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Foto: Shutterstock
Edição 246

Em vez da TV nova, comida

E mais: o PIB enganoso, o babado no Itaú, o sucesso do Botafogo, e o Jaguar cor-de-rosa

Amanda Sampaio
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De acordo com um levantamento da Cielo, as vendas no varejo cresceram mais de 16% no Brasil na Black Friday, acima da expectativa do mercado. Um dos fatores que explicam o índice positivo foi a antecipação da primeira parcela do 13º salário, paga pouco antes da data sazonal.

Mas os campeões de vendas desta vez não foram os eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Em vez de conquistar o tão sonhado celular, console de videogame ou notebook, o brasileiro aproveitou a temporada de descontos para comprar comida. Filas quilométricas se formaram na porta de supermercados e hipermercados. Os alimentos foram o segmento que mais cresceu na Black Friday, com alta de cerca de 26% nas vendas.

“Podemos dizer que isso, de certo modo, reflete um empobrecimento da população, que focalizou suas compras em supermercados e vestuário, e menos naquelas compras que eram o sonho de consumo, como smartphones, smart TVs ou viagens”, analisa Ulysses Reis, professor de varejo da Strong Business School.

O Natal deve seguir o mesmo caminho. Em alguns supermercados, inclusive, já é possível comprar os itens da ceia — como aves, azeite e azeitonas — parcelados em até seis vezes no cartão de crédito.

“Existe uma probabilidade muito grande de que as compras de Natal sejam mais fracas, principalmente quando a gente pensa nos artigos tradicionais, como calçados, vestuário, brinquedos e eletrodomésticos”, acrescenta Reis. “Provavelmente o Natal não vai ser tão interessante quanto foi no ano passado.”

‘Só uma lembrancinha’

Além dos alimentos, o especialista avalia que a tendência para o Natal é de crescimento nas vendas de itens mais baratos — como enfeites, lembranças, perfumes, maquiagens. Reis pontua que outro fator que contribui para esse cenário é a taxa de juros elevada, que restringe o acesso ao crédito.

Ao contrário do e-commerce, a alta do dólar não deve puxar os preços de produtos importados vendidos em lojas físicas neste Natal. O especialista explica que os estoques de produtos foram comprados pelas varejistas com antecedência, antes da recente disparada da divisa norte-americana. Mas ele sinaliza que o cenário deve mudar em breve. “O fato de o dólar estar na casa dos R$ 6 vai impactar, na verdade, em janeiro e fevereiro, quando acontecem as reposições de estoque”, diz.

Tendência para o Natal é de crescimento nas vendas de itens mais baratos | Foto: Shutterstock

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PIB em alta não é tão bom quanto parece

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira, 3, o produto interno bruto do Brasil (PIB), que avançou mais uma vez. No terceiro trimestre, o índice cresceu 0,9% em comparação ao mesmo período do ano passado. Esta foi a 13ª vez que o indicador subiu em bases trimestrais.

“O PIB do terceiro trimestre mostrou um consumo resiliente das famílias e a recuperação do investimento das firmas”, comenta o economista Maykon Douglas. “Como alicerces, temos a retomada do crédito em 2024, o impulso fiscal do governo e o mercado de trabalho aquecido, cujo desemprego deve fechar o ano em cerca de 6%.”

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemora, e argumenta que as altas sequenciais demonstram que a política econômica está no caminho certo. Porém, os próprios números do PIB desmentem essa afirmação, já que mostram que a economia está sobreaquecida por causa do aumento de gastos. 

Uma economia impulsionada a crescer além de sua capacidade, como acontece no Brasil, tende a ter inflação maior. Isso se soma ao aumento nas taxas de juros, desvalorização da moeda e crescimento da dívida. Como resultado, a atividade econômica acaba diminuindo.

“Um choque no hiato afeta mais intensa e persistentemente a inflação de serviços, um dos destaques do PIB”, acrescenta Douglas. “No mês de outubro, os preços de serviços subjacentes subiram 5,3% na média de três meses anualizada, bem acima da meta.”

Dólar alto deve puxar inflação em 2025

O dólar em alta histórica deve ser uma pedra no sapato do Banco Central e vai puxar ainda mais a inflação em 2025. Segundo Maykon Douglas, a expectativa é de alta, especialmente nos preços dos alimentos e dos bens importados.

“O fator cambial e o hiato explicam, em boa parte, as assimetrias altistas para a inflação, que pode variar cerca de 4,8% em 2025, a depender do grau dessas pressões”, avalia o economista.

