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Francisco Wanderley Luiz se suicidou na noite de 13 de novembro, com explosivos, na Praça dos Três Poderes, em Brasília | Foto: Reprodução/Redes Sociais/X
Edição 243

Suicídio em Brasília

Consórcio Lula-STF usa caso isolado na capital federal para tentar sepultar a anistia e ampliar a censura no Brasil

Cristyan Costa
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Às 19h30 da quarta-feira 13, a tranquilidade cotidiana da Esplanada dos Ministérios foi interrompida por barulhos ensurdecedores na Praça dos Três Poderes. Em pouco tempo, vídeos divulgados nas redes sociais revelaram que se tratava de duas explosões: a primeira destruiu um automóvel Kia Shuma 1999/2000 no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados (o local fica a cerca de 500 metros da Praça dos Três Poderes), e a outra ocorreu perto da Estátua da Justiça, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), terminando em um óbito na sequência do ato. Pouco mais de 20 segundos separaram um incidente do outro naquela noite. Com a chegada das autoridades, a Polícia Civil do Distrito Federal informou que o morto se chamava Francisco Wanderley Luiz, era chaveiro e tinha 59 anos. Ele morava em Rio do Sul, Santa Catarina, e chegou a disputar uma cadeira na Câmara Municipal da cidade, em 2020, pelo Partido Liberal.

Mais que depressa, veículos de comunicação noticiaram tratar-se de um atentado contra a democracia e as instituições, sobretudo o STF. Embora as conclusões ainda sejam muito prematuras, a narrativa que se tenta construir pode não resistir aos fatos, a começar pelo depoimento de um vigilante do STF segundo o qual Luiz cometeu suicídio e agiu sozinho. De acordo com o relato, o homem se aproximou do monumento em frente ao tribunal e colocou uma mochila no chão. Da bolsa, tirou um extintor e uma blusa, lançando os objetos na escultura, além de fogos de artifício em direção à marquise da Corte. Com a aproximação de outros seguranças, Luiz anunciou que carregava bombas no corpo. Instantes depois, deitou-se no chão, acendeu um último artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão que o matou na hora.

Perto dali, no porta-malas do veículo incendiado, um esquadrão antibombas achou fogos de artifício montados em tijolos, para canalizar a explosão em uma única direção. Luiz acionou os projéteis remotamente antes de se matar. O automóvel, que ficou parcialmente destruído, pertencia a Luiz e, provavelmente, serviu como meio de transporte para ele chegar à capital federal há três meses. Conforme as investigações, ele alugou uma quitinete em Ceilândia, no entorno de Brasília, que serviu como bunker. No local, os investigadores encontraram equipamentos rudimentares, como bombas artesanais feitas com PVC, rojões e um lança-chamas caseiro. Há ainda uma caixa enterrada nas proximidades que precisa ser submetida à perícia técnica.

O automóvel, que ficou parcialmente destruído depois das explosões em Brasília, pertencia a Luiz | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Mente perturbada do autor das explosões em Brasília

A confusão que Luiz provocou em Brasília existia também em sua mente. Mensagens de WhatsApp vazadas mostram que o chaveiro acreditava em teorias conspiratórias, descontextualizava trechos da Bíblia para falar sobre determinados acontecimentos e atacava personalidades públicas sem muita relação umas com as outras, a exemplo do ex-presidente José Sarney e do jornalista William Bonner. Apontado como bolsonarista pela revista Veja, que apagou a reportagem depois, Luiz criticava tanto o presidente Lula quanto o antecessor do petista, Jair Bolsonaro (a quem queria matar). Além disso, Luiz havia se divorciado recentemente. O deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC), que recebeu Luiz em seu gabinete, comentou o caso. “No ano passado, com sinceridade, eu falei: ‘Esse não é o França que eu conheço’”, declarou. “Estava emocionalmente abalado. Falou muito sobre a separação da esposa. Pareceu-me abalado emocionalmente, com a saúde mental muitíssimo abalada.”

Mensagens do autor das explosões em Brasília | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Mensagens do autor das explosões em Brasília | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Até mesmo a dona do local onde Luiz se hospedava na capital federal notou mudanças de comportamento desde a primeira vez que o viu, no início do ano passado, quando o chaveiro alugou um quarto com ela. A impressão é a mesma de colegas de bar que Luiz fez em 2023. Eles estranharam as mudanças repentinas de personalidade do homem, que variava o humor constantemente. No dia anterior ao suicídio, Luiz pediu ao dono do estabelecimento para grafar com giz a parede voltada para a rua. Escreveu o nome com o qual concorreu nas urnas em 2020: “Tiü França”. Depois, soltou um comentário que os colegas acharam misterioso. “Quando ouvir essa música, vai se lembrar de mim”, disse, ao cantar trechos de uma canção da dupla Milionário e José Rico: “Decida / Se vai embora ou fica comigo / Se vai me respeitar como marido / Então, desse jeito não estou aguentando”.

Os peritos encontraram também no espelho do banheiro da quitinete uma frase em alusão à cabeleireira Débora dos Santos, de 38 anos, que ficou conhecida por escrever a frase “perdeu, mané”, com batom, no monumento que Luiz atacou no dia em que morreu. Débora está em um presídio de Rio Claro (SP), em virtude do 8 de janeiro, ainda sem prazo para ser julgada. “Por favor, não desperdice batom”, redigiu Luiz. “Isso é para deixar as mulheres bonitas. Em estátua de merda se usa TNT.” Não se sabe ainda se ambos se conheciam ou se Luiz participou da manifestação.

