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Edição 244

Inteligência artificial — próximos episódios

Modelos de linguagem como ChatGPT, Gemini e Copilot já fazem parte de nossa vida. O que vem a seguir?

Dagomir Marquezi
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Parece que a era da inteligência artificial está se popularizando. E já não provoca tanto medo. Estamos convivendo com a IA no nosso dia a dia, e hoje o uso da IA parece tão natural quanto o velho “dar um Google”.

O colunista Christopher Mims, do Wall Street Journal, escreveu nesta semana uma matéria dizendo que a fase de escrever textos e fazer ilustrações seguindo a nossa vontade foi só o primeiro passo. Segundo ele, estamos prontos para iniciar o que podemos chamar de IA 2.0. O segredo para essa evolução são os transformers. Não aqueles robôs que viram veículos, e vice-versa. Os transformers em questão foram assim explicados por Mims:

“Primeiramente anunciados em um artigo de 2017 por pesquisadores do Google, os transformers são um tipo de algoritmo de inteligência artificial que permite aos computadores entender a estrutura subjacente de qualquer conjunto de dados — sejam palavras, dados de direção, sejam os aminoácidos de uma proteína —, de modo a conseguir gerar sua própria saída similar.”

Em outras palavras: o conceito de transformer consiste em uma inteligência artificial que passa a tomar a iniciativa, sem precisar da orientação humana para se aprofundar no que faz. Usando o princípio dos transformers, o diretor de IA do Google, Demis Hassabis, ganhou o Nobel de Química pelas pesquisas relacionadas à estrutura das proteínas. Transformers foram seus parceiros, mas ainda não existem prêmios para computadores.

Qual é a importância dessa conquista? “O objetivo final”, segundo o jornalista Christopher Mims, “é permitir que todos os tipos de empresas — desde fabricantes farmacêuticos produzindo novos medicamentos até empresas de química sintética trabalhando em novas enzimas — criem substâncias que seriam impossíveis de produzir sem sua tecnologia. Isso pode incluir bactérias equipadas com novas enzimas que podem digerir plástico, ou novos medicamentos adaptados ao tipo de câncer específico de cada indivíduo”.

Foto: Summit Art Creations/Shutterstock

Robôs na lavanderia

O artigo de Mims mostra que essa evolução da IA ainda está no começo e se manifesta em situações à primeira vista bem simplórias. A empresa Physical Intelligence, por exemplo, uniu dois braços robóticos funcionando à base de IA para realizar a tarefa de… dobrar roupas recém-lavadas. 

Parece simples? Não é. O robô tem que analisar o formato e a textura de cada peça de roupa e planejar como elas serão dobradas. Isso exige a inteligência, a criatividade e a iniciativa do transformer. Não existe um plano a ser seguido. Com o sucesso da experiência, empresários como Jeff Bezos investiram 400 milhões de dólares na Physical Intelligence.

Na mesma linha, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) gravaram as imagens de um robô tentando colocar ração de cães numa tigela. Em seguida, mostraram o vídeo a outro robô — que, analisando os erros e acertos do primeiro, aprendeu sozinho a fazer essa tarefa.

Advogados robôs

O professor Michael Bennett, da Northeastern University, em Boston, escreveu para o site TechTarget sobre algumas perspectivas para a IA nos próximos cinco anos. Segundo Bennett, cinco atividades humanas serão profundamente modificadas no curto prazo pela nova tecnologia:

Educação: a IA vai nos encaminhar para um ensino cada vez mais especializado, que atenda às necessidades de cada indivíduo, sem a massificação atual. “Lá por 2028, o sistema educacional vai estar irreconhecível”, escreveu Bennett.

Saúde: a atividade de diagnóstico vai ter um grande avanço com a inteligência artificial. E, como sabemos, quanto melhor o diagnóstico, melhores as decisões para a cura. Esse avanço já está acontecendo hoje em laboratórios de vanguarda.

