O mercado imobiliário é um dos segmentos da economia cujo desempenho demonstra retomada vigorosa. Ao lado do agronegócio e do mercado financeiro, o setor de construção, venda e aluguel de imóveis comerciais e residenciais apresenta crescimento em relação aos primeiros meses da pandemia. Compreende-se: as pessoas continuam casando e procurando teto, jovens seguem almejando sair da casa dos pais, casais têm filhos e precisam de apartamento com mais espaço.
A demanda gera trabalho para o setor. Levantamento realizado em agosto pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) revela que os trabalhos não pararam: quase 98% dos empreendimentos seguiam com obras ativas. E os clientes continuaram a fechar negócios. Dados do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) mostram que na capital paulista as vendas de “unidades residenciais novas” aumentaram 45% de junho para julho. Foram 4.331 unidades de apartamentos novos vendidas no período. Um colosso de desempenho.
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Os números divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) confirmam a tendência. O crédito imobiliário movimentou no país R$ 10,8 bilhões em crédito imobiliário em julho — uma evolução de 16% no comparativo com junho e 61% ante o mesmo mês de 2019.
A constatação é que está mesmo havendo uma “retomada em V” — quando os negócios desabam brutalmente para logo em seguida registrar uma recuperação rápida. O ponto crítico do V se deu em abril e maio. Mas, logo em junho, o mercado dava conta do diagnóstico preciso: as pessoas não haviam cancelado os planos; tinham apenas adiado.
Fundos imobiliários com alta performance
Outro indicador positivo é a performance que vem sendo registrada pelos fundos de investimentos imobiliários (FII). No primeiro semestre deste ano, a alta foi de 28% quando comparada ao período de janeiro a junho de 2019. “Com a queda da Selic e sem o tripé liquidez, segurança e rentabilidade, os investidores buscam produtos mais arrojados, que mesclam renda fixa e variável”, diz Carlos André, vice-presidente da Anbima e diretor-executivo de fundos do Banco do Brasil Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (BB DTVM).
O vigor do mercado também se demonstra nos fundos imobiliários voltados para o agronegócio. É o caso, por exemplo, do Terrax. “Queremos gerar ganho de capital por meio de aquisição, venda e arrendamento de imóveis rurais destinados à produção agropecuária”, posicionou-se a empresa ao registrar o pedido para operar no mercado de ações do país.
Mercado em alta = empresas agitadas
Diante da retomada do crescimento no pós-pandemia, a imobiliária digital QuintoAndar apresentou no início de agosto seu mais novo serviço. Agora, atua como intermediadora em ações de compra e venda de casas e apartamentos no Rio de Janeiro — cidade em que já operava com aluguéis.
Marca mantida pela MRV com foco em loteamentos, a Urba registrou em agosto pedido para realizar sua oferta pública inicial. Trata-se do ato que marca a estreia de uma companhia no mercado de capitais, o IPO. A Urba tem a expectativa de levantar nada menos que R$ 1 bilhão.
Também em agosto, a Gafisa surpreendeu investidores e tornou público o interesse em promover o que chamou de “integração do negócio” com a Tecnisa. A possibilidade de fusão não era esperada. Em nota, o conselho de administração da Tecnisa informou não ter solicitado nenhum tipo de operação nesse sentido. Para a Gafisa, no entanto, a ausência de solicitação pouco importa. “Uma integração entre os projetos das duas empresas tem o potencial de beneficiar acionistas de ambas as companhias”, informou à Revista Oeste o diretor de relações com investidores da Gafisa, Ian Andrade.
Os novos desejos
Com mais pessoas trabalhando de casa, cresce a demanda por apartamentos maiores, com quartos que possam ser transformados em escritórios. Há também um expressivo contingente que busca alternativas fora dos grandes centros urbanos — normalmente, casas amplas, com jardim e piscina. Mais lazer doméstico também faz crescer a procura por varanda gourmet.
Ter um imóvel com varanda é visto como ponto positivo para mais da metade das pessoas, aponta estudo do Grupo Zap em julho. O espaço foi mencionado como “importante” ou “muito importante” por 57% dos entrevistados e 19% dizem ter interesse moderado. A mesma pesquisa destaca os principais desejos:
- Estar próximo de pontos comerciais — 68%
- Apartamento com ambientes bem divididos — 63%
- Vista “desimpedida” — 55%
- Mais de um dormitório — 49%
- Prédio que esteja em condomínio com área de lazer — 34%
Quem casa quer casa
Assim como as vendas do setor, o número de novos matrimônios voltou a crescer. Em julho, a quantidade de casamentos celebrados no Brasil retomou o patamar registrado em março: 50 mil, conforme o Portal da Transparência do Registro Civil. Em abril, maio e junho, os números não chegaram a ultrapassar 40 mil casamentos por mês. Convém assinalar que esses são os casamentos oficiais, “no papel”. Estima-se que o Brasil tenha, todo ano, 1,1 milhão de casamentos e “recasamentos”.
Presidente da Apto, plataforma que exibe imóveis em lançamento, Alex Frachetta reforça que, além dos recém-casados “já pensando em ter filhos”, famílias com crianças ajudam a movimentar o mercado neste momento de retomada. “Estão procurando imóveis de três dormitórios e com área de lazer”, diz ele.
As expectativas desses brasileiros que se recusam a paralisar a vida diante da pandemia asseguram a retomada em V do mercado imobiliário. Estão abertas as portas para a retomada dos negócios — e o vírus chinês está trancado do lado de fora.
Leia também “Por onde virá a retomada”
Em contrapartida as locações comerciais imagino que ainda estejam em baixa. É notório que a pandemia fez do homeoffice uma tendência pra lá de interessante, prática e sobretudo econômica, tanto para funcionários quanto para empresas.
Outra procura grande é de apartamentos para aluguel como fonte de renda, pois com essa Selic tão baixa as aplicações financeiras com baixo risco não rendem mais quase nada