Estamos no fim de 2024, praticamente dois anos de governo Lula, e parece que ainda vivemos o pós-eleição de 2022. A sensação é de estarmos sob a dúvida crucial entre dizer que o governo não governou ou que governou com ideias ruins. Daí que perguntar até onde vai o governo Lula é necessário. Porque por onde não foi e por quais caminhos errados já se embrenhou sabemos.
O pacote de corte de gastos finalmente anunciado nesta semana é mais um exemplo de como se perde tempo com medidas sem coragem e sem noção de realidade. Anunciado com pompa e circunstância em rede nacional, na noite de quarta-feira, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o dado mais relevante do pacote foi criar uma expectativa ruim, confirmada depois do anúncio, que fez a Bolsa cair e a cotação do dólar explodir, ultrapassando pela primeira vez a marca de R$ 6! Nem na pandemia isso aconteceu. E, quando se faz qualquer comparação com o período da pandemia e os dados do atual governo são piores, os sinais de incompetência gritam.
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Acabou que ficou muito parecido com um ato de campanha de um precoce lançamento da candidatura de Haddad, dada a improvável reeleição de Lula. Mas como o presidente e seu ministro podem fazer promessas diante do insofismável de que este governo já tomou posse há muito tempo? Não dá, não cola! No dia seguinte, na entrevista coletiva de toda a equipe econômica para explicar o plano de cortes, a máxima de que “de onde não se espera é que não vem nada mesmo” se confirmou. Além de mero remanejamento de receitas e despesas, um erro estratégico deu o tom de que a baixa política eleitoreira prevaleceu sobre a decisão técnica da economia. Para ser mais “palatável”, o governo lançou a ideia de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Não que revisar a tabela de IR seja um problema, é até justo. Mas no exato momento em que o país beira o abismo fiscal por erros crassos de política econômica deste governo, que saiu taxando tudo e todos, qual é o objetivo senão tentar algum ganho político com a medida que valeria a partir de 2026, ano eleitoral? Se haverá ganho, se será aprovada ou não, é preciso esperar. Mas o país perdeu porque Lula só pensa naquilo. E Haddad e seus assessores em nenhum momento foram à gênese da tragédia fiscal dos governos do PT: o perdularismo crônico e o inchaço da máquina pública, além do populismo tributário.
A propalada economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos e a demonstração de compromisso com o arcabouço fiscal não se sustentam. Primeiro, porque é insuficiente e nada garante que se concretizará. E depois porque o próprio governo já furou o seu arcabouço, além de, com ajuda do STF, conseguir retirar despesas da conta primária. Como confiar? Despesas podem não entrar no cálculo maquiado, mesmo que com a bênção da segurança jurídica do Supremo, mas não deixam de existir. Dívida é dívida.
Não que se espere que um governo do PT tenha a coragem para fazer o dever de casa na extensão devida, mas o momento pedia um pouco de disrupção com suas crenças arcaicas de danos severos à vida dos brasileiros. As contas públicas têm problemas estruturais e nem de longe Haddad e sua turma se ativeram aos fatos. Além da ausência de ousadia em atacar os gastos indexados, é aviltante a inapetência e a incapacidade deste governo de falar de redução do peso do Estado na economia, com redução da máquina pública e reforma administrativa para gerar economia de longo prazo e, ao mesmo tempo, aumentar a eficiência do serviço público. E olha que bastava continuar o que vinha sendo feito desde 2016, no governo Temer pós-impeachment de Dilma Rousseff e nos quatro anos de Jair Bolsonaro. Com Lula, a escolha foi o retrocesso.
![O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira, 27, um pacote de medidas para o controle de gastos.](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2024/11/fernando-haddad-4.jpg)
Fato é que a atual gestão passou os dois primeiros anos de mandato gerando problemas que não existiam e que ela agora pretende resolver nos dois últimos do mandato. Vai dar certo? A referência da primeira metade de Lula 3 diz que só fez piorar todos os indicativos da agenda fiscal que ele deveria, no mínimo, preservar porque era um ganho do país, da sociedade.