“É grande o desafio em trazer a inflação à meta, visto que as expectativas futuras de inflação se distanciam da meta”, acrescenta Douglas. “É bem provável que o Banco Central acelere o ritmo de alta da taxa Selic para 75 pontos-base. Nesse contexto, a atividade aquecida amplifica tal desafio, não o contrário.”

Dólar em alta histórica deve ser uma pedra no sapato do Banco Central | Foto: Shutterstock

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Fantasma fiscal

O “fantasma” da questão fiscal no Brasil pode reaparecer com a expectativa de elevação da taxa básica de juros a 14% ou mais no ano que vem. É o que aponta um relatório exclusivo da Kinea Investimentos obtido por Oeste.

Segundo a gestora, a atividade econômica resiliente somada à inflação acima da meta é uma “constante pressão” sobre o Banco Central para subir a Selic. A Kinea avalia que a autarquia precisaria de uma taxa de juros em torno de 15% para levar a inflação de volta à meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O fundo de investimentos está sendo vendido na bolsa brasileira e percebe oportunidades melhores de aplicação em ações no exterior.

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Cartão corporativo gera demissão no Itaú

Nesta semana, a notícia da demissão do diretor de marketing do Itaú, Eduardo Tracanella, pegou o mercado financeiro de surpresa. O executivo atuava havia 27 anos na instituição e foi desligado por mau uso do cartão corporativo com despesas pessoais.

Nos bastidores, a informação que circula é de que Tracanella “esbanjava”, inclusive com a equipe de funcionários. 

Responsável por liderar campanhas importantes — como a dos cem anos da história da marca —, o executivo era uma figura respeitada dentro da instituição e querida pelos colaboradores.

Segundo fontes, Tracanella enfrentava conflitos com Sergio Fajerman, executivo de recursos humanos que assumiu o marketing há pouco mais de dois anos. A disputa entre os dois envolvia tanto a gestão interna quanto o relacionamento com fornecedores externos.

Demissão do diretor de marketing do Itaú, Eduardo Tracanella, pegou o mercado financeiro de surpresa | Foto: Reprodução/Redes Sociais

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SAF no topo

A vitória do Botafogo na Libertadores da América consolida a Sociedade Anônima de Futebol (SAF), do americano John Textor, como um caso de sucesso no futebol brasileiro. O empresário, que tem fortuna estimada em US$ 1,5 bilhão, comprou 90% das ações do time fluminense por R$ 400 milhões. 

Caso o Glorioso vença o Campeonato Brasileiro neste domingo, 8, metade do investimento de Textor voltará aos bolsos do chairman. A premiação total do clube em 2024 pode chegar a R$ 247,8 milhões.

Botafogo conquista a Conmebol Libertadores 2024 | Foto: Reprodução/Redes Sociais

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O Jaguar virou gatinho?

Os fãs de automóveis certamente esbarraram nos últimos dias com o rebranding polêmico da icônica Jaguar. A marca, que estava esquecida, decidiu ressurgir das cinzas flertando com a cultura woke.

Antes conhecida por seu posicionamento imponente e luxuoso, a montadora britânica estreou uma campanha que promove a “inclusividade” e flerta com um público com o qual nunca conversou — e que nem sequer tem o automóvel como um estilo de vida. 

Divulgado nas redes sociais, o vídeo promocional de 30 segundos exibe modelos de várias idades, gêneros e etnias, acompanhados de frases como “viva intensamente”, “elimine o trivial” e “seja original” — tudo isso embalado por uma trilha techno minimalista. O resultado desagradou.

YouTube video

Para selar de vez o reposicionamento, a Jaguar divulgou nesta segunda-feira, 2, o carro-conceito que vai orientar o futuro da marca: um sedã rosa elétrico de traços finos.

Apesar disso, o veículo promete ter autonomia estimada de até 770 quilômetros no ciclo WLTP e recarga rápida, o que vai permitir acrescentar em 15 minutos mais 321 quilômetros de autonomia.

Jaguar Type 00 in Miami Pink | Foto: Divulgação/Jaguar

Leia também “A guerra da ANTT contra a concorrência”

4 comentários
  1. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Que gente feia nesse comercial da Jaguar

  2. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    O Brasil está caminhando com uma granada na mão onde o pino de segurança já foi removido.
    A explosão e os estragos são a única certeza que temos.

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Difícil acreditar no IBGE, com uma figura como Márcio Pochmann no comando.

  4. Rosely M G Goeckler
    Rosely M G Goeckler

    Eu me lembro do impressionante e arrojado Jaguar vermelho de Juca Chaves subindo a Pamplona!
    Era de parar o trânsito! Maravilhoso!

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