O advogado Luís Roberto Barroso não enxergava cadáveres produzidos por seus clientes homicidas. Durante dez anos, por exemplo, o doutor jurou que o terrorista italiano Cesare Battisti nunca matou ninguém. O ministro Luís Roberto Barroso tampouco enxerga defuntos fabricados por colegas do Supremo Tribunal Federal. Um deles é Cleriston Pereira da Cunha. Preso em 8 de janeiro de 2023, Clezão resistiu à falta de atendimento médico até 20 de novembro, quando morreu no pátio da Papuda. Morreu de ADM. Barroso jamais pronunciou o nome do primeiro cadáver com tornozeleira, nem faz ideia de quem foi Clezão. O agora presidente do STF não perde tempo com Manés.
Nesta semana, o atual presidente do STF aprendeu que existem os cadáveres úteis e os muito bem-vindos. Na quarta-feira, descobriu que integrantes do primeiro grupo podem ampliar o estoque de historinhas engraçadas que sempre enfeitam palestras no Brasil ou seminários no exterior. Para animar a sessão do Pretório Excelso, Barroso exumou Antônio Vinicius Gritzbach, o delator do PCC executado no Aeroporto de Guarulhos. Como entre os possíveis envolvidos no crime figuram policiais que o homem assassinado contratara para protegê-lo, o ministro pegou carona no elogio de um colega aos responsáveis pela segurança pública em São Paulo e recitou o gracejo enviesado: “O denunciante do PCC psicografou uma mensagem dizendo que não foi bem tratado pela polícia de São Paulo”.
Brasileiros comuns andam cada vez mais assustados com o porte, a audácia e o poder de fogo das maiores organizações criminosas, começando pelo Primeiro Comando da Capital. Reizinhos togados fazem piadas com fuzilarias no maior aeroporto do Brasil. Devem achar que inconvenientes tão irrelevantes são coisas a resolver em meia hora de conversa cabulosa entre emissários do Planalto e governantes dos territórios administrados pela bandidagem. Nas recentes eleições municipais, o previsível triunfo do PT nos presídios reafirmou a solidez da coalizão que junta siglas partidárias e consoantes fora da lei. Os parceiros de consórcio que tratem de preservar o bom entendimento.
Cumpre a Barroso e seus generais de capa negra dedicar-se em tempo integral à missão histórica: impedir que nazistas, fascistas e demais extremistas de direita concluam com sucesso o golpe de Estado à brasileira desencadeado no 8 de janeiro. Os inimigos são solertes. Para dissimular a ferocidade, anexaram à multidão moradores de rua, autistas, mulheres com jeitão de avó, até um vendedor de algodão-doce. Mas ninguém engana um Alexandre de Moraes: faz quase dois anos que ele prende e arrebenta meio mundo, imobiliza inocentes com a tornozeleira e pede mais 90 dias para concluir inquéritos já com os cabelos grisalhos batendo em retirada.
O fiasco nas eleições municipais abalou a autoconfiança da regência trina formada por Barroso, Moraes e Gilmar Mendes, que exerce o Poder Moderador conferido ao Supremo por Dias Toffoli. Livres de tribunais de picadeiro, de nulidades autopromovidas a babás de marmanjo e de tiranos togados, distantes de censores, fora do alcance de tiranos perversos, os candidatos trocaram desaforos em paz e os brasileiros votaram em quem quiseram. Encerrada a apuração, até os bebês de colo entenderam que a imensa maioria da nação apoia a direita, está farta da lengalenga esquerdista e compreende que o país só não desfruta da normalidade democrática porque o Supremo não deixa.
Diante do cadáver de um perigosíssimo inimigo na Praça dos Três Poderes, é compreensível que a regência trina se tenha agarrado a fantasias rastaqueras com o ímpeto homicida do náufrago que disputa a última vaga no bote superlotado. Os fatos berram que, atormentado por problemas mentais, Francisco Wanderley Luiz decidiu matar-se, e o suicídio nada tem a ver com os distúrbios de 8 de janeiro. Barroso, Moraes e Gilmar decidiram que um homem-bomba tentou explodir o prédio do STF, e que esse ato terrorista foi a prorrogação do golpe de Estado iniciado há quase dois anos. O trio esbanjou sintonia na hora do refrão: “Não é um caso isolado”, disseram um depois do outro. Como é parte de uma trama liberticida, cabe ao Supremo intensificar o tiroteio desatinado, enquadrar a internet, condenar os capturados que aguardam julgamento e engaiolar por tempo indeterminado quem ouse sonhar com a decretação da anistia ampla, geral e irrestrita.
Os carcereiros estão excitados, mas isso não demora a passar. Para sustentar a discurseira delirante, os pensadores a serviço da ditadura do Judiciário terão de driblar, com a inestimável ajuda de jornalistas estatizados, um punhado de perguntas sem resposta. Por exemplo: se Moraes acredita que o suicida era o chefe militar que faltou em janeiro de 2023, por que apareceu só agora? Há motivos para temer uma ofensiva golpista cujo chefe se comporta com a racionalidade de um Napoleão de hospício? Se o suicida era mesmo um homem-bomba, por que se matou em vez de matar os outros? Como todo terrorista pertence a um grupo extremista, cadê os companheiros de luta?
Nenhuma dessas perguntas é tão complicada quanto a que se tornou obrigatória depois da disputa eleitoral deste ano. Amplamente vitoriosa neste outubro de 2024, a direita vem ganhando musculatura para, daqui a dois anos, submeter a esquerda a uma surra ainda mais devastadora. Uma imensidão de democratas reivindica apenas eleições livres e limpas para chegar ao centro do poder pelo caminho do voto. Por que optar pela desonra e seguir o atalho preferido por dez em cada dez amigos de Lula? Só podem imaginar tal cretinice bacharéis em Direito que, premiados com um gabinete no que chamam de Pretório Excelso, confundem toga com manto, boné com coroa, poltrona com trono, bengala com cetro e, fantasiados de monarca sabido, conseguem apenas garantir um asterisco de duas linhas no capítulo brasileiro da História Universal da Infâmia — além do retrato no porão do Museu das Aberrações dos Tristíssimos Trópicos.
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Uma análise sobre o comportamento da dita “velha imprensa” e do oportunismo por cadáveres favoráveis do ministro Barroso e Alexandre de Moraes, que, assim como com estilingue com bolinhas de gude viu um atentado ao Estado Democrático de Direito, vê na explosão dos foguetes festivos de um suicida, um ato terrorista. O consórcio está usando a sua “própria” criatividade para direcionar a mira em cima dos “golpistas” e poderem, por algum tempo, despistar o cerco que está chegando: o desprestígio, o descrédito, o desprezo e a revolta popular contra o abuso de poder e atos inconstitucionais.
Sim Augusto ! Mais um farsa se impõe para justificar a ditadura
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Augusto sempre preciso.
Augusto sempre preciso.
Augusto, obrigada por colocar o seu texto. Contundente.