O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva atacou os mercados livres na cúpula do G20. Suas declarações refletem uma crença excessiva na capacidade dos tecnocratas de resolver problemas sociais e uma ignorância em relação à história da economia.
A primeira cúpula do G20 foi convocada em setembro de 2008 para reagir à crise financeira, promover a estabilidade econômica global e estimular o crescimento. Embora historicamente o G20 tenha olhado para essas metas pela perspectiva de seus pilares políticos e financeiros, a cúpula deste ano marcou a inclusão de um pilar social, descrito por Lula como o lugar onde “a vontade e a expressão coletivas tomam forma”.
Em seu discurso, o presidente brasileiro argumentou que mais intervenção burocrática no cotidiano é necessária porque “o neoliberalismo piorou a desigualdade econômica e política”. Mas, na verdade, é o contrário. De 1975 a 2015 — a chamada era neoliberal —, houve uma convergência de renda internacional. O coeficiente de Gini mundial, uma medida de desigualdade econômica, caiu de 68,7 para 64,9 entre 2003 e 2013, e estima-se que vá cair ainda mais, chegando a 61,3 até 2035, de acordo com os economistas Tomas Hellebrandt e Paolo Mauro.
Enquanto isso, o número de países considerados livres quase dobrou, de 44 em 1973 para 84 em 2023, segundo a Freedom House, uma organização sem fins lucrativos que avalia os direitos políticos e as liberdades civis globais.
Votando na cor da gravata
Lula também pediu a mobilização permanente dos países membros para “impulsionar o trabalho da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e avançar na taxação dos super-ricos”. Combater a fome e a pobreza são objetivos louváveis, que são alcançados por meio da produção, não da taxação.
Graças à revolução industrial, ao capitalismo e ao comércio internacional, “o número de pessoas em situação de extrema pobreza caiu de mais de 1 bilhão para 700 milhões, enquanto o número de pessoas em situação melhor aumentou de míseros 60 milhões para 6,6 bilhões” entre 1820 e 2015, de acordo com o projeto Human Progress. Para continuar eliminando a pobreza e aliviando o sofrimento humano, precisamos adotar políticas de crescimento que permitam que alguns se tornem extremamente ricos ao proporcionar mais valor à sociedade. Por exemplo, enquanto a fortuna de Bill Gates é de US$ 104 bilhões, a capitalização de mercado da Microsoft, um indicador do valor da empresa, é de impressionantes US$ 3,085 trilhões — com “t”.
Lula descreveu o capitalismo como um sistema que ignora a vontade do povo, incentivando os governos a “romper com a crescente dissonância entre a ‘voz dos mercados’ e a ‘voz das ruas’”. Na realidade, o mercado livre é um sistema representativo no qual “cada homem pode votar, por assim dizer, na cor da gravata que quer e adquiri-la”, como explicou Milton Friedman em Capitalismo e Liberdade (2014). Se Lula realmente quer “reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas”, ele deveria defender a liberdade, não a burocracia.
Leia também “O fracasso do G20 de Lula”