O pânico depois do acidente catastrófico da usina nuclear em Chernobyl, na União Soviética, em abril de 1986, resultou na construção de quase 400 usinas nucleares a menos do que havia sido projetado. Menos usinas nucleares limpas levaram a um aumento da poluição do ar causada por usinas movidas a combustíveis fósseis. Essa poluição extra matou muito mais pessoas do que a catástrofe nuclear, por várias ordens de magnitude. Essa é a conclusão preliminar de um estudo recente do National Bureau of Economic Research (NBER) feito por três economistas aplicados.
Os pesquisadores descobriram que a construção de novas usinas nucleares estagnou imediatamente após Chernobyl. Se essas tendências tivessem continuado, segundo a pesquisa, os Estados Unidos teriam construído mais de 170 novos reatores a esta altura. No final da década de 1960, a Comissão de Energia Atômica previa que mil reatores, a maioria de reprodução rápida, forneceriam 70% da eletricidade do país até 2000. Infelizmente, hoje apenas 20% da eletricidade dos EUA é gerada por usinas nucleares, a maior parte obsoletos reatores de água leve, construídos décadas atrás.
Embora as estimativas variem, os estudos concordam que a poluição do ar causou grandes danos à saúde humana. Max Roser, do Our World in Data, analisou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês) sobre as estimativas globais de mortalidade por poluição do ar. A OMS e o IHME relatam entre 4,2 milhões e 4,5 milhões de mortes precoces em decorrência da exposição à poluição atmosférica externa todos os anos. Um estudo de 2019 dos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) calcula que 3,6 milhões de pessoas morrem prematuramente como resultado da poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis. Esse estudo do PNAS estima que as 194 mil vidas abreviadas anualmente nos EUA como consequência da poluição do ar causada por combustíveis fósseis equivalem à perda anual de 5,7 milhões de anos de vida.
Vamos comparar essas estimativas com o número de mortes associadas à geração de energia nuclear. O derretimento parcial de Three Mile Island, nos EUA, em 1979, não causou ferimentos nem mortes, e o desastre causado pelo tsunami de Fukushima em 2011 pode ter levado a apenas uma morte relacionada à radiação anos depois.
A explosão do reator de Chernobyl matou dois funcionários, enquanto 47 trabalhadores de equipes de emergência que apagaram os incêndios do núcleo morreram posteriormente por exposição à radiação. A boa notícia é que um relatório de 2018 do Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica concluiu que a maioria das pessoas na região afetada pelo vento “foi exposta a níveis de radiação comparáveis ou algumas vezes mais altos do que os níveis anuais de radiação de fundo natural”. Assim, o relatório conclui que “grande parte da população não precisa viver com medo de sérias consequências para a saúde devido à radiação do acidente de Chernobyl”.
Usando dados de poluição do ar derivados de observações de satélite, os economistas do NBER descobriram que colocar um reator em operação reduz significativamente a poluição do ar por partículas finas ao redor das cidades mais próximas. A partir de estimativas fornecidas pelo Índice de Qualidade do Ar da Universidade de Chicago, eles calculam quanto a expectativa de vida teria aumentado com a redução da poluição do ar se a tendência extrapolada de instalar novas usinas nucleares não tivesse sido interrompida.
Segundo a estimativa dos economistas, a construção de cada usina nuclear adicional, ao reduzir a poluição do ar, poderia salvar mais de 800 mil anos de vida. “De acordo com nossas estimativas de base, nos últimos 38 anos, Chernobyl reduziu o número total de usinas nucleares em 389 em todo o mundo, o que é quase inteiramente impulsionado pela desaceleração de novas construções de usinas em países democráticos”, explicam. “Nossos cálculos sugerem, portanto, que em todo o globo mais de 318 milhões de anos de vida estimados foram perdidos nas democracias por causa do declínio no crescimento de usinas nucleares nesses países depois de Chernobyl.” Eles contabilizam que os EUA perderam 141 milhões de anos de vida em razão da desaceleração na implantação da energia nuclear.
Advertindo que essas projeções têm como objetivo apenas ilustrar uma linha do tempo hipotética na qual as usinas nucleares teriam continuado a crescer no mesmo ritmo de antes do desastre de Chernobyl, os pesquisadores concluem que “a poluição do ar provavelmente seria muito menor, o que, por sua vez, promoveria benefícios significativos para a saúde”.
Este artigo apareceu originalmente em versão impressa sob o título “Nuclear Power Saves Lives”.
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