Não é todo dia que sinto vergonha de ser irlandês. Mas no dia 13 de dezembro aconteceu. O governo irlandês está planejando algo tão duvidoso que chega a ser difícil de acreditar. Ele declarou que vai intervir no caso legal birrento e fracassado da África do Sul contra Israel e pedir uma definição “mais ampla” de genocídio. A Irlanda está preocupada com o fato de uma “interpretação restrita do que constitui genocídio” estar possibilitando que Israel fique impune. Desmistificando o “juridiquês” e furando a bolha de autoengrandecimento da elite de Dublin como a salvadora corajosa da Palestina, o que temos aqui é um governo pedindo que a legislação de guerra seja ajustada para que a única nação judaica do mundo possa finalmente receber sua punição.
Foi Micheál Martin — Tánaiste (vice-primeiro-ministro) da Irlanda — que revelou o estratagema para atacar Israel redefinindo o termo “genocídio”. Ele disse que a Irlanda apresentaria uma intervenção na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia no final de dezembro para reavivar o “caso da África do Sul contra Israel de acordo com a Convenção sobre Genocídio”. Vamos pedir que a CIJ “amplie sua interpretação do que constitui o cometimento de um genocídio”, afirmou ele. No momento, reclamou Martin, prevalece uma “interpretação muito restrita”, o que está efetivamente concedendo “imunidade” a governos assassinos como Israel. Versão resumida: Não consegue provar que Israel está cometendo genocídio? Não tem problema, basta mudar o significado de genocídio!
O descaramento e o cinismo da intromissão da Irlanda são surpreendentes. De acordo com a Convenção sobre Genocídio, “genocídio” é definido como o ato de cometer assassinatos ou destruição em massa com a “intenção de aniquilar, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. O motivo pelo qual o caso da África do Sul contra Israel está parado é o fato de não haver provas de “intenção genocida”. A única coisa que Israel tem “intenção” de destruir é o Hamas — não um “grupo racial”, e sim um exército de antissemitas que estuprou e assassinou mais de mil judeus em 7 de outubro de 2023 e que deseja estuprar e assassinar mais. Aqueles que não caíram na conversa da israelofobia sabem disto: que a “intenção” de Israel é derrotar um inimigo, não apagar um povo.c
O presunçoso ‘tribunal’ da Anistia Internacional
A intenção é fundamental para o crime de genocídio. Como o instituto Chatham House nos faz lembrar, até mesmo “uma guerra particularmente sangrenta, na qual muitos crimes de guerra estão sendo cometidos e muitos civis estão sendo mortos”, não equivale ao “crime de genocídio se não houver intenção genocida”. Isso é óbvio para todos, exceto para os israelofóbicos mais ferozes, aquelas pessoas que passam todos os minutos do dia gritando “Genocídio!” contra o Estado judeu. A Guerra do Vietnã, as guerras do Congo da década de 1990 e a guerra civil da Síria foram guerras em que centenas de milhares de pessoas pereceram, cujos horrores não se comparam aos de Gaza, cujos crimes são quase inimagináveis. Mas não foram genocídios porque nenhuma das partes tinha a intenção de destruir um povo. Genocídio não é guerra — é genocídio.
Parece que a Irlanda está procurando uma maneira de contornar esse incômodo intelectual, a insistência incômoda da humanidade em manter uma distinção moral entre a tragédia da guerra e o crime de genocídio. A “visão da Irlanda” sobre genocídio é “mais ampla” do que a da CIJ, diz Micheál Martin, com uma pompa incalculável. Nossa definição de genocídio, diz ele, é aquela que “prioriza a proteção da vida de civis”. Sua retórica autorreferente não é apenas imperiosa e ilusória, é também opaca. Intencionalmente, eu diria. Falar de “genocídio” ao mesmo tempo que se fala de ameaças à “vida de civis” dilui a calamidade do genocídio em um grau implacável. Qualquer um que ameace a “vida de civis” é um genocida? Um atirador em uma escola? Um louco com uma faca? Isso é absurdo. E perigoso.