Finanças: quem reclama da falta de elementos humanos na comunicação dos bancos com os clientes que se prepare — o futuro do atendimento é dos robôs. Em compensação, eles estarão cada vez mais mais capacitados e rápidos para ajudar o cliente a tomar decisões. 

Direito: bots de IA estão se dando muito bem nos escritórios de advocacia. Ao fornecer ao cliente as informações mais básicas de cada caso, o robô torna o trabalho mais simples e objetivo. Só repassa o cliente para os advogados humanos conforme a necessidade. Segundo Michael Bennett, três humanos trabalhando com um bom sistema de IA substituem de 10 a 20 funcionários convencionais. Para um país que se dedica a formar advogados como o Brasil, isso é crise anunciada.

Transporte: o futuro pertence à automação na movimentação de carga e passageiros. Motoristas, condutores e cobradores serão naturalmente substituídos por sistemas de IA cada vez mais operacionais e seguros. Não adianta chorar o desemprego. É preciso reformar o sistema de ensino para que se adapte a esse novo tempo.

Foto: Summit Art Creations/Shutterstock

Os próximos cem anos

O escritor e palestrante Bernard Marr escreveu para a revista Forbes um artigo imaginando como poderá estar a inteligência artificial nas próximas décadas:

2034: pacientes com problemas cardíacos de origem genética usam um “assistente de saúde IA” implantado sob a pele. O sistema monitora sinais vitais e níveis de nutrientes e dá alertas em caso de sintomas perigosos. O perigo de um infarto cai a praticamente zero.

2044: os filhos dessa geração de 2034 nem precisam mais do “assistente de saúde IA”. Os gatilhos genéticos de seus antepassados foram corrigidos antes mesmo que eles nascessem. Estão imunes.

2074: a inteligência artificial é usada para controlar a vida dos cidadãos em todos os detalhes, com recompensas a quem se comportar e castigos a quem desobedecer às ordens (nesse sentido, a China já está 50 anos à frente).

2104: a era da fartura. A inteligência artificial cuida dos nossos problemas. A impressão em 3D barateou a fabricação de qualquer coisa. A agricultura é administrada com perfeição por robôs. Os humanos estão livres da necessidade de trabalhar.

2124: terráqueos formam a primeira colônia permanente em Marte. São muito mais inteligentes que seus ascendentes de um século antes — estão conectados por interfaces neurais diretamente ao poder da IA. Doenças foram apagadas da experiência humana. 

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A diversão da inteligência

O termo inteligência artificial dá a impressão de algo externo a nós. Deverá ser progressivamente transformado em inteligência aumentada, uma expressão mais próxima à verdade. Assumiremos que a IA virou parte de nós e se transformou num instrumento para nosso cérebro, multiplicando nossas capacidades. Poderemos ser ótimos parceiros.

E não é preciso esperar o futuro para desfrutar de uma das melhores possibilidades oferecidas pela inteligência artificial. Ao facilitar as tarefas mais burocráticas de nossos processos cerebrais, a IA libera nossos neurônios para uma atividade ainda mais valiosa e compensadora: a criatividade. Nosso cérebro teoricamente existe para criar, e não apenas imitar. É a criatividade que permite a nossa evolução.

Como disse Albert Einstein, “a criatividade é a inteligência se divertindo”.

Foto: Shutterstock

@dagomir
dagomirmarquezi.com

Leia também “A epidemia de solidão”

4 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Interessante.

  2. Leonardo de Almeida Queiroz
    Leonardo de Almeida Queiroz

    Ninguém no Brasil precisa se preocupar por muito tempo: nossos professores paulofreireanos são uma barreira quase intransponível a essa revolução!

  3. JOSE CARLOS GIOVANNINI
    JOSE CARLOS GIOVANNINI

    e O PIOR É QUE SERÁ ASSIM MESMO. ACABOU-SE A GRAÇA E A SURPRESA DA VIDA.

  4. Sergio Hora
    Sergio Hora

    Muitos podem não perceber, mas a IA e suas perspectivas refletem claramente a imensidão da criatividade humana. Nós somos a evolução.

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