Até mesmo a ex-mulher conta que o marido tinha algumas obsessões, uma delas pelo ministro Alexandre de Moraes e pelo STF, tanto que publicou uma foto no plenário da Corte com frases irônicas a respeito do tribunal. “Era uma obsessão dele”, disse a ex-mulher. “Ele me deixou quase completamente louca. Todo mundo na rua dizia que eu ficaria louca. Ele só falava de política, política e política. Luiz disse que mataria Moraes e, depois disso, iria se matar.”

Exploração política do caso

Em menos de 24 horas do suicídio, integrantes do governo Lula exploraram politicamente a tragédia e se apressaram em tratar o caso como um “atentado às instituições democráticas”. O advogado-geral da União, Jorge Messias, repudiou “com veemência” os “ataques ao STF e à Câmara do Deputados”. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, se antecipou ainda mais ao afirmar que “não há lobos solitários”. Em poucas horas, a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito e o encaminhou ao STF. Assim, o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, escolheu Moraes para ser o relator dessas investigações.

Na manhã da quinta-feira 14, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, deu uma entrevista coletiva na sede da corporação. Segundo Rodrigues, uma das linhas de investigação é “terrorismo” e ligações com o 8 de janeiro. Aliado de Moraes e de Lula, Rodrigues também aproveitou para defender a regulamentação das redes sociais. “Eles vão para as redes sociais que, hoje, são território de ninguém, e publicam as barbaridades que acham que podem publicar impunemente”, disse. “Precisamos regulamentar as redes.” Discursos semelhantes vieram de ministros do STF. Barroso afirmou que o STF resistirá a quaisquer “ímpetos autoritários”, enquanto Gilmar Mendes dedicou sua fala para culpabilizar Bolsonaro por estimular o “extremismo” no país.

A Barroso e Mendes juntou-se Moraes, que criticou a anistia aos condenados do 8 de janeiro. Ministros do STF também fizeram chegar ao Parlamento o recado de que não admitirão que o assunto seja discutido outra vez. “Não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos”, declarou Moraes, que finge desconhecer que justamente as concessões de anistia solucionaram inúmeros problemas políticos que marcaram a história do Brasil. Ao negarem o benefício, Moraes e os ministros esquecem que quem é contra esse tipo de perdão jamais vai ser perdoado um dia.

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9 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Excelente final, Cristyan. Tipos como Alexandre de Moraes, Andrei Rodrigues, Luis Roberto Barroso, Gilmar Mendes, e outros, jamais poderão ser perdoados um dia.

  2. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Muito bom Cristyan, mas acho que a solução para nosso pais só vira após a posse de TRUMP que seguramente examinara as barbaridades inconstitucionais e autoritárias que aqui ocorrem. Mostrem ao exterior as barbaridades que nossa CORTE SUPREMA promove em seu recinto, no PLENÁRIO do STF, entre seus pares; É um verdadeiro MANICÔMIO como disse no passado, quando talvez tinha algum juízo, o AGU GILMAR MENDES do GOVERNO FHC, a respeito do STF. Quando lá foi nomeado por FHC, seus coleguinhas disseram: “bem vindo ao MANICÔMIO”. Com certeza quem mais ofende o STF são seus próprios ministros. O sensitivo e iluminado Barroso, assim disse no plenário da CORTE à Gilmar Mendes: “você é uma pessoa HORRÍVEL, uma mistura do MAL com o ATRASO e pitadas de PSICOPATIA”. Essas figuras inúteis são aquelas que decidiram que o VOTO IMPRESSO é INCONSTITUCIONAL porque: “é muito cara sua implantação”, “a impressora pode enguiçar”, “o voto impresso pode ser utilizado para quebra do sigilo do voto”, “o grande roubo de cargas em nosso pais pode prejudicar o transporte de mais de 150 milhões de votos”, e outras baboseiras.

  3. José Carlos dos Anjos Faria
    José Carlos dos Anjos Faria

    Bom domingo, Brasil! 🇧🇷
    O que o Executivo, o Judiciário e a imprensa ganham em ocultar que o suposto suicida foi executado por um tiro, antes da bomba explodir próximo a sua cabeça. Vejam o vídeo em câmera lenta que vocês vão perceber. E eu nem sou perito criminal.

  4. Luiz Buonaduce Filho
    Luiz Buonaduce Filho

    Terrorista não doente, ninguém faz terror com rojão ministros do STF

  5. Luiz Buonaduce Filho
    Luiz Buonaduce Filho

    Terrorista não doente, ninguém faz terror com rojão ministros do STF

  6. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Uma ditadura formada por bandidos ladrões e analfabetos só dá nisso, cada opinião dessa corja é uma mais ridícula do que a outra. O cara estava com CAGIEMBLA, e pelo português só podia ser do PT ou PSOL

  7. Emilio Sani
    Emilio Sani

    o desespero dos ‘ministros’ (de araque) é visível, já perceberam que o fim está próximo e terá graves consequências,,,0

  8. MNJM
    MNJM

    Crystyan muito bom. Impressionante a mídia vendida (decadente) e os integrantes do STF e PF parecem militantes políticos. Querem manter a narrativa de um golpe que não ocorreu e muito menos um ataque as Instituições , chegando a dizer um ato de terrorismo, por uma pessoa totalmente desequilibrada que tirou a própria vida.

    1. Teresa Guzzo
      Teresa Guzzo

      Mais um excelente artigo de Cristyan Costa. Mostra o desespero de um brasileiro frente às atrocidades que estamos vivendo. A doença mental se manifesta de várias maneiras, quando não tratada corretamente, o suicídio é uma delas.O STF usou essa tragédia pessoal, como ironia e arrogância.

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