Que nome se dá a quem discute algo por mais de dois meses e mesmo assim entrega algo ruim, insuficiente? Refiro-me ao pacote de corte de gastos que o governo Lula passou esse tempo todo planejando em reuniões fechadas — indo, vindo, voltando e indo de novo para voltar uma vez mais — e não foi capaz de mostrar que o governo tinha tomado jeito e faria o que não se espera do lulopetismo, ou seja, ser finalmente responsável com as contas públicas. E por quê? Porque não quis. É difícil pensar em outra resposta plausível. Que o PT é a gênese de um perdularismo crônico e patológico, não é novidade. Mas, se nem a dívida bruta passando dos R$ 9 trilhões pela primeira vez e os 16 meses de déficit primário consecutivos que acumulou, numa gestão que ainda nem tem dois anos, seduziram a turma que ocupa o Palácio do Planalto, o que mais seria preciso?
Em economia, há o lado prático e o político. Devem andar juntos. Quando isso acontece, a atividade econômica cresce, a geração de emprego fica mais robusta e sustentável, o que aumenta o poder de compra com geração de expectativa de prazos mais longos em todos. Esse ciclo de bonança conjugada com austeridade governamental e inflação controlada proporciona ares de um ambiente sustentável no médio e longo prazo. A vida ganha previsibilidade.
Quando a economia é movida a política séria sob o interesse público realmente público, o país avança, como já avançou por diversas vezes, mesmo saindo de crises profundas.
Não apenas pela crença inabalável deste colunista no Brasil, mas pela lembrança acessível a todos, fato é que a solução para nossos problemas está dentro do país nas experiências bem-sucedidas que fizemos acontecer.
Lembremo-nos do Plano Real e o que foi capaz de resolver. Pensado, criado, executado e apoiado por brasileiros, a hiperinflação de três dígitos foi defenestrada e, ao voltarmos a ter uma moeda estável, saímos da selvageria econômica e voltamos ao mundo civilizado. A genialidade dos criadores do Plano Real foi tamanha que o Prêmio Nobel provavelmente se ressente de não ter se dado a eles.
Em tempos mais recentes, depois da maior e da pior crise econômica de nossa história, a recessão de Dilma Rousseff em 2015 e 2016, o governo de Michel Temer avançou com a regra do teto de gastos, um antídoto ao veneno do lulopetismo de rombos fiscais, trazendo ao país a estabilização da dívida e a responsabilidade à administração pública. O devido respeito ao dinheiro do pagador de impostos começava a ser restaurado. Vieram igualmente a reforma trabalhista, que modernizou as relações de trabalho, e a moralizadora Lei das Estatais. Naquele momento, o governo devolvia a gestão das empresas públicas a técnicos capazes, brecando a danosa influência político-partidária que levou empresas como a Petrobras e os Correios ao banco dos réus. Logo em 2017, a economia deu resposta e o Brasil viu o PIB crescer 1,1%, depois da enorme retração de 7,2%. Era um buraco. Saímos.
Mesmo na pandemia, um ponto fora da curva sem precedentes na história das maiores crises da humanidade, o governo Bolsonaro fez o Brasil se recuperar mais rápido e acima da média global com desburocratização e ajuda estatal a pessoas e setores da economia que sofreram com o famigerado “fique em casa”. Passado o pior, o ambiente favorável aos negócios e ao investidor, que permeava as decisões de política econômica, permitiu a forte retomada da economia brasileira que surpreendeu o mundo. No último ano da gestão, em 2022, o país atraiu US$ 86 bilhões em investimentos estrangeiros diretos, um dos maiores do mundo. Note que, no mesmo período, a invasão do exército russo à Ucrânia havia adicionado dois novos problemas: instabilidade geopolítica e forte alta no preço do petróleo no mercado internacional, provocando inflação global, no momento em que o planeta tentava se recuperar de dois anos praticamente fechado. A solução brasileira da economia liberal do então ministro da Economia Paulo Guedes? Cortar impostos. O Brasil respondeu e cresceu 2,9% com aumento da arrecadação. A perfeita combinação de austeridade governamental e crescimento do PIB trouxe um superávit de R$ 54 bilhões nas contas do governo, apesar da guerra e com o mundo ainda lidando com os efeitos da covid. O legado era de gente grande candidata a OCDE.
Se estamos no mesmo país e sob as mesmas crises internacionais, o que diferem aqueles momentos da realidade de agora? As pessoas que estão no comando. Simples assim. Talvez por isso, a pesquisa Quaest do início deste mês de dezembro tenha demonstrado que 90% dos analistas de mercado, economistas e gestores de fundos de investimento no país têm percepção negativa do governo Lula/Haddad. Ou que empresários como Rubens Ometto tenham voltado a fazer duras críticas ao governo, questionando os rumos das mesquinhas políticas “de partido” adotadas, que não guardam relação com o interesse público e o momento desafiador pelo qual passamos. Em evento do grupo Esfera Brasil e tendo à frente Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, o maior executivo da Cosan e do setor sucroalcooleiro do país disse que o governo não enfrenta o déficit fiscal porque não quer: “Desculpem o meu francês, mas estamos ferrados”. Não foi um desabafo qualquer.
O déficit fiscal apontado por Ometto, que carrega a pecha de ter sido um dos maiores doadores à campanha de Lula, é a razão de o Brasil estar na iminência de mais um voo de galinha. E é isso que parece estar sendo ignorado pelo populismo atroz de Lula. Gastos públicos desenfreados que não aumentam a produtividade e tampouco preparam o país para o futuro contribuem para pressionar a inflação, que terá de ser combatida com juros cada vez mais altos. E, neste país, a história demanda, não se tergiversa com inflação crescente. Ela pune sobretudo os mais pobres e arrebenta o poder de compra da classe média. Daí que a autonomia no Banco Central é vital na política monetária. Mas, se a política econômica é ruim, e ela vem do Executivo, os juros anti-inflação apenas conseguem conter a sangria.
O governo insistirá que alguns números da economia são positivos, como emprego e até o crescimento do PIB, com o resultado do terceiro trimestre de avanço de 4% em relação ao mesmo trimestre de 2023. Mas a desaceleração de 0,9% frente ao resultado de junho deste ano é um sinal de que os investidores podem estar tirando o pé, dada a piora das expectativas. Quando um governo gasta mais do que arrecada e não dá mostras de que compreende o erro que está cometendo ao entregar um pacote insuficiente, tímido em cortar despesas e incapaz de mudar a trajetória do endividamento compulsivo, é caso de cegueira ideológica que rejeita o buraco à frente porque discorda da imagem. Só que o buraco continua lá.
Na economia, insisto em dizer, há o lado prático, que obriga um governo a enfrentar com coragem os problemas. E a responsabilidade da política, que não lhe permite postergar as soluções, independentemente do custo eleitoral. Estadistas pensam assim, fazem assim.
E estadistas são feitos de competência, seriedade e coragem.
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Estamos revivendo a era Dilma com um agravante. Agora se pisa com mais força no acelerador.
O desastre é logo ali.
Qualquer país sob um desgoverno totalmente inundado pela incompetência só um destino: o desastre econômico e social e o Brasil está acelerando com força total nesta direção.
Juros cada vez mais alto, como confirmado esta semana.