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Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 250

A novilíngua do crime

Por meio do uso ideológico de termos inapropriados, ou francamente mentirosos, a língua portuguesa foi colocada a serviço do crime

Roberto Motta
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Nunca diga “violência” quando a palavra correta for “crime”. É fácil entender a diferença: “crime” é um termo objetivo, que descreve um ato específico. Um crime fere o direito de outra pessoa, ou até a própria pessoa. “Violência” é um termo vago, cujo significado depende do contexto. A violência pode ser negativa (quando é usada, por exemplo, para cometer um crime) ou positiva (quando é usada para proteger um inocente indefeso ou impedir que um crime violento seja cometido). O problema do Brasil não é violência. O problema do Brasil é uma infestação por crime. 

Palavras importam. Não use a expressão “segurança pública” quando você quiser dizer “combate ao crime”. São coisas diferentes. O país está cheio de “especialistas” que acreditam que é possível melhorar a segurança pública com rodas de conversa, aulas de artesanato e educação em tempo integral. Nenhuma dessas louváveis iniciativas ajuda a reduzir assaltos ou a identificar autores de homicídios. Para tornar o Brasil um país menos perigoso é preciso combater o crime. Não se combate o crime com conversas, artesanato ou escolas. Crime se combate com polícia, prisões e leis duras.

Foto: Shutterstock

Nunca use o termo “letalidade policial” a menos que você também use a expressão “letalidade judicial”. Se é importante monitorar o número de pessoas mortas em confrontos com a polícia — lembrando que ninguém deveria confrontar um policial e que, em nenhum país do mundo, os criminosos são tão ousados e armados como no Brasil —, também é importante contar quantas pessoas foram mortas como resultado de decisões judiciais equivocadas ou da aplicação de uma legislação abertamente pró-bandido. 

Nunca chame de “suspeito” um indivíduo que foi filmado assaltando alguém. Não precisamos esperar por uma sentença judicial para descrever a realidade diante de nós. Quem chama de “suspeito” um criminoso flagrado colocando uma arma na cabeça de uma vítima não pode chamar de “assassino” um policial envolvido em um confronto que resultou em mortes. São dois pesos, duas medidas e, pelo menos, uma mentira.

Foto: Shutterstock

Não use o termo “ressocialização”, que não passa de uma fantasia ideológica. Prefira “reabilitação”: trata-se de um processo individual de mudança que tem como requisitos básicos o arrependimento e a decisão de mudar de vida. Rejeite termos como “progressão de regime” (não há progresso envolvido em aliviar a pena de criminosos perigosos), “auxílio-reclusão” (o nome correto é “bolsa-penitenciário”, um absurdo moral e um estímulo inaceitável ao crime) e “garantismo penal” (uma doutrina jurídico-ideológica para a qual só existem os direitos do criminoso, cujo nome correto é “bandidolatria”). Jamais use “reeducando”, “interno”, “apenado” ou “pessoa privada de liberdade” para se referir a criminosos violentos e perigosos cuja condenação custou sangue e dinheiro à sociedade. Eles são “presidiários” ou “detentos”. Jamais se refira a eles apenas como “presos” — use o termo completo: eles são “criminosos condenados” que, por isso, “estão” presos. 

Recuse-se a chamar de “adolescente em conflito com a lei” um indivíduo quase adulto que, tendo plena consciência do que faz, comete atos brutais — assaltos, homicídios ou estupros. Recuse-se a chamar esses crimes de “atos infracionais”.

Crime é uma escolha feita pelo criminoso. A luta contra o crime começa com a escolha das palavras.

Foto: Shutterstock

A linguagem tem poder. Uma palavra pode ter mais força que uma arma ou uma sentença. Palavras se infiltram em mentes e almas, alteram posições morais, confundem causas com consequências e constroem ou destroem convicções. Por meio do uso ideológico de termos inapropriados, ou francamente mentirosos, a língua portuguesa foi colocada a serviço do crime. A manipulação sem tréguas da linguagem pela mídia, de forma repetitiva, cegou e emburreceu boa parte do jornalismo e da audiência e retirou da vítima a capacidade de descrever seu próprio sofrimento e o direito de articular sua indignação.

