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Foto: Shutterstock/Vladimir Gjorgiev
Edição 247

Defesa enfraquecida

Nossas Forças Armadas recebem cada vez menos recursos para adquirir meios dissuasórios que façam respeitar nossa soberania, e perdemos cada vez mais nossos militares mais valiosos

Alexandre Garcia
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A médica capitão de mar e guerra Gisele Mendes de Souza e Mello havia acabado de entregar medalhas a militares do Serviço de Saúde da Marinha, quando recebeu um tiro de fuzil na cabeça, na terça-feira, 10. Estava no Hospital Marcílio Dias, a principal instituição de saúde da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro. Mas foi como se estivesse em um hospital de campanha, em plena guerra. Na verdade, ela estava no campo de batalha do Rio de Janeiro, onde o inimigo ocupa territórios que já não estão sob a soberania do Estado brasileiro. A arma que a matou certamente veio do exterior, atravessando a fronteira — o mesmo lugar por onde passa a droga vendida nas cidades brasileiras, cujo faturamento é utilizado para comprar as armas e munições que sustentam um exército fora da lei, desafiando as Forças Armadas e as polícias do Brasil. Nossa defesa nacional, patrimonial e pessoal está cada vez mais enfraquecida, por falta de meios e de pessoal. E falta de vontade das autoridades. A polícia é difamada pela mídia, e perdem recursos e soldados a Marinha, o Exército e a Forca Aérea.

Gisele Mendes de Souza e Mello havia acabado de entregar medalhas a militares do Serviço de Saúde da Marinha, quando recebeu um tiro de fuzil na cabeça | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Paulo é filho de um amigo meu, comandante da Latam. No Dia dos Pais de 2019, aconteceu um fato histórico na cabine de comando do voo Porto Alegre-São Paulo-Brasília-Salvador, ida e volta, pai e filho pilotando. Paulo como copiloto do pai, em uma homenagem da escala, comemorando com os passageiros o dia festivo. Paulo é um dos muitos pilotos que deixaram a FAB. Ele servia, como capitão aviador, na Base Aérea de Natal, quando pediu para sair, atraído por melhores oportunidades fora do serviço público militar. Depois dele, outro capitão da mesma turma, piloto de caça, saiu, chamado pela Boeing. Como esse, seis pilotos de caça, formados a custos elevadíssimos. Perderam a motivação e deixaram a Força Aérea, indo para a Latam.

A CNN fez um levantamento e constatou que a evasão é crescente nas três Forças, e não apenas com pilotos de caça. Fuzileiros, médicos, engenheiros navais deixaram a Marinha; o Exército teve 346 pedidos de baixa no ano passado e neste ano deve ter mais. Nos últimos dez anos, Exército e Marinha perderam mais de 5 mil militares altamente preparados, com cursos acadêmicos e especialidades, todos custeados pelo imposto público. O soldo é pouco, e eles vão em busca de salários compensadores. Além disso, eles não têm hora extra, não têm adicional noturno, ou de periculosidade, ou de insalubridade. Mais do que isso, juram dar a vida pela defesa da pátria. Uma atividade que não comporta idoso e cuja idade de aposentadoria o governo quer elevar. Defesa da pátria depende de vocação, motivação e vigor físico — mas muitos se veem como futuros burocratas e desistem.

Exército teve 346 pedidos de baixa no ano passado e neste ano deve ter mais | Foto: Divulgação/Marinha do Brasil

