O ataque de Magdeburg é quase tão perverso quanto intrigante. Quando uma BMW preta se chocou contra um mercado de Natal na cidade alemã na noite de 20 de dezembro, matando brutalmente (até a conclusão deste artigo) quatro mulheres e um menino de 9 anos e ferindo pelo menos 200 pessoas, muita gente, compreensivelmente, supôs se tratar do terrorismo islâmico impondo sua lei niilista aos europeus mais uma vez.
Mas, em poucas horas, a trama se complicou. O suspeito, Taleb al-Abdulmohsen, de 50 anos, é um refugiado da Arábia Saudita que está na Alemanha desde 2006. Ele também é — de acordo com sua atividade nas mídias sociais e inúmeras entrevistas à imprensa — ativista anti-islamista e ex-muçulmano com tendências conspiratórias peculiares. Ele parecia estar convencido de que o governo alemão estava trabalhando em um projeto secreto de “islamização”. Seus próprios esforços para levar ex-muçulmanos sauditas para a Alemanha, como ele havia alegado recentemente a um site americano anti-islã, estavam sendo frustrados por um Estado alemão que preferiu abrir suas portas para os muçulmanos sírios.
Já fazia algum tempo que Abdulmohsen vinha anunciando suas intenções violentas. Em uma postagem no X em dezembro do ano passado, ele afirmou: “A vingança chegará em breve. Mesmo que custe a minha vida. Farei com que a nação alemã pague pelos crimes cometidos por seu governo contra os refugiados sauditas”. Tanto o X quanto as autoridades alemãs são acusadas de não terem notado essas ameaças assustadoras. Em mensagens privadas, ele falou em matar “cidadãos alemães aleatórios”.
Aparentemente, tratava-se de um homem paranoico, volátil e talvez usuário de drogas. O que pode explicar em parte o que parece ser um assassinato absurdo — atropelar alemães inocentes em um mercado de Natal (ecoando o ataque feito por um caminhão em 2016 e reivindicado pelo Estado Islâmico, em Berlim) com o objetivo de desferir um golpe contra a “islamização” alemã.
Não que isso tenha impedido os ocupantes permanentes do X de insistir que ele era um islamista. Como Rakib Ehsan escreveu no último dia 22 na revista Spiked, as evidências disso — até o momento — são no mínimo fracas. Pelo que sei, temos uma postagem com palavras confusas sobre o Hamas, um vídeo feito por um DJ iraniano-alemão de techno afirmando que Abdulmohsen é um extremista xiita, baseado principalmente em seu sobrenome, e um vídeo da cena do ataque em que, se Abdulmohsen estivesse gritando “Allahu Akbar”, como muitos afirmam on-line, estaria sussurrando de forma quase inaudível.
Um horror após o outro
O consenso que está se formando entre a direita constantemente on-line — de que os anos muito públicos de ativismo anti-islã de Abdulmohsen foram apenas um estratagema elaborado para promover a jihad — parece bastante implausível. Estou sempre disposto a descobrir que estou errado, mas ouso dizer que é mais provável que seja revelado que ele era mais um assassino maluco do que um agente adormecido jihadista jogando xadrez 3D com os kafir (os que não acreditam em Alá ou rejeitam a autoridade do Deus islâmico).
Aqueles que reconhecem o extremismo islâmico como a ameaça fascista que é — aqueles que sabem que, apesar de todas as interjeições e das manobras evasivas do establishment, ele continua sendo a principal ameaça terrorista da Europa — deveriam não se deixar levar por questões irrelevantes. Porque, embora Magdeburg pareça não ter sido um ataque terrorista islâmico, existem muitos outros que foram planejados e frustrados na Europa em 2024.
Nos últimos 12 meses, só na Alemanha, vimos um horror após o outro. Em maio, em Mannheim, um suposto extremista islâmico esfaqueou seis pessoas em uma manifestação contra o Islã, matando um policial. Em agosto, um sírio que não obteve asilo — um suspeito de ser membro do Estado Islâmico com previsão de deportação — degolou pessoas que estavam reunidas em Solingen para comemorar o 650º aniversário da cidade. Ele matou três pessoas e feriu oito.
Houve também todos os quase incidentes. Em dezembro passado, quatro supostos membros do Hamas foram presos sob suspeita de estarem planejando atacar espaços judaicos. Em março, dois afegãos foram presos na Alemanha pelo suposto planejamento de ataque ao Parlamento sueco, presumivelmente com o apoio do Estado Islâmico. Em abril, três adolescentes foram presos sob suspeita de glorificar o Estado Islâmico e conspirar para atacar igrejas. Em junho, um suspeito de ser membro iraquiano do EI foi preso perto de Stuttgart. Em julho, um plano do mesmo EI foi frustrado poucas horas antes da final da Eurocopa entre Inglaterra e Espanha, em Berlim. Em outubro, um cidadão líbio, outro suposto apoiador do Estado Islâmico, foi preso sob suspeita de planejar um ataque à Embaixada de Israel em Berlim.
2024, um ano bem-sucedido para o terror islâmico
Quanto aos mercados de Natal, uma instituição adorada na Alemanha e cada vez mais alvo de assassinos islâmicos, um jovem de 15 anos foi enviado para a prisão juvenil por quatro anos em junho pelo plano de atacar um mercado em Leverkusen. No início de dezembro, um iraquiano de 37 anos que solicitou asilo foi preso sob a acusação de planejar um massacre em um mercado de Natal em Augsburg. Três jovens islamistas suspeitos foram presos — a polícia apreendeu facas e um rifle de assalto — pelo plano de atacar um mercado em Frankfurt ou Mannheim.
Isso é só na Alemanha. O ano de 2024 foi grotescamente bem-sucedido para o terror islâmico em todo o continente europeu. Homens tajiques armados e apoiados pelo EI-K, a franquia que opera no Paquistão e no Afeganistão, massacraram 145 pessoas e feriram mais de 500 no Crocus City Hall, perto de Moscou. Foi o ataque terrorista mais mortal em solo russo desde 2004. Se não fosse por um aviso da Inteligência dos EUA, horrores semelhantes poderiam ter ocorrido em agosto em Viena, onde dois adolescentes que juraram lealdade ao Estado Islâmico planejavam bombardear e fazer ataques a faca em um show de Taylor Swift.
As diferentes roupagens da barbárie
Massacrar frequentadores de shows. Matar famílias em mercados de Natal. Degolar pessoas que estão reunidas no centro da cidade. Essa é uma guerra bárbara contra nosso modo de vida, travada por cultos de morte e por seus fãs sádicos. E, no entanto, os governantes da Europa passaram a tratar esses ataques como algo semelhante a desastres naturais — coisas terríveis, trágicas e muito tristes que simplesmente acontecem de vez em quando.
Eles parecem ter se convencido de que, ao confrontarem a ameaça islâmica com muita força, correm o risco de incitar o ódio antimuçulmano, como se a maioria fosse um ataque à espera de acontecer, ou de “alienar” os muçulmanos europeus, como se todos fossem simpatizantes do terrorismo. Em seus supostos esforços para acabar com a intolerância, as elites revelam sua própria intolerância.
O horror em Magdeburg é um lembrete de que a barbárie tem muitas roupagens diferentes. Mas, ao adentrarmos 2025, não podemos perder de vista onde está a principal ameaça. Precisamos nos recusar a ser intimidados pelo terror islâmico — e precisamos nos recusar a ser condescendentes com um sistema que prefere nos ver como o problema.
Tom Slater é editor da Spiked. Ele está no X: @Tom_Slater_
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