No dia 6 de janeiro de 1941, o presidente Franklin Roosevelt fez o famoso Four Freedoms Speech (“Discurso das Quatro Liberdades”) ao Congresso americano. A declaração foi peça-chave para apresentar as razões pelas quais os Estados Unidos deveriam entrar na Segunda Guerra Mundial e, também, para definir os direitos humanos essenciais que o país estava dedicado a preservar.
O momento era complicado, e Roosevelt entendeu que deveria oferecer apoio à Inglaterra. Os americanos estavam divididos entre a necessidade ou não de entrar na guerra. A argumentação de Roosevelt foi decisiva para esclarecer a real gravidade da situação. Grande parte da Europa Ocidental estava sob domínio nazista, e o mundo enfrentava perigo, instabilidade e incerteza sem precedentes.
As Quatro Liberdades descritas no discurso são liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de viver sem carências e liberdade de viver sem medo. Embora Roosevelt tenha apresentado essas liberdades como direitos humanos universais, ele também posicionou o país como um agente moral responsável por defender esses ideais.
Roosevelt disse:
“O que procuro transmitir é a verdade histórica de que os Estados Unidos como nação sempre mantiveram uma oposição clara e definida a qualquer tentativa de nos trancar atrás de uma antiga muralha chinesa enquanto a procissão da civilização passava.
(…)
Nenhum americano realista pode esperar da paz de um ditador generosidade internacional, ou retorno da verdadeira independência, ou desarmamento mundial, ou liberdade de expressão, ou liberdade de religião — ou mesmo bons negócios.
(…)
Nos dias futuros, que buscamos tornar seguros, esperamos um mundo fundado em quatro liberdades humanas essenciais.
A primeira é a liberdade de expressão e de discurso — em todo lugar do mundo.
A segunda é a liberdade de cada pessoa adorar a Deus à sua maneira — em todo lugar do mundo.
A terceira é a liberdade de viver sem carências — que, traduzida em termos mundiais, significa entendimentos econômicos que garantam a cada nação uma vida saudável em tempos de paz para seus habitantes — em todo lugar do mundo.
A quarta é a liberdade de viver sem medo — que, traduzida em termos mundiais, significa uma redução mundial de armamentos a tal ponto e de forma tão completa que nenhuma nação esteja em posição de cometer um ato de agressão física contra qualquer vizinho — em qualquer lugar do mundo.
Essa não é uma visão de um milênio distante. É uma base definitiva para um tipo de mundo atingível em nosso próprio tempo e geração. Esse tipo de mundo é a própria antítese da chamada nova ordem de tirania que os ditadores buscam criar com o estrondo de uma bomba.”
Roosevelt acrescentou: “A ordem mundial que buscamos é a cooperação entre países livres, trabalhando juntos em uma sociedade amigável e civilizada”.
A fala presidencial ajudou a justificar a participação dos militares americanos na guerra e deu esperança nos anos seguintes a um povo que, apesar de cansado da guerra, sabia que o propósito era maior e que estava lutando pela liberdade.
As ideias enunciadas no Discurso das Quatro Liberdades foram os princípios fundamentais que evoluíram para a Carta do Atlântico, declarada por Roosevelt e Winston Churchill, em agosto de 1941. Mais tarde, em 10 de dezembro de 1948, foram incorporadas entre os princípios da ONU.
O discurso passou a ser considerado tão importante que uma placa comemorativa está pendurada dentro da Estátua da Liberdade, e edifícios públicos do país possuem murais representando as Quatro Liberdades.
Eleanor Roosevelt, viúva do presidente, incorporou a linguagem das Quatro Liberdades no Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos e continuou a defender a visão do marido pelo resto da vida. Em uma transmissão feita em 1951, Eleanor deixou claro: “Não basta falar sobre paz. É preciso acreditar nela. E não basta acreditar nela. É preciso trabalhar nisso”. Décadas depois, as Quatro Liberdades continuam sendo uma mensagem orientadora para a proteção e a preservação dos direitos humanos, e foram incluídas na Carta Internacional dos Direitos Humanos, ratificada em 1976.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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