“Não há nada tão forte como uma ideia cuja hora é chegada”, disse Victor Hugo. Nas últimas décadas, vimos um avanço um tanto artificial da ideologia woke, promovida por uma elite “progressista” desconectada da realidade do povão. Ideias paridas por “intelectuais” ocidentais se espalharam com graves consequências para o “afegão médio”.
No âmbito econômico, a globalização incluiu bilhões de eurasianos no mercado de trabalho, e a arbitragem salarial permitiu uma grande vantagem desses países em manufaturas intensivas em mão de obra. Os americanos e europeus puderam comprar produtos mais baratos, os chineses, indianos e vietnamitas melhoraram de vida, mas a política não anda pari passu ao avanço econômico.
Como diria o escritor liberal Mario Vargas Llosa, o “chamado da tribo” ainda é muito forte. A ideia de um cidadão global, cada vez mais conectado economicamente e, por tabela, politicamente, não se tornou realidade. Não era, em suma, o “fim da história” com o fim da guerra fria e a vitória das democracias liberais. Estava mais para o “choque das civilizações” mesmo. Os globalistas ignoraram as gritantes diferenças culturais e o apego territorial dos seres humanos.
A própria globalização trouxe desafios para a classe trabalhadora no Ocidente, tendo de enfrentar a concorrência de trabalho semiescravo em países pobres sob o comunismo. Mas o globalismo foi ainda mais longe e tentou impor um modus vivendi único para o mundo todo, de cima para baixo, por meio de instituições supranacionais, desafiando a soberania dos povos. Claro que haveria reação. Brexit, Trump e Orban são exemplos disso.
Quem escreveu um excelente texto sobre essas “vibrações” foi Niall Ferguson. Numa análise sofisticada sobre o esgotamento do “progressismo” e o avanço conservador, o historiador escocês mostra como a onda iniciada por esse movimento está apenas começando, e como a volta de Trump à Casa Branca já traz consequências importantes para a geopolítica. Citando Santiago Pliego, eis como resume o fenômeno: “A mudança de vibração é um retorno à — uma celebração de — realidade, uma rejeição ao burocrático, ao covarde, ao motivado pela culpa; um retorno à grandeza, coragem e ambição alegre”. Ferguson elabora:
“A mudança de vibração é rejeitar o falso e o terapêutico e recuperar o autêntico e concreto. A mudança de vibração é uma saudável desconfiança do credencialismo e um retorno ao julgamento humano. A mudança de vibração é viver sem mentiras, e sim falar a verdade — custe o que custar. A mudança de vibração é encarar diretamente nossos tempos tumultuados, recusando-se a se resignar e escolhendo construir. A mudança de vibração atingiu a política americana na noite de 5 de novembro. O que ninguém previu foi que quase imediatamente ela se tornaria global.”
Basta pensar que na Alemanha, na França e no Canadá já tivemos abalos profundos na política antes mesmo de Trump assumir o comando. No Oriente Médio também é perceptível a mudança de postura de alguns players importantes. Ou seja, parece que Trump já é o presidente, e isso significa basicamente o seguinte: papai chegou! Os adultos voltaram ao controle para impor ordem na bagunça. É a paz por meio da força. É o fim da palhaçada de “diversidade, igualdade e inclusão”. É a volta da meritocracia, do foco nos resultados.
Na América Latina, a Argentina é o país mais preparado para surfar essa onda. Diz Ferguson:
“O presidente argentino, Javier Milei — um libertário radical que destruiu a burocracia inchada de Buenos Aires com uma motosserra —, é um dos poucos líderes estrangeiros com quem Trump se dá bem. A mudança global de vibração é muito boa para Milei porque, de muitas maneiras, ele começou isso. Há um ano, em Davos, ele foi tratado como uma espécie de Chapeleiro Maluco. Agora, ele faz parte do círculo próximo de Mar-a-Lago, ao lado de Trump e Elon Musk. Se Milei precisar de mais ajuda do Fundo Monetário Internacional, ele terá.”
Trump, Musk e Milei não representam ameaça à democracia, e sim à burocracia encastelada no poder. As elites globalistas ajudaram a plantar vento e hoje colhem tempestades. Os conservadores e liberais clássicos são convocados para resolver os problemas herdados, para fechar fronteiras e filtrar quem pode ingressar nas nações, para cortar gastos públicos e devolver o poder ao povo. A paranoia ambientalista dá lugar ao pragmatismo energético, levando-se em conta os perigos da dependência do gás russo ou do petróleo árabe. Ferguson explica em detalhes como Obama ajudou a espalhar o caos:
“A realidade é que estamos testemunhando o completo e total desmoronamento da desastrosa política externa que começou sob Obama e foi retomada por Biden, cujo efeito perverso foi fortalecer tanto o Irã quanto a Rússia. A série de erros que condenou a Síria a uma guerra civil horrenda e prolongada e abriu as portas para a Rússia tanto na Síria quanto na Ucrânia começou entre julho de 2012 e agosto de 2013, quando a Casa Branca disse que, se Assad usasse armas químicas, seria considerado que ele havia ‘cruzado uma linha vermelha’. O regime usou armas químicas de qualquer forma. E a ameaça da Casa Branca foi vazia; em agosto de 2013, Obama decidiu cancelar os ataques aéreos retaliatórios planejados. Pior, Obama permitiu que o governo russo intermediasse um acordo pelo qual Assad entregou [algumas de] suas armas químicas. Em 10 de setembro de 2013, Obama anunciou que os Estados Unidos não eram mais o ‘policial do mundo’. Cinco meses depois, tropas russas ocuparam a Crimeia, cuja anexação foi concluída em 18 de março.”