A novilíngua da “segurança pública” mata no nascedouro qualquer medida, por mais óbvia, necessária e sensata que seja, que possa prejudicar o ecossistema do crime. Nada pode ser feito porque “cadeia não ressocializa”, porque precisamos de “mais escolas e menos prisões”, porque “as penitenciárias estão cheias de inocentes presos por fumar um baseado”, porque o combate às drogas é uma “guerra perdida” e porque “a polícia brasileira é a que mais mata e mais morre”. Essas expressões são construções ideológicas importadas por ONGs financiadas em dólar, afirmações sem qualquer base na realidade, slogans publicitários do crime.

O primeiro passo para sair do atoleiro moral é repudiar essas falácias, cujo objetivo é retirar a culpa do criminoso e distribuí-la entre as vítimas.

O primeiro passo no combate ao crime é resgatar a linguagem.

Leia também “O caminho para o progresso”

24 comentários
  1. Gilson Herz
    Gilson Herz

    Parabéns Motta.

  2. Marcus Matos
    Marcus Matos

    Perfeito!

  3. Paulo César da Conceição
    Paulo César da Conceição

    E tem gente que vai dá um sinal de negativo num artigo elucidativo como este do Motta. Ah, pelo amor de Deus. Com certeza é algum bandidólatra que assina a Oeste.

  4. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Motta, seu artigo é elucidativo.
    Por tudo o que você descreveu, estamos a caminho da implantação de um narcoestado onde o crime será legalizado com as honras de Estado que deveria estar voltado para a proteção de seus cidadãos de bem que trabalham honestamente.

  5. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Certeiro

  6. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Excelente, Motta.

  7. CLAUDIONOR BATISTA DE AZEVEDO
    CLAUDIONOR BATISTA DE AZEVEDO

    Motta, foi tudo muito claro no seu artigo.
    A bandidagem, o crime, o trafico, o roubo, a corrupção, estão todas liberadas pelo sistema governo esquerdista/judiciário aparelhado.
    É uma vergonha.

    CARTA DE UM POLICIAL PARA UM BANDIDO
    Senhor Bandido,
    Esse termo “senhor” que estou usando é para evitar que macule sua imagem ao lhe chamar de bandido, marginal, delinquente ou outro atributo que possa ferir sua dignidade, conforme orientações de entidades de defesa dos Direitos Humanos.

    Durante vinte e quatro anos de atividade policial, tenho acompanhado suas “conquistas” quanto à preservação de seus direitos, pois os cidadãos e, especialmente, nós policiais, estamos atrelados às suas vitórias, ou seja, quanto mais direito você adquire, maior é nossa obrigação de lhe dar segurança e de lhe encaminhar para um julgamento justo, apesar de muitas vezes você não dar esse direito às suas vítimas.

    Todavia, não cabe a mim contrariar a lei, pois me ensinaram que o Direito Penal é a ciência que protege o criminoso, assim como o Direito do Trabalho protege o trabalhador, e assim por diante.

    Questiono que hoje em dia você tem mais atenção do que muitos cidadãos e policiais. Antigamente você se escondia quando avistava um carro da polícia; hoje, você atira, porque sabe que numa troca de tiros o policial sempre será irresponsável em revidar. Não existe bala perdida, pois a mesma sempre é encontrada na arma de um policial ou pelo menos a arma dele é a primeira a ser suspeita.

    Sei que você é um pobre coitado. Quando encarcerado, reclama que não possuímos dependências dignas para você se ressocializar. Porém, quero que saiba que construímos mais penitenciárias do que escolas ou espaço social, ou seja, gastamos mais dinheiro para você voltar ao seio da sociedade de forma digna do que com a segurança pública para que a sociedade possa viver com dignidade.

    Quando você mantém um refém, são tantas suas exigências que deixam qualquer grevista envergonhado.

    Presença de advogados, imprensa, colete à prova de balas, parentes, até juízes e promotores você consegue que saiam de seus gabinetes para protegê-los. Mas se isso é seu direito, vamos respeitá-lo.

