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Foto: Shutterstock/Mojahid Mottakin
Edição 244

A raiva impotente das elites woke desesperadas

O Guardian sair do X é um hilariante sinal dos tempos

Brendan O'Neill, da Spiked
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Então, o Guardian saiu do X. Com sua pomposidade característica, o jornal britânico anunciou, no dia 13, que não vai mais postar seus artigos nessa “plataforma de mídia tóxica”. O X se tornou um caos vulcânico de opiniões nocivas desde que o maligno Elon Musk assumiu o controle, dizem os chorões que ficam no Kings Place, em Londres. Então eles se foram, rumo ao Bluesky, seja lá o que isso for. Ainda não se sabe como os usuários do X vão lidar com a ausência de um jornalismo tão refinado quanto “Meu filho pequeno é vegano. Qual é o problema?” e “E se os megarricos só quiserem foguetes para fugir da Terra que eles mesmos destroem?”. 

O Guardian acusa Musk de ter permitido que o X fosse invadido por “conteúdo perturbador”. Esse espaço, antes agradável, teria sido inundado por “teorias da conspiração de extrema direita e racismo”, dizem eles. Deixemos de lado o absurdo colossal de um grupo de mídia que passou anos dizendo que o Brexit era obra de uma “sombria operação global” com “financiamento obscuro” acusar qualquer outra pessoa de paranoia conspiratória. O mais impressionante aqui é a recusa incrivelmente arrogante da publicação de permanecer em um espaço onde há pessoas com opiniões divergentes. 

Sejamos realistas: é disso que trata essa birra, esse êxodo dos privilegiados, essa fuga dos presunçosos do X. Eles simplesmente não suportam estar perto de gente que gosta de Trump, que não gosta de imigração em massa e acha que lésbicas não têm pênis. Aos olhos deles, o verdadeiro crime de Musk foi abrir o X para opiniões que não se enquadram nos parâmetros do politicamente correto, policiados com tanta fúria. Esse “êXodo” é uma estratégia de evitar a plebe, um afastamento em relação à multidão inquieta com opiniões “inferiores” às daqueles que estão sob a segurança da câmara ecoliberal, onde todos concordam que Trump é Hitler, Brexit é “Brexshit”, e Eddie Izzard é uma mulher. 

Donald Trump, presidente eleito dos EUA, e Elon Musk assistem ao lançamento do sexto voo de teste do foguete SpaceX Starship, em Brownsville, no Texas (19/11/2024) | Foto: Reuters/Brandon Bell

Isso foi sintetizado em uma coluna publicada no Guardian sobre sua saída do X. (O assunto favorito do Guardian é ele mesmo.) “O inferno são os outros”, choraminga a autora. “Ou, para ser mais específica, as outras pessoas nas redes sociais.” Nos últimos tempos, diz ela, o X se tornou “o equivalente digital de um bar famoso pelas brigas e garrafas quebradas na hora de fechar”, enquanto o Bluesky hospeda “uma conversa mais moderada, mais racional”. As marcas de ódio de classe são deliciosas. O X é retratado como um bar sinistro na parte “brega” da cidade, enquanto o Bluesky, pelo jeito, se assemelha à área de coworking na Soho House. Deus abençoe o Guardian, essas pessoas tentaram ao máximo conviver com as massas, mas não deu.

Os acadêmicos da pós-verdade

Uma coisa que o Guardian de fato passou a odiar no X foi a temida “nota da comunidade”, que os usuários podem usar para corrigir colaborativamente uma postagem que consideram enganosa. Posts do Guardian sobre Brexit, emissões zero e outros temas com frequência eram alvo desses enxames orgânicos de céticos. Essa é a “briga de bar” que eles temiam — o arremesso da garrafa da dúvida pública no rosto da ideologia elitista. Imagine quanto foi doloroso para os sofisticados e virtuosos do Guardian terem um sujeito com uma bandeira da Inglaterra na biografia de suas redes sociais travando uma guerra de notas da comunidade contra as baboseiras que eles postavam on-line. Que horror!

O aspecto menos convincente na justificativa presunçosa do jornal para sua retirada é a alegação de que Musk está usando o X para “moldar o discurso político”. Bom, claro, isso é verdade. Musk não esconde sua conversão à causa de Trump. Ele aproveitou todas as oportunidades para promover o trumpismo na plataforma antes da eleição presidencial. Mas a ideia de que o Guardian sente um ódio genuinamente liberal de bilionários que usam sua riqueza e influência para moldar a política é uma grande mentira.

Estava tudo bem com o Twitter, como a plataforma era chamada antes, quando uma “espécie mais simpática” de magnata do Vale do Silício o usava para exaltar os democratas, silenciar feministas incômodas e calar qualquer pessoa considerada de “extrema direita”. O que realmente horroriza o Guardian é que sua classe de acadêmicos da pós-verdade histéricos e antipopulistas perdeu o controle sobre o X. O jornal odeia Musk não por impor sua marca política na plataforma, mas por apagar a bota dele.

As velhas ideologias dominantes

Estava tudo bem para o Guardian quando o X bania mulheres para sempre por chamarem um homem que tentou forçar mulheres imigrantes a depilar suas partes íntimas de “ele”. E quando o próprio presidente dos Estados Unidos foi banido sob uma acusação absurda de incitação à violência. E quando ele se tornou o braço militante do FBI ao censurar obedientemente a “propaganda russa”, que era qualquer coisa que pudesse prejudicar o establishment democrata e a ordem liberal de forma mais ampla. A fuga vaidosa do Guardian e de outros é um chilique dos politicamente privilegiados, um grito de raiva impotente de uma classe de influenciadores que viu sua influência minguar. Pior ainda, foi “derrubada” pelos plebeus.

Jornal britânico The Guardian, com destaque para posicionamento em relação a Kamala Harris na eleição presidencial dos EUA de 2024 (28/10/2024) | Foto: Shutterstock

O êXodo é ridículo e pomposo. Estou adorando. Mas algo sério, historicamente relevante até, também está em jogo. As velhas ideologias dominantes estão rangendo e se fragmentando sob o peso da insatisfação populista. A velha guarda está em retirada, temendo os gritos e a ridicularização de um exército cada vez maior de céticos e críticos. Será que suas ideias perigosas foram derrotadas? Não. Mas estão feridas. E isso é um começo.


Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “A psicose social de colocar homens em prisões femininas”

2 comentários
  1. Marcelo Panosso Mendonça
    Marcelo Panosso Mendonça

    Excelente artigo.

  2. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    A tranquilidade do The Guardian era a mesma de um pai cujos filhos ainda estão pequenos e não sabem pensar.

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