O resto é história. Estamos vivendo as consequências dessa visão de mundo “progressista” que retirou dos Estados Unidos o papel de líder forte do mundo, de xerife global. As ameaças de uso da força bélica mais poderosa do planeta são críveis quando vêm de Trump, e isso tem enorme papel de dissuasão. China e Rússia ajustam os lemes, o Irã se enfraquece com o avanço de Israel, as coisas começam a parecer mais alvissareiras no tabuleiro internacional. Claro que essas mudanças de placas tectônicas não são indolores ou sem riscos, e o próprio Ferguson diz que o mundo vai se parecer mais com Gotham City daqui para a frente. Ao menos teremos Batman para lutar contra o crime. A alternativa era insistir num modelo fracassado que estava destruindo todo o Ocidente desde dentro, além de enfraquecê-lo para seus inimigos externos. Agora há alguma chance de salvá-lo…
Leia também “O populismo autoritário de Barroso”
No caso brasileiro que as vibrações conservadoras sejam contínuas e assertivas.
A esquerda brasileira não se resume ao PT.
Maravilhoso….só quero no Brasil meu presidente mistura de Miley com Trump no corpo do Bolsonaro kkkkk
Maravilhoso….só quero no Brasil meu presidente mistura de Miley com Trump no corpo do Bolsonaro kkkkk
Sim! Mas células cancerosas continuarão à espreita sempre…Então as pessoas sãs com poder devem se precaver quanto às seguranças individual, institucional e de comunicação para tais células permanecerem contidas, minimizadas, mas sem retaliações se ficarem quietinhas dentro de suas bolhas.
Boas Festas a todos, que 2025 seja o início de novos e verdadeiros tempos…
Parabéns pelo excelente texto, Constantino. Espero que Trump tome muito cuidado com a sua SEGURANÇA, pois a elite burocrática dos Estados Unidos, que se vê ameaçada pela sua nova visão de poder, é capaz de medidas extremas para evitar uma mudança em seu novo governo… Já vimos essa história antes… Rodrigo, espero que em 2025 possamos estar lendo seus textos maravilhosos de sempre… Espero que você passe por esse novo desafio em sua vida com toda a força de um bom combatente e lutador pela liberdade que você sempre teve. Estarei na torcida, pronto para ajudar no que for possível. Um GRANDE abraço. #ForçaRodrigoConstantino
Que ótimo artigo, Consta. Uma luz que se acende nestas trevas em que os “progressistas” nos mergulharam. O remédio é amargo, mas os resultados serão doces. A propósito de remédios é resultados, quero me solidarizar com você neste momento difícil pelo qual está passando neste momento, enfrentando uma cirurgia para retirada de um tumor. Sei bem o que é isso é eu e minha família estamos rezando pelo sucesso do procedimento e sua recuperação. Como tudo mais, isso vai passar.
Muito bom, Consta. Não há mal que sempre dure, vamos acreditar que o bem dê as caras nas próximas décadas.
Muito bom, Consta. Não há mal que sempre dure, vamos acreditar que o bem dê as caras nas próximas décadas.
Grande Constantino. Argentina e Javier Milei com sua equipe tem tudo para crescer com esta aliança EUA/Trump?Musk. Que em breve o Brasil possa trilhar este rumo também.
Ainda bem temos Constantino que escreve tão bem que nos dá a lucidez de esperança. Obg. Oeste por colocar gente com alma de escritor de verdade
👏👏👏 Sua percepção do futuro é esperança na veia. Dá-lhes, Consta!
Espero que esses ventos soprem por aqui.
Grande CONSTA! Seus textos são brilhantes! Gratidao! Orando sempre por vc. Que Jesus te abencoe
A Esperança a Fé e o amor nunca devemos abandonar mas a grade pedra no nosso caminho é o stf. É preciso, como escreveu o colega acima que nossos votos elejam deputados e SENADORES decentes,que tenham brio e patriotismo.
Espero que em 26 também consigamos nos livrar deste vírus chamado PT. Vejo bons ventos no horizonte e espero que os brasileiros que ainda têm um pouco de juízo e consciência elejam políticos conservadores!
Melhor que seja em 2025. Só uma ruptura do que está aí para nos livrar desse sistema que tornou o Estado cativo e que drena toda a riqueza que produzimos.