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Carro da Polícia Militar do Rio de Janeiro, durante patrulha no bairro de Copacabana (10/12/2023) | Foto: Shutterstock
Edição 243

Bruxas rondando

Parece um plano para enfraquecer o Brasil, enfraquecendo a estrutura da nação

Alexandre Garcia
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Mesmo com toda a segurança para o G20, assaltantes de moto, armados, levaram o carro do ministro secretário-geral da Presidência da República, Márcio Macedo, na madrugada de quinta-feira, na Lapa, centro do Rio de Janeiro, não muito longe do local que vai receber as mais altas autoridades de 20 países. O carro foi levado para o Complexo da Maré, um dos santuários do crime da ex-capital do Brasil. Na capital, na Praça dos Três Poderes, um chaveiro de 59 anos lançava bombas barulhentas, mas não destruidoras, contra o prédio do Supremo, para depois explodir a própria cabeça.

Carro da comitiva do ministro Márcio Macedo encontrado perto da Maré, após roubo no Rio de Janeiro | Foto: Reprodução

Uma semana antes, quem chegasse ao Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos descobriria que havia desembarcado num país que não soube lidar com o crime. Entre nós, brasileiros, no entanto, para saber disso não foi preciso o assassinato a tiros de fuzil na saída do maior aeroporto do Brasil. Está na cara de todos nós, há décadas, mas não reagimos. Nossos representantes políticos não agem diferente de nós. Para fingir que fazem alguma coisa, anunciam medidas ilusórias, de propaganda. Vão anunciando programas, intervenções superficiais e transitórias, mas tudo fica só na demagogia. As leis lenientes continuam as mesmas, a mídia continua induzindo o povo a ficar contra a polícia, e os assaltantes, traficantes e contrabandistas continuam sendo muito bem tratados pelas audiências de custódia e voltam às ruas para assaltar e matar. A impunidade infla a cultura da transgressão da lei, e a corrupção é premiada com ausência de castigo. Figurões da Lava Jato, ativos e passivos, vão sendo anistiados de fato por um tribunal cujo presidente já antecipou que é contra a anistia para manifestantes do 8 de janeiro.

O crime já tem há décadas áreas fora da soberania do Estado nacional no Rio de Janeiro e agora se expande na Amazônia e nas grandes cidades. Na Amazônia, a repressão federal mira brasileiros pobres e trabalhadores, que plantam e criam gado, enquanto o tráfico vai cominando. Não é de hoje, vem de muitas décadas, desde a existência de autoridade sob mesada do jogo do bicho. E todos fomos induzidos, pela mídia e intelectuais, a pensar que isso é natural. Juntam-se a fraqueza e ineficácia das leis à fraqueza e ineficácia dos que representam o Estado, em seus três níveis e seus três Poderes. E a sabedoria popular, que tudo observa, pelos capilares do Estado, sabe quem vende sentença, quem recebe propina do crime, quem facilita, quem está infiltrado. Muita gente se sente tentada a demonstrar poder, revelando as coisas erradas que o chefe faz.

Foto: Shutterstock

Parece um plano para enfraquecer o Brasil, enfraquecendo a estrutura da nação. Por isso ficamos subindo um degrau e descendo dois, subindo três e caindo quatro, numa ciclotimia doentia. Vejo, por exemplo, que desde 2010 estamos quase parados em produtividade e PIB, mesmo com os grandes avanços do agro. Com o nosso potencial, a vocação é de potência, mas, embora não acredite em conspirações, sinto que se enfraquece a célula-básica da nação, a família; restringe-se a religião, que dá valores e temores; o ensino vira catequese ideológica e esquece as ciências e artes; divide-se o brasileiro em sulistas e nordestinos, em homens e mulheres, em brancos e negros, em pobres e ricos; separam até por preferências sexuais, embora isso seja uma questão privada. Liberam-se drogas para fragilizar o amor-próprio.

Até as forças armadas são alvo dos que querem dividir. Enfraquecidas já estão, por falta de recursos. “Divide et impera”, usavam os romanos para dominar. Fazem tudo para fragilizar a polícia. A política externa fica sem rumos, a censura ilegal cala a manifestação do pensamento, o pagador de impostos é onerado até esmagarem a livre-iniciativa; o Estado precisa de mais impostos para custear seus privilégios; tira-se a autonomia financeira dos municípios e Estados; de indivíduos e das pessoas jurídicas públicas e privadas para que dependam apenas de um poder central, porque assim fica mais fácil dominar — e não notamos tudo isso, como não notamos, por décadas, o crescimento do crime. Assim cresce a dominação, não sei se planejada e concertada ou se improvisada e espontânea. Como disse Cervantes, pela boca de Dom Quixote, em tradução livre: “Não acredito em bruxas, mas elas andam por aí”. Que las hay, las hay.

Viatura policial passa por uma barricada de fogo, durante protesto no centro de São Paulo (2019) | Foto: Shutterstock

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6 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Querem uma polícia nacional para monopolizar a força, e continuar praticando a censura e opressão a sociedade.

  2. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Alexandre, com certeza você é admirado por grandes jornalistas, magistrados, celebridades da sociedade civil como empresários, juristas, economistas, religiosos e especialmente militares, e já passa da hora de mover essas lideranças a promover grandes manifestações, pacíficas e democráticas em todo o pais para que o exterior saiba o que aqui acontece. Creio que só assim e com a posse de TRUMP poderemos ter a certeza que voltaremos a ter DEMOCRACIA.

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    A corrupção que é o pior dos crimes e atua livremente no país devidamente protegido pelo Poder Judiciário, que hoje sabemos é o mais corrupto de todos.
    A pobreza, a baixa produtividade, a falta de saneamento, a falta de infraestrutura… a ausência de Estado proporciona terreno fértil para a corrupção e o crime cada vez mais organizado.
    As facções criminosas em atuação hoje no país, com apoio das ONGs e do judiciário não diferem em nada das máfias sicilianas do século passado.

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Não acaba porque não quer, se eles são os maiores criminosos existentes hoje no país, dividido em braços e facções, a facção do executivo, o chefe é Lula, com braços nos governos estaduais e prefeituras, a facção do STF com braços no STJ CNJ e MPF, a facção do legislativo com braços nas assembleias e câmaras municipais. Essas são as facções mais fortes, e as facções mais fracas, OAB e Imprensa

  5. Augusto Barbosa
    Augusto Barbosa

    Infelizmente, neste nosso (????) país, leis, decretos, instruções, deliberações judiciais e políticas, os tais “assuntos pacificados” pelo “excelso” STF, nada valem. O que importa, neste exato momento, é que os ladrões, malfeitores, “excluídos pela sociedade”, coitadinhos que apenas roubam para “tomar um chopinho”, desde que não parelhados aos anseios desta esquerda desgraçada, vão, aos poucos, tomando nossos espaços. Desta forma, não tão atual como disse certo poeta (dizem que Paulo Leminski, não sei) mas vale a transcrição:
    Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim e não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho e nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada….

  6. Ana Kazan
    Ana Kazan

    Desespero, horror, desânimo: assim me sinto no meu país de nascimento! Não tem conserto mais.

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