Os números a seguir são de uma comparação objetiva entre um governo de matriz liberal, de forte atuação para desburocratizar, reduzir e modernizar a máquina estatal, atrair investimentos com melhora do ambiente de negócios, austero com as contas públicas e o seu oposto. Enfim, é uma comparação de números entre Bolsonaro/Guedes e Lula/Haddad.
Em 2022, depois de enfrentar uma pandemia sem precedentes e os efeitos da guerra na Ucrânia que fizeram explodir a inflação no mundo inteiro, o governo de Jair Bolsonaro entregou o país com superávit primário de R$ 54 bilhões, redução de impostos, relação dívida/PIB em queda de 71,7% (havia recebido acima de 75% do governo Temer) e crescimento do PIB de 2,9%. O dólar fechou em R$ 5,28, com queda anual de 5,32%.
Em 2024, sem pandemia, sem nenhum efeito de guerra alguma sobre a economia doméstica, o governo Lula já acumula R$ 105 bilhões de déficit primário, a relação dívida/PIB já saltou para 78,3% e promete ultrapassar os 81%. E, mesmo com o país crescendo em arrecadação, já são 16 meses consecutivos em que o governo gasta mais do que arrecada. Tem também o antes inédito dólar a 6 por 1.
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Percebe que o atual governo, ao apresentar o pacote de corte de gastos, deveria também dizer que é para corrigir um problema que ele mesmo criou? Antes de tomar posse, em vez de aproveitar o bônus eleitoral e os ganhos do governo anterior em austeridade e modernização da máquina e da legislação, com reformas pró-economia e empregos, Lula negociou com o Congresso um Fura Teto de R$ 170 bilhões, a PEC da gastança. Entre avançar e retroceder, deu um cavalo de pau na responsabilidade com as contas públicas e com o avanço da economia do país. Como poderia dar certo? Não deu! Tanto que no primeiro ano, em 2023, Lula já havia gerado um déficit de R$ 230 bilhões.
Por fim, vale a pergunta novamente: até onde vai esse Lula? Com a nova cascata na Granja do Torto e o desejo de ter um avião novo para quando não estiver sentado nos sofás caríssimos que a primeira-dama mandou comprar, não se sabe. Afinal, nada disso combina com um governo que precisa dar exemplo de conduta e ser eficiente na hora de governar.
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Lula está fazendo exatamente o que ele prometeu: se vingar e F… com o Bolsonaro.
Tudo que do PT partido do trambique é coisa ruim. Faz o L
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Os números comparativos da gestão da economia Bolsonaro/Guedes, com agora Lula/Haddad, precisam ser expostos em cartazes nas paredes em todo espaço público. Para ver se assim a sociedade brasileira entende.
Excelente artigo Piotto.
Excelente artigo Piotto.
Só uma completa besta quadrada esperava algo diferente disso. Tão previsível quanto o nascer do sol amanhã. E como dizem alguns leitores aí, vai piorar. E muito.
Essa foi a escolha do povo brasileiro, manipulado por uma mídia a serviço do lucro, e somente o lucro, não importa de onde vem o dinheiro. Tendo como alicerce uma oligarquia que mantém o poder e suas benesses e as pessoas que deveriam questionar, pensam como torcedores de futebol. Tudo para dar errado, mas quem está no governo, está adorando, nunca houve tanto dinheiro.
Infelizmente, vai piorar muito.
Piotto, com tua habilidade como entrevistador no DIRETO AO PONTO da extinta JP, penso interessante que a Revista Oeste, no programa sem filtro, dedique no mínimo 30 minutos para entrevistar celebridades como FHC que fizeram o “L”, para dar suas interpretações aos importantes artigos da REVISTA. Afinal, muitas autoridades da politica, do SUPREMO, dão com frequência entrevistas a CNN, GLOBO, TV CULTURA (roda viva), e outras mídias esquentadas com recursos públicos dos pagadores de impostos.
Vai piorar? Já piorou, tá piorando, e pior será!
Foi pra isso que fizeram o L ?
Foi preciso Piotto. Governo irresponsável e incompetente, nenhuma surpresa , quem esperava algo diferente errou feio .E vai piorar.