assunto da vez no planeta.
Como na noite de quarta-feira, 13, um homem se suicidou em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) usando explosivos — talvez fogos de artifício, detonados também dentro de um carro estacionado —, é certo que isso igualmente será usado para pautar o noticiário por dias. As investigações ainda estão em curso. Mas, antes que a polícia do Distrito Federal se pronunciasse sobre o caso e confirmasse a identidade do cadáver estendido na praça, jornalistas e influenciadores digitais de esquerda culparam Jair Bolsonaro. O termo “bolsonarista” apareceu primeiro numa postagem da revista Veja, que depois o apagou. O repórter havia encontrado no Facebook do suspeito a informação de que ele concorreu ao cargo de vereador pelo PL nas eleições de 2020. Há, contudo, um erro crasso: o PL, de fato, é a atual sigla de Bolsonaro, mas não era em 2020 — ele filiou-se no final de 2021 para tentar a reeleição.
A GloboNews correu para anunciar um furo jornalístico naquela noite: a Polícia Federal abriu um inquérito a jato e o caso será conduzido no Supremo pelo ministro Alexandre de Moraes. O colega Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, foi além: disse que é possível anexar o episódio ao 8 de janeiro de 2023. O portal Metrópoles também já tinha um veredito: “Para ministros do Planalto, explosão no STF ‘enterra’ PL da Anistia”.
O advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, foi além. Menos de uma hora depois de as imagens do carro incendiado serem exibidas na TV, ele falou em ataque ao Supremo e à Câmara dos Deputados.
A culpa é do povo americano
No caso da eleição nos Estados Unidos, as redações se dividiram em dois grupos: os que optaram pelo silêncio — o programa dominical Fantástico, da TV Globo, por exemplo, dedicou um minuto e meio à vitória de Trump, a reportagem mais curta da noite — e os que esbravejam até agora contra o resultado. Uma das principais indignações dos articulistas é como os latinos, negros e LGBTs ousaram votar em Trump e não optaram pela democrata Kamala Harris. Além da histeria climática, algumas expressões reapareceram nas falas, como menções à pandemia de covid-19, “black lives matter” (“vidas negras importam”), “racismo estrutural” e “ambiental” etc. Um colunista do portal UOL escreveu que há uma atmosfera de medo entre LGBTs depois da vitória de Trump (veja abaixo).
O advogado André Marsiglia, especialista em liberdade de expressão e Direito Digital, escreveu sobre o tema no site Poder360. Ele afirma que não será surpresa se, nos próximos meses, comentaristas já abraçarem de vez o discurso de que a ameaça fascista ronda a América. “Comecem a notar que governo, mídia e o Judiciário passarão a sistematicamente dizer nos próximos dois anos que o Brasil não pode flertar com o perigo fascista que ronda a América. Quem for contra a ladainha será fascista e merecerá censura e silenciamento.”
Na Europa, ocorreu o mesmo: o britânico The Guardian anunciou que optou por abandonar a rede X, de Elon Musk, porque é um lugar “tóxico” para os seus jornalistas. O jornal afirmou em editorial que Musk é um “absolutista da liberdade de expressão” — em tom de absurdo, claro. “A campanha eleitoral presidencial dos EUA apenas reforçou o que considerávamos há muito tempo: que o X é uma plataforma de mídia tóxica e que seu proprietário, Elon Musk, tem sido capaz de usar sua influência para moldar o discurso político.”
Dependência do Judiciário
Pode ser prematuro declarar o fim da onda woke na América, assim como errou quem cravou o fim do PT no Brasil — como a própria imprensa antiga, que hoje mudou de lado, dizia na época do Mensalão e da Lava Jato. No caso da agenda woke, ela ganhou muita força na neurose da pandemia. Parece estar perdendo adesões porque uma parcela dos adeptos nas universidades amadureceu quando precisou pagar suas contas. Muitas empresas desistiram da cartilha porque as vendas caíram. A imprensa e a classe artística não pularam do barco, mas há sinais de que algo mudou: era impossível imaginar um artigo assinado por Jair Bolsonaro na Folha de S.Paulo, por exemplo; ou que a GloboNews passaria um mês inteiro sem falar da iminência da sua prisão por causa de joias, baleias e a delação bombástica do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid.
Já no caso do PT e dos cientistas sociais das ONGs e das páginas de jornais, o problema agora é outro: não há mais o discurso do vitimismo da era dos escândalos de corrupção do passado; não dá mais para culpar a Lava Jato; desta vez, quem bateu à porta foi o próprio fracasso em gerir políticas públicas e se atualizar ante as urgências das pessoas. A sociedade está mais preocupada com a inflação dos alimentos e a péssima gestão da saúde pública do que com “as minorias excluídas dos debates”. Não só o PT ficou para trás. Desta vez, seu braço mais identitário, como o Psol, também — a sigla não terá nenhuma prefeitura a partir de janeiro. Nada pode ser pior para esses grupos ideológicos do que o pesadelo da irrelevância.
Em Brasília, o governo Lula não tem base nominal no Congresso — de 120 a 130 votos na Câmara. Não reúne gente na praça. Tampouco há sinais de que isso vai mudar. É um projeto de poder pendurado exclusivamente do Supremo Tribunal Federal (STF). Qual tem sido a linha majoritária do Supremo nos últimos anos? Censurar, perseguir, multar e contribuir com a cartilha dos “cancelamentos” da esquerda. Quando o consórcio entre o STF, Lula e a mídia engajada se tornou uma realidade, o Brasil viveu uma escalada de prisões e censura.
Nesta semana, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou numa palestra que a Corte brasileira é capaz de impedir “qualquer ímpeto autoritário que venha de qualquer lugar do mundo”. Barroso parece ter se antecipado ao que vai acontecer na mídia em breve: “É uma nova ordem internacional em que há risco para o multilateralismo, em que há risco de vir uma nova onda autoritária. Nós precisamos resistir”.
O fato novo, pelo qual talvez esse consórcio de poder brasileiro não esperasse tão cedo, é a reprovação popular ao que ele prega — aqui e em todos os cantos do mundo. E isso aconteceu por meio do voto, dos fatos, à luz da democracia que eles dizem proteger.
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Não vou, em nenhuma circunstância abrir mão da minha liberdade.
Tenho o desejo de deixar para meus netos um país mais leve, livre e onde o povo possa exercer seu sagrado direito de concordar e discordar.
O meu horário de trabalho quem determina sou eu e ele é do tamanho das minhas pretensões. Se desejo mais conquistas terei que trabalhar mais. Se um programa bolsa qualquer coisa satisfaz minhas necessidades posso inclusive nem trabalhar.
Autoritarismo é o que a esquerda faz, tratando a todos como crianças que devem ser impedidas de “ler certas coisas” porque não têm a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Autoritarismo é censurar-nos de acessarmos portais de notícias e de nos exprimirmos livremente. Fascismo é achar que só tem um jeito certo de viver: aquele de acordo com a cartilha da esquerda. Ninguém pode pensar nada diferente deles: precisaríamos ser 300 milhões de brasileiros todos pensando igual! Que vida é essa que pretendem?