    Enfim, espero que seus direitos de marginal não se ampliem, pois nossa obrigação também aumentará.
    Precisamos nos proteger. Ter nossos direitos, não de lhe matar, mas sim de viver sem medo de ser um policial.

    Dois colegas de vocês morreram, assim como dois de nossos policiais sucumbiram devido ao excesso de proteção aos seus direitos. Rogo para que o inquérito policial instaurado, o qual certamente será acompanhado por um membro do Ministério Público e outro da Ordem dos Advogados do Brasil, não seja encerrado com a conclusão de que houve execução, ou melhor, violação aos Direitos Humanos, afinal, vocês morreram em pleno exercício de seus direitos.

    Autor:
    Wilson Ronaldo Monteiro
    Delegado da Polícia Civil do Pará

  8. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    O primeiro passo é colocar na cadeia Lula e os 40 ladrões e o STF TSE e outras instituições formadas por ladrões e criminosos comunistas caviar. O resto fica fácil

  9. Galeno José de Moraes
    Galeno José de Moraes

    Mota, outro dia ouvi um sinistro, Gilmar, chamar um bandido de paciente. E nós que aguentamos toda sorte de abusos sem reagir, somos…

  10. Leonardo de Almeida Queiroz
    Leonardo de Almeida Queiroz

    Lembrar outra palavra cujo emprego no Brasil deveria ser banido é “progressista” e suas variáveis

  11. Leonardo de Almeida Queiroz
    Leonardo de Almeida Queiroz

    Tudo tão obvio que causa espanto constatar que nunca ouvi ninguem dizer isso antes! Parabéns e obrigado grande Mota!

  12. Mirian Guimarães
    Mirian Guimarães

    Excelente!!!

  13. Gláucia Sales Marinho
    Gláucia Sales Marinho

    Sem perceber, acabamos incorporando ao vocabulário estas expressões que distorcem a realidade. Obrigada pelo texto esclarecedor.

  14. Neif Nacli
    Neif Nacli

    Brilhante!

  15. Neif Nacli
    Neif Nacli

    Brilhante!

  16. Celso Ricardo Kfouri Caetano
    Celso Ricardo Kfouri Caetano

    Excelente Motta, sempre acompanho outros comentários seus com os quais aprendo e me mantenho atualizado sobre as discrepâncias que existe no Brasil em particular o cerne de seu comentário no qual hoje o cidadão de bem se não tomar cuidado vira bandido e o bandido vira cidadão protegido pela Lei. Que absurdo.

  17. Ana Kazan
    Ana Kazan

    Motta, que bom q vc existe e escreve. Aprendo com cada palavra sua.

  18. Ernando Nogueira Barros
    Ernando Nogueira Barros

    Novilingua do Crime!

  19. Jose Candido Stevaux
    Jose Candido Stevaux

    Ótima lembrança para alguém como eu, sem concordar, fui aderindo a novilíngua do crime. Obrigado

  20. Fabio Reiff Biraghi
    Fabio Reiff Biraghi

    Como sempre, excelente texto. Sempre critiquei essa “novilingua”que prvocura,sempre, atenuar a culpa dos culpados.

  21. Nina Cláudia Moraes Rodrigues
    Nina Cláudia Moraes Rodrigues

    Excelente texto. Vou reformular meu vocabulário. Obrigada!!!

  22. Nina Cláudia Moraes Rodrigues
    Nina Cláudia Moraes Rodrigues

    Excelente texto. Vou reformular meu vocabulário. Obrigada!!!

  23. Nina Cláudia Moraes Rodrigues
    Nina Cláudia Moraes Rodrigues

    Excelente texto. Vou reformular meu vocabulário. Obrigada!!!

  24. Ligia Maria De Bastiani
    Ligia Maria De Bastiani

    Um inteiro vocabulário para amenizar a descrição de crimes desumanos, jogando a culpa na “sociedade” e na própria vítima, jamais no criminoso. Com qual finalidade? Boa coisa não é.

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