O mercado financeiro está cada vez mais preocupado com o crime organizado no Brasil. E está começando a rever seus investimentos no país. “A execução do afiliado ao PCC no Aeroporto de Guarulhos foi apenas o último episódio e o mais espetacular de todos. Mas a aflição dos investidores em relação aos efeitos da criminalidade na economia brasileira vem aumentando nos últimos anos”, explica a Oeste o economista-chefe de um importante banco brasileiro, que preferiu manter o anonimato.
Segundo ele, nas reuniões com empresários, especialmente médios e grandes, o tema do crime organizado um dos mais comentados, além do ativismo judicial.
“Os setores da distribuição de combustíveis, mineração e construção civil são os mais afetados pela atuação de organizações como o PCC”, observou o economista. “Isso acaba afetando diretamente as intenções de investimento dos empresários.”
Aluguel dos “irmãos”
No mercado financeiro da Faria Lima, vários gestores sinalizam movimentações estranhas. Com muitas salas comerciais compradas por pessoas suspeitas de ter ligações com o PCC.
“Aparentemente, a organização encontrou uma forma de lavar dinheiro comprando imóveis no coração do mercado financeiro brasileiro e alugando-os”, afirmou o economista-chefe.
Segundo ele, o movimento é ainda mais estranho porque ocorre em um momento de baixa do mercado financeiro, quando muitas gestoras e corretoras estão cortando gastos, reduzindo espaços ocupados, e a vacância está aumentando.
Há pelo menos cinco trimestres consecutivos há mais saídas do que entradas de imóveis corporativos na Faria Lima. Um recente levantamento da consultoria global Cushman & Wakefield, contudo, mostra que os preços subiram mais de 20% por metro quadrado na região.
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Alerta sobre corrupção na alta cúpula da Justiça
Além do avanço do crime organizado, o que ligou o alerta vermelho na Faria Lima foram os casos de suspeita de corrupção descobertos em quatro gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Quando um investidor estrangeiro vê uma coisa dessas, ele foge”, disse um gestor que atua com capital internacional. “Pois não há mais certeza do direito, nem na cúpula do Judiciário.”
Segundo ele, essa questão “merece atenção máxima” e, se não for “esclarecida de forma adequada, será um precedente perigoso que acabará espantando os estrangeiros”.
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Cresce tentação de intervir no câmbio
O mercado financeiro está de olho no comportamento do Banco Central (BC) em relação ao câmbio com o dólar.
Segundo alguns gestores ouvidos por Oeste, existe uma tentação crescente por parte da área de política monetária da autarquia em intervir para mitigar a alta da moeda americana.
A expectativa da Faria Lima é que a política macroeconômica insustentável do governo Lula provocará uma queda do real. Um sinal muito visível aos olhos da opinião pública. E isso aumentará a pressão de Brasília sobre o BC para fazer algo.
O leilão mais recente de US$ 4 bilhões das reservas internacionais anunciado pelo BC para tentar segurar a alta do dólar foi um sinal nesse sentido.
A operação só não ocorreu por causa de “problemas técnicos”. Mas os operadores estão atentos para ver como o BC se comportará depois da saída de Campos Neto, no começo de 2025.
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Bateu na China, respingou no Brasil
Se o novo governo de Donald Trump conseguir impor tarifas de importação relevantes contra a China, os efeitos adversos para o Brasil serão muito maiores do que durante o primeiro mandato.
A avaliação foi feita pelo banco suíço UBS, segundo o qual “o Brasil é a China”.
Atualmente, a China representa a maior corrente de comércio internacional brasileiro e responde por quase 60% de tudo aquilo que o país comercializa no exterior.
É por essa razão que a gestão do UBS aposta na alta do dólar e dos juros.
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Otimismo com a safra
A safra de 2025 deve animar os produtores rurais brasileiros.
Segundo o Prognóstico para a Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano que vem a produção agrícola deverá chegar a 311 milhões de toneladas, 5,8% a mais do que em 2024.
Todavia, os dados para este ano não são tão animadores. O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de outubro indica uma safra de 293,8 milhões de toneladas em 2024, 6,9% menor do que a de 2023, com 21,6 milhões de toneladas a menos.
A previsão de outubro piorou em relação a setembro: queda de 0,5%, ou 1,368 milhão de toneladas.
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Margem equatorial: agora vai?
A Petrobras está tão confiante em conseguir a licença do Ibama para a margem equatorial que já planejou US$ 3,1 bilhões em investimentos na região até 2028.
A estatal petrolífera mantém as negociações com o órgão ambiental a fim de obter autorização para explorar um bloco na Bacia da Foz do Amazonas ainda neste ano.
O time técnico da Petrobras estaria surpreso com a demora para a obtenção da licença do Ibama.
A margem equatorial, extensa área petrolífera que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, é a maior aposta da Petrobras para a obtenção de novas reservas de petróleo no país.
A presidente da estatal, Magda Chambriard, já disse que o Brasil está dez anos atrasado na exploração e produção de petróleo na margem equatorial. E que isso precisa mudar, pois o país “precisa repor reservas”.
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Julius Baer de saída do Brasil
O banco suíço Julius Baer começa a receber propostas para ceder sua operação no Brasil.
O Goldman Sachs e o Boston Consulting Group vão auxiliar os suíços no negócio avaliado em cerca de US$ 1 bilhão.
O Brasil responde por aproximadamente 60% das atividades do Julius Baer na América Latina. Mas o mercado se mostra cada vez menos atrativo, por causa das turbulências econômicas.
Os suíços chegaram a considerar uma fusão com outra gestora local, ou a compra de um concorrente brasileiro, para ganhar escala, mas sem sucesso.
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Zema, o privatista
Minas Gerais está determinada a concluir as privatizações das estatais Copasa e Cemig, respectivamente atuantes no saneamento e na energia elétrica.
As duas empresas já informaram a Comissão de Valores Mobiliários que seu acionista controlador, o Estado de Minas Gerais, protocolou projetos para a desestatização de ambas.
O governador Romeu Zema estaria confiante sobre a possibilidade de aprovar as duas privatizações até o final do mandato.
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Contra as bets não há lei
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir o uso do Bolsa Família para sites de apostas dificilmente conseguirá ser implementada.
Segundo o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, os sites de apostas dispõem de “diversas formas de burlar” bloqueios, e são necessárias mais ferramentas tecnológicas e mudanças na lei para punir empresas que atuam de forma irregular no setor.
“Hoje, o Estado brasileiro não tem condições de garantir que esse bloqueio seja efetivo”, declarou.
Em outubro, o Ministério da Fazenda repassou à Anatel uma lista de mais de 2 mil bets irregulares, e parte delas criou sites alternativos para burlar o bloqueio.
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