A vida política do Brasil travou de um jeito que não vai mais para a frente, porque não existe mais frente, e nem para trás, porque não é possível viver duas vezes o tempo que já foi vivido — como no filme Feitiço do Tempo, em que hoje era igual a ontem, e amanhã seria igual a hoje. A trava se chama Lula. Como acontece com 100% dos seres humanos desde Adão e Eva, quem nasce morre; não houve nenhuma exceção até hoje. Mas o Brasil dos políticos, dos “formadores de opinião” e das “instituições” age como se a regra não fosse se aplicar a Lula. Resultado: tudo é Lula, Lula e Lula. (Isso quando não está sendo Bolsonaro, é claro.) Só que não é assim, porque não pode ser.
O presidente foi internado para uma operação de urgência no crânio, em São Paulo, e, como acontece com todo mundo desde que o macaco desceu da árvore há 2 milhões de anos, deu mais um passo na fila de espera para o último voo. Mas na política deste país não aconteceu nada; entende-se, ao contrário, que não houve problema nenhum, que está tudo igualzinho ao que era e que cirurgias para retirar hematomas da caixa craniana são a coisa mais normal do mundo, dessas que você cura com um Melhoral e mais um bom chá de erva-cidreira. Pior: perguntar (só perguntar) se é assim mesmo é “dar munição para a extrema direita”. É óbvio que não se vai a lugar nenhum desse jeito.
A situação ficou mais tensa, pelo entendimento comum, quando um pouco depois da cirurgia a equipe médica anunciou, ou teve de anunciar, que Lula iria passar por uma segunda intervenção na UTI. Desta vez foi um cateterismo para reduzir, segundo os comunicados dos cirurgiões, os riscos de novos sangramentos entre o crânio e o cérebro — o motivo para a primeira operação. Mais uma vez, foi assegurado que tudo estava mais do que perfeito, que isso é normal, que Lula está intacto do ponto de vista neurológico. Não ficou claro por que o procedimento foi necessário, se horas antes não era, e por que foi preciso prevenir riscos, declarados até então inexistentes. O problema, de qualquer forma, fica do mesmo tamanho.
Trata-se do seguinte: Lula vai sumir da realidade política do Brasil porque vai morrer, como todo mundo que está vivo na data de hoje, e a extrema direita não vai ter absolutamente nada a ver com isso. Também não adianta coisa nenhuma pedir que o STF “faça maioria” para declarar que a morte do presidente é “inconstitucional”, ou mande que ele ressuscite quando morrer. A Polícia Federal do ministro Alexandre de Moraes pode dizer, e a imprensa pode acreditar, que a direita ia envenenar Lula e sabe lá Deus o que mais. Mas no mundo das coisas reais o problema do presidente é muito pior, porque existe — simplesmente isto, existe, e não há rigorosamente nada que a PF possa fazer a respeito.
Na verdade, todo mundo sabe muito bem que as coisas são assim; até o PT e a Rede Globo sabem. Mas, como todo esse mundo finge que não é assim, a circulação de oxigênio na política brasileira fica paralisada. É como se o Brasil estivesse vivendo do ar que já respirou nos últimos 40 anos. Tudo bem, mas esse ar não existe mais. O resultado prático é o negacionismo neurótico que se vê quanto ao prazo de validade do presidente. Não há mais Lula pela frente na política brasileira; também não se pode voltar atrás, em busca de um Lula que não vai existir de novo. É desagradável dizer esse tipo de coisa, mas ele não é o futuro porque não vai mais estar vivo. O autor deste texto também não. Desculpe muito, leitor — nem você.
O que adianta fingir? O fato, puro e simples, é que cerca de 55 milhões de brasileiros, hoje, têm menos de 18 anos de idade. Qual o sentido que vai ter Lula para essa multidão toda? Ele simplesmente não vai existir em suas vidas. Somem-se a esses os que têm entre 18 e 30 anos, e fica evidente que Lula está em vias de se tornar uma figura do passado para os brasileiros — como o Regente Feijó, ou coisa que o valha. Não é culpa dele, claro. Mas o que é que se pode fazer? O Brasil da política e dos políticos já deveria estar focado no que vem pela frente, em vez de continuar com o olhar fixo no que já passou.
Só que não — e a internação de Lula no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo mostrou mais uma vez que não. O que se viu foi o oposto. Todo o bilionário “sistema de comunicação” do governo levou nada menos do que sete horas inteiras, das 22h30 do dia 9 de dezembro até as 5h30 do dia seguinte, para dizer que o presidente da República tinha sido transportado de avião de Brasília até São Paulo para uma cirurgia no crânio. Quando resolveram dar alguma informação, foi para dizer que as coisas nunca estiveram tão bem com Lula. Falaram, aí, todos de uma vez: o ministro das Comunicações, o ministro da Política, o advogado-geral da União, Janja, os médicos. (O AGU, inclusive, teve a ideia de dizer que Lula “venceu a ditadura”.) Deu soma zero.