Fui ver em Brasília, no Centro de Convenções, uma gigantesca mostra da base industrial de defesa. Passei um dia lá e descobri que eu, jornalista, estava desinformado sobre a pujança do setor, criador de tecnologia de ponta. Imagine que duas empresas brasileiras estão desenvolvendo um míssil hipersônico, como o Rato 14-X, com oito vezes a velocidade do som, como aquele com que Putin ameaça a Ucrânia; um radar que cobre todas as 200 milhas do nosso mar territorial, atraído pela salinidade da água; outro que não pode ser destruído porque não é detectável; equipamento de controle de tráfego aéreo; aviões, no Rio Grande do Sul, que gastam menos combustível num voo Porto Alegre-Brasília que um automóvel; drones e veículos aéreos não tripulados; armas portáteis entre as mais procuradas nos Estados Unidos; fuzis que disputam concorrência para abastecer um dos maiores exércitos do mundo; pesquisa nuclear no país de imensas reservas de urânio e metais pesados; simuladores de submarino, aviões e artilharia; veículos blindados de qualidade mundial; protetores que podem formar domos sobre estádios, espaços críticos ou presídios; equipamentos policiais, como blindagens, algemas, visores noturnos; criptografia para detecção e comunicação; uniformes inteligentes que detectam desidratação, desequilíbrios corporais, febre, liberam assepsia para ferimentos; e equipamentos médicos, que vão de torniquetes a cadeiras de campanha para dentista, como as que o Exército dos Estados Unidos comprou — e estou me esquecendo de muito mais, inclusive do que é usado para dissuadir Maduro a entrar em nosso território se tentar invadir a Guiana.

Tudo isso abastece países para garantirem sua soberania e a vida e o patrimônio de seus cidadãos e empresas. Por ironia, o país onde tudo isso é produzido, com grande avanço tecnológico, carece de meios para se defender como Estado e como nação. Por nossas fronteiras entram armas e drogas que levam guerra para dentro de nossas grandes cidades. Nossas Forças Armadas recebem cada vez menos recursos para adquirir meios dissuasórios que façam respeitar nossa soberania e nossas Amazônias — a verde e a azul —, assim como nossa fronteira, e perdemos cada vez mais nossos militares mais valiosos. Além disso, perdemos cérebros jovens e brilhantes que são atraídos por melhores oportunidades nos Estados Unidos. O que vale para dissuadir possíveis agressores da pátria vale também para dissuadir os que nos assaltam nas ruas, lares e empresas. Com Forças Armadas e polícias enfraquecidas, não temos paz que garanta o trabalho que gera progresso e bem-estar. Um paradoxo para este país imenso mas ingênuo a respeito de seu potencial.

Com Forças Armadas e polícias enfraquecidas, não temos paz que garanta o trabalho que gera progresso e bem-estar | Foto: Sargento Lorençato/ Exército Brasileiro

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13 comentários
  1. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Alexandre, um país que não valoriza sua força de trabalho, principalmente os mais preparados, está condenado ao fracasso.
    Seu artigo revela uma situação familiar. Minha filha é graduada em Enfermagem com pós graduação e servia como 3º Sargento no HGC em Curitiba.
    Depois de muito murro em ponta de faca, resolver abrir mão do Exército Brasileiro e aceitou oferta da iniciativa privada.
    Triste realidade de um país que ao longo de 135 de anunciação da república – ela ainda carece de proclamação – não encontrou um modelo de desenvolvimento que o coloque em destaque no cenário mundial.

  2. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Entrei para a Marinha por concurso para seguir carreira militar, minha turma hoje é ,em sua maioria, capitão-de-fragata, e diferente da maioria, eu não enxergava como um emprego estável, com aposentadoria garantida e progressão de carreira. Eu tinha a ilusão de servir realmente à patria, achava que seria tudo correto e organizado. Foi uma grande decepção. Os comandantes são meros funcionários públicos, burocratas, os praças sim tinham o perfil militar que eu imaginava ser necessário. Fiquei tão decepcionada que pedi baixa tres anos depois. Nunca me arrependi.

  3. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Entrei para a Marinha por concurso para seguir carreira militar, minha turma hoje é ,em sua maioria, capitão-de-fragata, e diferente da maioria, eu não enxergava como um emprego estável, com aposentadoria garantida e progressão de carreira. Eu tinha a ilusão de servir realmente à patria, achava que seria tudo correto e organizado. Foi uma grande decepção. Os comandantes são meros funcionários públicos, burocratas, os praças sim tinham o perfil militar que eu imaginava ser necessário. Fiquei tão decepcionada que pedi baixa tres anos depois. Nunca me arrependi.

