O populismo autoritário de Barroso

“Dividem a sociedade, utilizam de mecanismos de comunicação direta com seus apoiadores bypassando as instituições intermediárias, e geralmente elegem como inimigos as supremas cortes, cujo papel é precisamente limitar o poder das maiorias políticas. Onde não há tensão entre o populismo autoritário e as supremas cortes, é porque as supremas cortes foram capturadas. Essa é a realidade em que nós vivemos.”

Eis um trecho da fala do ministro Barroso num evento da Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro nesta semana. Ele cita como exemplos a Venezuela e a Nicarágua, onde houve captura das supremas cortes para ocupá-las com juízes submissos e transformá-las em parceiras do exercício autoritário do poder. Barroso acrescenta:

“De modo que o mundo enfrenta as dificuldades trazidas pelo populismo autoritário e ele se manifesta mesmo em democracias consolidadas em diferentes lugares do mundo. Esta é uma preocupação que todos temos que ter, mas o populismo autoritário, ele flui em grande parte pelas promessas não cumpridas da democracia constitucional, que não foi capaz de trazer igualdade de oportunidades e prosperidade para todos. E os que ficam excluídos desse processo de autogoverno coletivo, que é a democracia, são as presas mais fáceis do populismo autoritário, que geralmente oferece soluções fáceis e rasas para problemas complexos, e na verdade agravam esses problemas, apesar de muitas vezes terem um impacto inicial favorável. Mas a médio prazo essas soluções cobram um preço muito caro.” 

É impressionante a desfaçatez de nossos ministros supremos! Barroso parece descrever a captura do STF pelo populismo autoritário do PT, mas finge que são problemas distantes, pois a ameaça que ele enxerga, na verdade, viria da direita bolsonarista. No entanto, basta analisar os exemplos que ele mesmo traz, da Venezuela e da Nicarágua, sob regimes socialistas companheiros do PT, para compreender o fenômeno. É como no Decálogo Leninista, onde o sujeito acusa o outro diante de um espelho!

Barroso já chegou a afirmar que a Venezuela era uma ditadura de direita, por ter apoio dos militares. Conceito um tanto estranho, uma vez que toda tirania coopta as forças armadas, inclusive e principalmente os regimes comunistas. Isso para não mencionar quão inadequado é um ministro supremo fazendo esse tipo de proselitismo para procuradores-gerais do Estado, numa audiência cativa em órgão público custeada pelos nossos impostos, com sua “tese” de cientista político fajuto. Mas isso é fichinha para um iluminado que quer “empurrar a história” e se gaba de ter derrotado o bolsonarismo, não é mesmo?

No Brasil invertido de hoje, tudo parece ter virado escárnio completo. A conta oficial do STF publicou nesta semana, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, que o vice-presidente do Supremo, ministro Fachin, reafirmou o compromisso do Judiciário de não se omitir diante do abuso de poder. Ora bolas! Se não é o próprio STF a instituição que mais vem abusando do seu poder constitucional, com inquérito do fim do mundo, prisões arbitrárias sem foro adequado, censura e muito mais!

Só falta agora o Lula enaltecer seu papel no combate à corrupção. Ops! Não falta nada, pois ele fez exatamente isso! Eis o que o presidente postou também nesta semana: “No Dia Internacional de Combate à Corrupção, assinamos um decreto que fortalece integridade em contratos públicos de empresas privadas com licitações no governo federal”. Será que o presidente convidou a turma da Odebrecht para a cerimônia?

O país virou uma piada de mau gosto, um deboche permanente a quem é honesto. Cada vez estamos mais parecidos com Venezuela e Nicarágua, os exemplos mencionados por Barroso. E justamente por causa das ações abusivas do próprio STF, que age mancomunado com o governo federal do ladrão que ajudou a colocar de volta na cena do crime, como diria Alckmin, hoje seu vice. É um roteiro que nem um medíocre diretor de pornochanchada aceitaria, tamanho o absurdo. É o populismo autoritário que capturou quase todas as instituições, a começar pela Corte suprema. É o caso que ilustra com perfeição o receio do próprio Barroso. Só que ele é um dos principais responsáveis por isso…

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