Pouco antes de ir para o hospital, Lula tinha atacado, mais uma vez, “a comunicação” que ele próprio nomeou, e você paga, pelo fiasco sustentado do seu governo. O presidente garantiu que está fazendo um show de governo, mas o problema é que até agora, após dois anos, ninguém no Brasil ficou sabendo disso. A culpa, disse ele, é da “comunicação” — não soube contar a ninguém as obras que já fez ou, se contou, ninguém entendeu nada. Jamais passou pela sua cabeça, é lógico, que a “comunicação” não comunicou porque não há obra nenhuma a comunicar; seu governo é uma droga porque nem ele, e nem ninguém em seu redor, governa. Mas não há dúvida, ao mesmo tempo, de que o seu esquema de “comunicação” vai entrar para a história mundial da inépcia na ciência da propaganda.
Uma das causas fundamentais dessa exibição pública de incompetência é o fato de que Janja se imagina, e age como se fosse, o grande cérebro da comunicação do governo, sobretudo na “área digital”. Lula não percebeu isso até agora, ou não quer perceber. Sua mulher desperdiçou seus primeiros dois anos como primeira-dama fazendo dancinhas na internet, querendo mostrar que salvou o cavalo “Caramelo” e dizendo “fuck you, Elon Musk”. Não pode dar certo, em nenhuma circunstância, mas o presidente acha que a culpa é do ministro. Ele é uma das mais óbvias nulidades que já passou pelo governo federal, certo — mas, no fundo, nem ministro é, quando se leva em conta a quantidade de gente que dá palpite e gasta dinheiro do Tesouro Nacional querendo ser “czar” da comunicação em Brasília.
Janja dá palpite. Os ministros dão palpite. O marqueteiro de campanha (que acaba de levar uma surra nas eleições municipais) dá palpite. Até o fotógrafo do presidente dá palpite. Esperar o que disso aí? O governo já é ruim. O ministro da Comunicação é ruim. O advogado-geral pode advogar, mas como comunicador é um duplo zero. Talvez faça sentido para eles, quando se pensa um pouco. Afinal, uma das figuras fundamentais do governo Lula é o ministro Dias Toffoli, do STF — para quem o trem de ferro, como ele acaba de dizer em público, é “uma via de comunicação”. (Veja o artigo de Augusto Nunes, nesta edição.) Aí fica difícil.
A verdade verdadeira, na hora do duelo final ao pôr do sol, é que a comunicação não é o problema do governo Lula, assim como o ministro não é o problema da sua comunicação. O problema do governo Lula é que Lula vai acabar, como tudo acaba nesta vida — e não há ninguém para a esquerda nacional, para as classes civilizadas e para o resto dessa praia colocar no lugar dele. E quando ele vai embora? Tanto faz. O fato é que a hora está marcada, ninguém pode mudar e não há “maioria” do STF, nem Alexandre de Moraes em pessoa, capaz de resolver isso. É só ver os nomes que estão aparecendo para dar sequência ao projeto “civilizatório” do ministro Barroso.
É uma espécie de Museu de Cera Madame Tussaud. O que aparece ali é Haddad, a deputada Hoffmann, Janja, o senador Pacheco, o ministro Zé, o ministro Mané. Em desespero de causa, falou-se até em Simone Tebet, para se ter uma ideia de onde estão amarrando o burro progressista neste país. Que tal, nesse caso, o ministro Moraes logo de uma vez? Em sua última manifestação de massas, uma comédia de circo em que o público presente não daria para encher três ônibus da CUT, falaram contra a anistia, contra o genocídio dos jovens negros, contra o “PL do estupro” etc. etc. etc. e a favor da taxação dos ricos, do “fim da escala 6×1”, da prisão de Bolsonaro — e, vejam só, do ministro Moraes.
Por que não? É só o TSE, em mais uma de suas eleições com escrutínio secreto, dizer que ele ganhou, como se faz na Venezuela, e não apresentar “ata” nenhuma, como Lula queria que apresentassem. As Forças Armadas, com seus R$ 50 bilhões de aposentadorias garantidas por ano (50 bi são só o déficit), vão dar apoio intransigente à “legalidade” e declarar que decisão da Justiça não se discute, se cumpre. Futuro resolvido.
Leia também “Aposta na ditadura”
Enquanto contarmos com sua mordacidade, estamos salvos. Não nos deixe, querido Guzzo.
Outro show do Guzzo, contundente e verdadeiro
Excelente, J. R. Guzzo. Disse tudo!