  4. Wilson Tadeu Pires
    Wilson Tadeu Pires

    Tem razão

  5. Julio Pereira Lima
    Julio Pereira Lima

    Falta um bukele para o Brasil

  6. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Militares mais preocupados com as suas gordas aposentadorias do que com o futuro do país. Este é o resultado. População desacreditada perante a instituição.

  7. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    O Fachin proibiu elicópteros sobrevoar os morros do Rio de Janeiro pra não invadir a soberania dos traficantes. O que Alexandre tá falando sobre tecnologia de defesa nacional só pode ser fake news, porque as informações eram que as FFAA estavam sucateadas. Como vamos saber o que é verdade nesse Brasil comunista/capitalista????

  8. Francisco Nascimento Garcia
    Francisco Nascimento Garcia

    A esquerda já ha muito tempo quer colocar cabrestos nas forças armadas ou então enfraquece-las ou mesmo destrui-las.
    Parece que estão conseguindo!

  9. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Pois é Alexandre, com tanto desenvolvimento e conhecimento cibernético das FFAA, o Ministério da Defesa após minuciosa análise de seus TIs, relataram ao TSE que “não exclui a possibilidade de FRAUDE ou inconsistência nas urnas eletrônicas”, e foram desprezados. Até agora não entendo porque não exigiram do TSE o adequado aperfeiçoamento com o VOTO IMPRESSO ou AUDITÁVEL, como desejava a maioria do povo brasileiro. Logicamente o povo acreditou nas FFAA, até então, a mais respeitada e admirada INSTITUIÇÃO brasileira.
    A boa imprensa brasileira deveria unir empresários, juristas, economistas, políticos, religiosos e militares para liderarem manifestações pacíficas e ordeiras para EXIGIR que o CONGRESSO NACIONAL implante no TSE o VOTO IMPRESSO para as eleições de 2026, já devidamente aprovado em LEI anterior e testado para APERFEIÇOAR as urnas sem que haja necessidade de desenvolver novo processo eleitoral, prazos, etc. Entendo que só assim haverá a pacificação da população brasileira, ao menos a de centro direita.

  10. José Pedro Scatena
    José Pedro Scatena

    O anacrônico desejo de vingança da esquerda brasileira.eira contra as nossas FFAA está gerando insegurança em todos os sentidos da palavra. O objetivo das FFAA de defender o país de inimigos externos ou interno está cada vez mais difícil de ser realizado. Nossas fronteiras desapareceram, pois já não há quem as guarde. O sonho “progressista” de uma América do Sul unida, aquela estupidez da UNASUL, está se tornando realidade, enquanto nossa Indústria de Defesa, totalmente desenvolvida pela iniciativa privada, abastece as forças armadas de países de primeiro mundo mas é ignorada por este desgoverno.

  11. Eudes
    Eudes

    ESTAMOS PERDIDOS, TANTO NO MEIO MILITAR QUANTO NO CIVIL, PREDOMINA A CORRUPÇÃO, CADA QUAL QUER É APROVEITAR O QUE PUDER, SE LOCUPLETAR, ENQUANTO A MISÉRIA DO POVO QUE TRABALHA PARA SOBREVIVER CRESCE A OLHOS VISTOS, E, OS SÍMBOLOS E VALORES DA PÁTRIA FORAM ABANDONADOS.

  12. Andre mendonça
    Andre mendonça

    As ffaa tupiniquins nunca estiveram com o prestígio tão ao nível dos meios-fios pintados dos seus quartéis como atualmente. Milhões de brasileiros se sentem traídos por elas ao permitirem que o país fosse entregue a uma organização criminosa.

    1. Eudes
      Eudes

      Concordo com o André.

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