Parece que a Irlanda quer “libertar” a CIJ de seu apego pitoresco à crença moralmente fundamentada de que o genocídio requer intenção genocida. E ela não está sozinha. No começo de dezembro, a Anistia Internacional “concluiu”, como um tribunal arbitrário das pessoas mais presunçosas que se possa imaginar, que “Israel está cometendo genocídio”. E no relatório em que faz essa acusação — uma acusação que nunca foi feita contra a Arábia Saudita em relação ao Iêmen, contra os Estados Unidos em relação ao Iraque nem contra a Turquia em relação ao Curdistão — ela se queixa de que muitas vezes há uma “interpretação excessivamente restrita” do crime de genocídio. Essas interpretações restritas podem “efetivamente impedir a constatação de genocídio em um contexto de conflito armado”, diz o texto.
A religião woke
Eles realmente querem considerar Israel culpado de genocídio, não querem? Mesmo que isso signifique redefinir completamente o conceito. Mesmo que isso signifique colocar fogo em décadas de jurisprudência sobre esse crime gravíssimo. Mesmo que isso signifique sacrificar a própria verdade. Nenhum preço é alto demais, ao que parece, na cruzada furiosa para destacar a nação judaica como a nação mais genocida. Francesca Albanese, a louca da ONU, diz que Israel é culpado de “domicídio, urbanicídio, escolasticídio, medicídio, genocídio cultural e… ecocídio”. Isso é um disparate religioso, um falar em línguas que não tem como objetivo provar nenhum caso contra Israel, mas simplesmente atribuir o sufixo “-cida” para que as pessoas pensem: “Nossa, é igual à Alemanha nazista”. Albanese afirma que às vezes o crime de genocídio pode não envolver “nenhuma morte”. Estou dizendo: essas pessoas estão loucas.
Redefinir genocídio porque você quer ver israelenses na cadeia é um assunto muito sério. Isso pode fazer com que Israel seja considerado culpado de um crime que não cometeu. Diluir a exigência de intenção genocida para a guerra de Israel contra o Hamas implicaria que os israelenses fossem acusados de genocídio quando tudo o que fizeram foi travar uma guerra. Pior ainda, aplicar às ações de Israel uma definição de genocídio mais branda do que a aplicada, por exemplo, às guerras recentes do Sudão ou à carnificina na Síria sob o comando de Assad é a definição viva e respirável de preconceito. Julgar Israel não apenas por um padrão moral diferente mas também por um padrão legal diferente é, na minha opinião, fanatismo absoluto. As pessoas ficam furiosas se você chama isso de antissemitismo, mas será que elas conseguem dar outra explicação para essa distorção de convenções e mudança de regras para que a nação judaica possa ser considerada culpada de um crime que já foi infamemente cometido contra os próprios judeus? Sou todo ouvidos.
Mas voltemos à Irlanda. O que motiva a curiosa animosidade das elites irlandesas em relação a Israel? Por que os liberais e esquerdistas de Dublin se enfurecem contra o governo israelense de forma ainda mais ruidosa e ridícula do que outras classes ativas da Europa? Parece que, ao mudar da religião católica para a religião woke, a Irlanda está pronta para ser seduzida pela israelofobia. Porque ambas as religiões têm problemas com os judeus. A primeira tendia a vê-los como assassinos de Cristo, a segunda os considera assassinos da Palestina. Uma temia que derramassem o sangue cristão, a outra é obcecada por “deixarem” que o sangue palestino seja derramado. A Irlanda deveria deixar Israel derrotar os antissemitas que desejam destruí-la e voltar seu julgamento para si mesma.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy
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A esquerdalha pode chorar, ter chiliques, pode espernear e berrar o quanto quiser. Mas nada mudará o fato de que Israel tem o inalienável direito de proteger sua população e garantir sua existência. E está fazendo o que é preciso ser feito com impressionante competência!