Já morreu e não sabe, contudo há controvérsias, mas para mim, não só já morreu, também apodreceu. Todavia ainda insepulto, permanece assombrando todos os brasileiros de bem deste Brasil, todos que almejam uma nação livre, próspera e abençoada, Pena que este assombração continue sendo admirado pelos supremos e todos os demais que vivem mamando nas tetas gordas do estado brasileiro. Para estes, trata-se de um semideus o qual nem precisa descer à cova para a canonização e veneração dos seus seguidores como de há muito acontece e, certamente, assim o será para sempre, o eterno padim padre Lules, o milagroso do páu ouco.
Há muito tempo deixei de acreditar no futuro desse país bananeiro
Há muito tempo deixei de acreditar no futuro desse país bananeiro
Nunca imaginei na minha vida que íamos ficar na mão de tanta gente incompetente e ladrona, que sofrimento!!!!
Quando sera o dia em que todas essas mumias irao desaparecer da politica ? O Brasil já esta lotado com creptomaniacos, ladroes, corruptos, pedofilos e toda a infinidade de seres maleficos. Que satanas esteja com os braços bem abertos para receber todos esses demonios.
Com a morte a hipocresía desaparece.
Nada é questao de tempo, tudo fica definido quando reconhecemos que a vida passou e nao existe volta.
Lamentos e coisas mal resolvidas, nao tem o poder de mudar exatamente nada e tao pouco criar algum conforto.
Poderia ou nao ter sido assim, é apenas divagar no limite da utopia, e com certeza jamais ira sair na direçao certa.
Decisoes nao tem o poder de retroceder para o passado, e quando procuramos justificativas nos chocamos com o “”se tivesse chance faria diferente””, com certeza ignoramos as circunstancias e os sentimentos.
Em algum momento, antes de perder a lucidez, perante o ultimo aliento, ainda tentaremos nos agarrar em justificativas vazias e hipócritas.
Olhar e sentir que a linha da vida que ja foi trilhada, nao deixa de ser arrependimentos, esperanças mortas, éxitos e derrotas, e que o restante talvez seja apenas uma surpresa. Negamos, mas sentimos que os próximos passos serao ínfimos, e o final será inevitavel.
Despojados da preocupaçao sobre o que os outros irao pensar, ou perguntar ¿¿Morreu do que?? Mesmo nao tendo mais desejos ou vontades, gostaria que a resposta sempre fosse “”Fazendo Amor””.
“”VIVA SEMPRE COMO SE FOSSE O ULTIMO MINUTO, E TENHA A PLENA CERTEZA QUE O ULTIMO DIA CHEGARA DE SURPRESA.
Tudo nesse Lula me enoja .
Tudo nesse Lula me enoja .
Como se dizia antigamente, é Zé Fini.
uma espécie de Museu de Cera Madame Tussauds. O que aparece ali é Haddad, a deputada Hoffmann, Janja, o senador Pacheco, o ministro Zé, o ministro Mané e o general Miné.
O ladrão será o candidato do PT em 2026. Não tenham a menor sombra de dúvida. E pior, vencerá e irá governar Bostil por mais quatro anos, mesmo estando gagá. O que importa para a quadrilha seguir no poder é a fachada do ex presidiário continuar na vitrine, mesmo que seja um boneco de cera. No Nordeste, o descondenado é uma espécie de divindade!
Negativo. Sou do Nordeste e não é desta maneira como você está dizendo. Pelo menos não mais. O fato principal hoje, na minha opinião, é a contagem pública de votos que precisa ser implementada para 2026.
Só mesmo Guzzo tem coragem de explicar a situação real de Lula tal como é de fato. Muitas fiirulas médicas ditas,mas também a mim não convenceram ,como a muitos também. Quem já viveu mais de meio século e tem a mínima lucidez, sabe quando a vida está nos deixando para trás. Aos poucos vamos percebendo que existe uma grande distância da juventude. Agora esconder os fatos, não muda em nada a realidade.Vamos assistir uma disputa brutal de forças dentro do PT, o vice-presidente não pode assumir, pois até agora não pode sequer assinar um documento. Janja não larga o osso por nada,é capaz de dizer que o marido já está comendo tranquilamente uma feijoada na UTI. A briga vai ser feia.Há tempos Lula já não governa.
Guzzo, magistral!
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Guzzo como sempre brilhante. Não se salva nada desse governo, um desastre total. Fora Lula e sua turma incompetente. O governo não tem o que mostrar.
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Realidade descrita com perspicácia e sabedoria, grande J.R.Guzzo!! Parabéns 👏👏👏👏
Realidade descrita com perspicácia e sabedoria, grande J.R.Guzzo!! Parabéns 👏👏👏👏