Uma das tradições da República brasileira é a ocultação de problemas de saúde de políticos, sobretudo quando candidatos. Esse mau costume começou em 15 de novembro de 1918, quando o presidente eleito, Rodrigues Alves, morreu antes de tomar posse. Em tese, o vice-presidente, Delfim Moreira, governou interinamente até julho de 1919. Na prática, o vice em exercício não deu uma única ordem — por sofrer de uma demência causada pela arteriosclerose precoce. Durante os oito meses em que se manteve a fantasia, as decisões eram tomadas pelo ministro Afrânio de Melo Franco.
Esse mesmo desvio de comportamento matou Petrônio Portella, um dos civis mais poderosos do regime militar. Em janeiro de 1980, o então senador pelo Piauí sentiu-se mal durante uma viagem a Santa Catarina. De volta Brasília, em vez de correr para o hospital, preferiu conceder uma entrevista coletiva no aeroporto. Enquanto falava, o princípio de enfarte se agravou, e Portella sucumbiu a um ataque cardíaco antes de ser socorrido.
No caso mais notório, em 1985, Tancredo Neves protagonizou uma sequência de absurdos sem precedentes. Convencido de que os militares não aceitariam a presença do vice, José Sarney, no gabinete presidencial, Tancredo resolveu que só depois da posse, em 15 de março, revelaria uma diverticulite que o consumia. Nos 38 dias que separaram a primeira internação, na véspera da posse, da morte, em 21 de abril, a encenação foi tão detalhada que, entre uma e outra operação, foi divulgada uma fotografia em que Tancredo sorria para a câmera. Soube-se mais tarde que os médicos e enfermeiros esconderam as bolsas de soro e medicamentos. Tudo para simular uma melhora inexistente.
Agora, mais uma vez, os brasileiros foram surpreendidos com a notícia da internação de Lula para uma operação urgente. “Todo o bilionário ‘sistema de comunicação’ do governo levou nada menos do que sete horas inteiras, das 22h30 do dia 9 de dezembro até as 5h30 do dia seguinte, para dizer que o presidente da República tinha sido transportado de avião de Brasília até São Paulo para uma cirurgia no crânio”, destacou J.R. Guzzo na reportagem de capa desta edição.
Depois de dois dias garantindo que o presidente “nunca esteve melhor”, a equipe médica informou que Lula passaria por uma segunda intervenção na UTI. “Não ficou claro por que o procedimento foi necessário, se horas antes não era, e por que foi preciso prevenir riscos, declarados até então inexistentes”, observou Guzzo.
A situação ameaça o futuro de uma seita que, dependente de um único líder, prefere fazer de conta que a hora da orfandade nunca chegará — e continua sem candidatos viáveis para substituir Lula em alguma eleição. “Não adianta pedir que o STF ‘faça maioria’ para declarar que a morte do presidente é ‘inconstitucional’, ou mande que ele ressuscite quando morrer”, afirmou Guzzo.
Como não têm esse poder (“ainda”, diria Alexandre de Moraes), ministros do STF continuam mostrando no plenário por que esta Corte é uma das piores da história. Dias Toffoli afirmou que agredir uma mulher poderia ser uma forma de “liberdade de expressão” — e, por isso, toda liberdade deve ter limites. Alexandre de Moraes declarou guerra ao CAPTCHA. As pérolas verbais dos ministros decididos a justificar a instalação da censura prévia no Brasil estão no artigo de Augusto Nunes.
Enquanto o Brasil segue governado por Lula e pelo STF, Gustavo Segré conta como está a Argentina depois de um ano de Javier Milei no poder. E Dagomir Marquezi comenta a nova revolução de Elon Musk, que já começa a ser implantada na Califórnia: a conexão direta do satélite com o celular. Isso não só torna obsoleto o papel das operadoras como dificulta sensivelmente a atuação de ditadores e amantes do autoritarismo. Apesar de tudo, há motivos para comemorar.
Boa leitura.
Branca Nunes,
Diretora de Redação
Acho que a quadrilha petista tem como plano a garota de programa de presídiario na sucessão. O uso de apelido popular, as frequentes aparições em agendas presidências, isso tudo tem um por que…
E o povo brasileiro sabem como é, fraco mentalmente, se comovem facilmente…
Comemoro cada edição.
👏👏👏👏👏👏👏👏
Comemoro cada edição.
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A melhor notícia é o celular no satélite
Tá bom Dona Branca. A gente (eu e a esposa) vai lendo aos poucos toda a edição, como sempre. Não se surpreendam que se o Lula falecer ele terá ainda uns dias para assinar cheques que estão faltando distribuir. Lembrei do filme El Cid…
O Brasil sempre descendo ladeira abaixo. Com esse governo ou qualquer outro pouco mudará.
Só restará aos pobres e remediados, os assalariados principalmente, pagarem as faturas cheias de fraturas expostas e corroídas com o tempo que teimam, insistem na perdulária ineficiência do sistema, da burocracia, das benesses e outras coisas mais.
As mudanças óbvias e necessárias por incrível que pareçam só pioram a situação. Haja vista a reforma ou o aumento de impostos, aprovada agora, o tal arcabouço fiscal ou “reforma tributária”(sempre no apagar das luzes) que não reformou absolutamente nada! É aumento de impostos sim de novo para a massa. Cortar despesas? Acabar com as Mordomias? Deixar a burocracia de pernas bambas? Acabar com os peleguismos?Fazer uma reforma POLÍTICA? Do judiciário? Nada vezes zero! É isso.
Assim vai mudar como? O quê?
Daqui a dez mil anos como já dizia o Raul Seixas! Será? Talvez!