Carta ao Leitor — Edição 243

A evidente reprovação popular dos valores que orientam uma esquerda claramente ultrapassada é cada vez mais nítida. Valendo-se do voto, homens e mulheres de diferentes sotaques avisam que querem, sim, Donald Trump, Javier Milei, governantes e parlamentares conservadores. O povo confia nas figuras que os perdedores rotulam de “fascistas”, “nazistas” e “negacionistas”.

Como mostra Silvio Navarro na reportagem de capa desta edição, “a aritmética eleitoral provou que a tal agenda woke — ou campo progressista, politicamente correto e demais sinônimos — não atende às necessidades reais dos pagadores de impostos”. Rasgada a fantasia, o movimento se revelou “autoritário, disposto a tomar liberdades e perseguir quem não se dobra às suas ‘verdades’”.

Atarantados com a profunda mudança da paisagem, o consórcio que agrupa o governo Lula, o STF e a velha mídia enxergou no suicídio de um homem nas imediações da sede do Supremo a ocasião perfeita para explorar o cadáver na retomada da ladainha do “atentado à democracia”. Os textos de Augusto Nunes e Cristyan Costa contam a história como a história foi — não como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso gostariam que fosse. 

Eles tentam associar a tragédia individual de Francisco Wanderley Luiz ao golpe imaginário de 8 de janeiro. Enquanto isso, Jean de Brito, aos 27 anos, permanece atado a uma tornozeleira eletrônica, embora seja comprovadamente inocente. Antes de ganhar essa meia liberdade, ele passou seis meses trancafiado na Penitenciária da Papuda. Autista, Jean não tem dinheiro para deixar de morar no lixão de Juara, no interior de Mato Grosso. Até o começo do calvário, ele jamais ouvira expressões como “golpe de Estado” ou “abolição violenta do Estado Democrático de Direito” — crimes pelos quais foi acusado.

Esse e outros casos envolvendo os perseguidos de Alexandre de Moraes “revelam decisões judiciais que violam a Constituição, a lógica comum e o entendimento básico do conceito de senso moral”, afirma J.R. Guzzo. Em seu artigo, Guzzo descreve a saga da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, do ex-assessor presidencial Filipe Martins, do empresário Roberto Mantovani, e de Cleriston da Cunha, preso em 8 de janeiro de 2003. “Clezão resistiu à falta de atendimento médico até 20 de novembro, quando morreu no pátio da Papuda. Morreu de ADM”, observa Augusto Nunes.

O suicida de Brasília é o “terrorista” da vez. O atentado em Guarulhos ocorreu no meio da tarde e matou um delator do PCC, além de um motorista de aplicativo estacionado perto do local do crime. Curiosamente, não foi considerado um atentado terrorista por nenhum veículo de comunicação. A reconstituição do episódio, feita por Edilson Salgueiro, deixa evidente que ronda o Brasil uma realidade bem mais assustadora que a decorrente do que houve em Brasília nesta semana.

Dias antes, em Amsterdã, grupos de israelenses foram perseguidos por hordas enfurecidas e armadas com paus ou facas. Nas cenas gravadas pelos próprios criminosos com câmeras GoPro, “a exemplo do que fez o Hamas durante a invasão ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, veem-se as vítimas sendo agredidas mesmo depois de perder a consciência”, relata Miriam Sanger. “Em uma delas, um homem grita: ‘Não me machuquem, não sou judeu’. Outro oferece dinheiro e implora por sua vida. Naquela noite, cinco pessoas foram hospitalizadas, e outras dezenas, atendidas com diferentes graus de ferimento. Toda a comunidade judaica internacional vivenciou um brutal sentimento de déjà vu”.

Isso, sim, é um atentado terrorista.

Boa Leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação