Nunca diga “violência” quando a palavra correta for “crime”. É fácil entender a diferença: “crime” é um termo objetivo, que descreve um ato específico. Um crime fere o direito de outra pessoa, ou até a própria pessoa. “Violência” é um termo vago, cujo significado depende do contexto. A violência pode ser negativa (quando é usada, por exemplo, para cometer um crime) ou positiva (quando é usada para proteger um inocente indefeso ou impedir que um crime violento seja cometido). O problema do Brasil não é violência. O problema do Brasil é uma infestação por crime.
Palavras importam. Não use a expressão “segurança pública” quando você quiser dizer “combate ao crime”. São coisas diferentes. O país está cheio de “especialistas” que acreditam que é possível melhorar a segurança pública com rodas de conversa, aulas de artesanato e educação em tempo integral. Nenhuma dessas louváveis iniciativas ajuda a reduzir assaltos ou a identificar autores de homicídios. Para tornar o Brasil um país menos perigoso é preciso combater o crime. Não se combate o crime com conversas, artesanato ou escolas. Crime se combate com polícia, prisões e leis duras.
Nunca use o termo “letalidade policial” a menos que você também use a expressão “letalidade judicial”. Se é importante monitorar o número de pessoas mortas em confrontos com a polícia — lembrando que ninguém deveria confrontar um policial e que, em nenhum país do mundo, os criminosos são tão ousados e armados como no Brasil —, também é importante contar quantas pessoas foram mortas como resultado de decisões judiciais equivocadas ou da aplicação de uma legislação abertamente pró-bandido.
Nunca chame de “suspeito” um indivíduo que foi filmado assaltando alguém. Não precisamos esperar por uma sentença judicial para descrever a realidade diante de nós. Quem chama de “suspeito” um criminoso flagrado colocando uma arma na cabeça de uma vítima não pode chamar de “assassino” um policial envolvido em um confronto que resultou em mortes. São dois pesos, duas medidas e, pelo menos, uma mentira.
Não use o termo “ressocialização”, que não passa de uma fantasia ideológica. Prefira “reabilitação”: trata-se de um processo individual de mudança que tem como requisitos básicos o arrependimento e a decisão de mudar de vida. Rejeite termos como “progressão de regime” (não há progresso envolvido em aliviar a pena de criminosos perigosos), “auxílio-reclusão” (o nome correto é “bolsa-penitenciário”, um absurdo moral e um estímulo inaceitável ao crime) e “garantismo penal” (uma doutrina jurídico-ideológica para a qual só existem os direitos do criminoso, cujo nome correto é “bandidolatria”). Jamais use “reeducando”, “interno”, “apenado” ou “pessoa privada de liberdade” para se referir a criminosos violentos e perigosos cuja condenação custou sangue e dinheiro à sociedade. Eles são “presidiários” ou “detentos”. Jamais se refira a eles apenas como “presos” — use o termo completo: eles são “criminosos condenados” que, por isso, “estão” presos.
Recuse-se a chamar de “adolescente em conflito com a lei” um indivíduo quase adulto que, tendo plena consciência do que faz, comete atos brutais — assaltos, homicídios ou estupros. Recuse-se a chamar esses crimes de “atos infracionais”.
Crime é uma escolha feita pelo criminoso. A luta contra o crime começa com a escolha das palavras.
A linguagem tem poder. Uma palavra pode ter mais força que uma arma ou uma sentença. Palavras se infiltram em mentes e almas, alteram posições morais, confundem causas com consequências e constroem ou destroem convicções. Por meio do uso ideológico de termos inapropriados, ou francamente mentirosos, a língua portuguesa foi colocada a serviço do crime. A manipulação sem tréguas da linguagem pela mídia, de forma repetitiva, cegou e emburreceu boa parte do jornalismo e da audiência e retirou da vítima a capacidade de descrever seu próprio sofrimento e o direito de articular sua indignação.
A novilíngua da “segurança pública” mata no nascedouro qualquer medida, por mais óbvia, necessária e sensata que seja, que possa prejudicar o ecossistema do crime. Nada pode ser feito porque “cadeia não ressocializa”, porque precisamos de “mais escolas e menos prisões”, porque “as penitenciárias estão cheias de inocentes presos por fumar um baseado”, porque o combate às drogas é uma “guerra perdida” e porque “a polícia brasileira é a que mais mata e mais morre”. Essas expressões são construções ideológicas importadas por ONGs financiadas em dólar, afirmações sem qualquer base na realidade, slogans publicitários do crime.
O primeiro passo para sair do atoleiro moral é repudiar essas falácias, cujo objetivo é retirar a culpa do criminoso e distribuí-la entre as vítimas.
O primeiro passo no combate ao crime é resgatar a linguagem.
Leia também “O caminho para o progresso”
Sem perceber, acabamos incorporando ao vocabulário estas expressões que distorcem a realidade. Obrigada pelo texto esclarecedor.
Brilhante!
Brilhante!
Excelente Motta, sempre acompanho outros comentários seus com os quais aprendo e me mantenho atualizado sobre as discrepâncias que existe no Brasil em particular o cerne de seu comentário no qual hoje o cidadão de bem se não tomar cuidado vira bandido e o bandido vira cidadão protegido pela Lei. Que absurdo.
Motta, que bom q vc existe e escreve. Aprendo com cada palavra sua.
Novilingua do Crime!
Ótima lembrança para alguém como eu, sem concordar, fui aderindo a novilíngua do crime. Obrigado
Como sempre, excelente texto. Sempre critiquei essa “novilingua”que prvocura,sempre, atenuar a culpa dos culpados.
Excelente texto. Vou reformular meu vocabulário. Obrigada!!!
Excelente texto. Vou reformular meu vocabulário. Obrigada!!!
Excelente texto. Vou reformular meu vocabulário. Obrigada!!!
Um inteiro vocabulário para amenizar a descrição de crimes desumanos, jogando a culpa na “sociedade” e na própria vítima, jamais no criminoso. Com qual finalidade? Boa coisa não é.