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Foto: Revista Oeste/IA
Edição 245

O golpe da COP

Quanto antes aposentarmos as decadentes fantasias verdes do Ocidente, mais brilhante será o futuro da humanidade

Fraser Myers, da Spiked
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“Óleo e gás são presentes de Deus… O povo precisa deles.” Surpreendentemente, isso não foi dito pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em um devaneio sobre as maravilhas do “ouro líquido” durante um podcast de três horas. Não, essas foram as palavras do anfitrião da COP29, proferidas na cúpula climática das Nações Unidas deste ano.

Em cada COP, a conferência anual do clima da ONU, espera-se que os líderes mundiais reafirmem seus compromissos para eliminar gases de efeito estufa e promover o fim dos combustíveis fósseis. Mas, em vez de repetir os lugares-comuns sobre a iminente “emergência climática” ou “crise ecológica”, Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, usou seu discurso de abertura em Baku, no dia 11 de novembro, para defender a exploração contínua de combustíveis fósseis e denunciar a hipocrisia dos moralistas verdes do Ocidente. 

E quer saber? Ele tem razão. 

Claro, Aliyev é o governante de um “petroestado”, então é natural que ele seja um defensor dos combustíveis fósseis. Aliás, os primeiros campos de petróleo do mundo foram desenvolvidos em Baku, em 1846. Segundo a Agência Internacional de Energia, o petróleo e o gás representam um terço do PIB do Azerbaijão e impressionantes 90% de suas exportações. Ainda assim, sua intervenção é tanto bem-vinda quanto surpreendente. Finalmente alguém explicitou o que a maioria dos líderes mundiais sabe que é verdade, mas se recusa a admitir publicamente: acabar com o uso de petróleo e gás não é uma opção para nações que querem prosperar. 

Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, na Cerimônia de Abertura da COP29, em Baku (11/11/2024) | Foto: Reuters/Maxim Shemetov

Nas últimas cúpulas da COP, isso só podia ser inferido pelas atividades de bastidores. Na verdade, tornou-se quase uma tradição anual um alto funcionário da COP ser flagrado usando a conferência para garantir lucrativos acordos de combustíveis fósseis nos bastidores do evento. Na semana passada, Elnur Soltanov, diretor-executivo da equipe da COP29 do Azerbaijão, foi filmado por um repórter disfarçado discutindo às escondidas “oportunidades de investimento” na estatal de petróleo e gás. No ano passado, documentos vazados mostraram que os Emirados Árabes Unidos planejavam usar sua presidência da COP28 em Dubai para assinar acordos de petróleo e gás com 15 outros países (os EAU dependem de petróleo e gás para quase metade de sua receita governamental). No Egito, em 2022, mais de 600 lobistas de petróleo e gás participaram da COP27. A cúpula de Sharm el-Sheikh foi a primeira em que lobistas de combustíveis fósseis foram convidados a participar de eventos oficiais. 

Cada vez mais, essas farsas são uma característica, não um desvio, dessas reuniões da ONU sobre o clima. Não se pode mais simplesmente menosprezá-las como as ações de um regime corrupto ou autoritário (por mais desagradáveis que esses regimes possam ser). O que elas mostram é que, para a maior parte do mundo, na hora da verdade, mitigar as mudanças climáticas é menos importante que garantir o fornecimento de energia e a prosperidade econômica. Não deveria ser diferente para nenhum país. 

As fantasias verdes do Ocidente

A COP28 do ano passado foi a primeira da história em que os signatários do acordo final concordaram explicitamente em “se afastar” de todas as formas de combustíveis fósseis. Mas, desde então, o consumo mundial de combustíveis fósseis atingiu um recorde histórico. De modo geral, petróleo, gás e carvão representam impressionantes 81,5% do uso primário de energia no mundo. A China, o maior emissor de CO₂ do mundo, está construindo o equivalente a duas usinas de carvão por semana. Na Índia, a demanda por eletricidade gerada a carvão atingiu um pico histórico neste ano. Os Estados Unidos — mesmo sob a administração ecofanática de Biden — atualmente estão produzindo mais petróleo do que qualquer outro país na história, um recorde que será sem dúvida superado quando Trump assumir o cargo. O presidente Aliyev criticou a União Europeia por assinar um grande acordo de gás com o Azerbaijão, enquanto também repreendeu o país pela “audácia” de produzir gás. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço — esse é o mantra dos alarmistas climáticos do Ocidente. 

Apesar do compromisso na COP28 de reduzir o uso de combustíveis fósseis, o consumo global e a produção de petróleo e carvão continuam a bater recordes históricos | Foto: Reuters/Maxim Shemetov

As razões para o contínuo aumento do uso de combustíveis fósseis não são exatamente difíceis de entender, mesmo que seja tabu falar delas. A verdade é que, em contraste com as fontes de energia renovável “intermitentes”, os combustíveis fósseis são relativamente confiáveis e baratos, além de fáceis de transportar. Fornecimentos abundantes e seguros de energia geram prosperidade, enquanto altos custos energéticos e incertezas no fornecimento levam ao crescimento limitado e à desindustrialização. A transição para a energia verde está se mostrando suficientemente dolorosa para o mundo desenvolvido — basta perguntar à Alemanha, que está pagando um preço alto por apostar tudo nas renováveis. Mas, no mundo em desenvolvimento, ela é catastrófica. É por isso que os países do Sul Global costumam ser os defensores mais ardorosos dos combustíveis fósseis. Eles sabem que nenhuma nação na história se livrou da pobreza com acesso limitado à energia. Sabem que o dogma de emissão zero, pregado todo ano na COP, é uma receita para a pobreza e a miséria. Os países mais pobres do planeta estão absolutamente certos em rejeitar esse miserável futuro “verde”. 

Quanto antes aposentarmos as decadentes fantasias verdes do Ocidente, mais brilhante será o futuro da humanidade.


Fraser Myers é editor-adjunto da Spiked e apresentador do podcast da Spiked. Ele está no X: @FraserMyers.

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