Pular para o conteúdo
publicidade
Foto: Shutterstock
Edição 252

A ordem do inverso

A esquerda inverteu tudo e a direita assumiu o lado certo

Alexandre Garcia
-

Onde, como, por que a esquerda cedeu suas bandeiras, hoje conduzidas pela direita brasileira? Certamente terá sido o poder, com que se corrompeu. O poder tão ambicionado a fez esquecer-se das palavras de ordem que usou para conquistá-lo. O deputado Nikolas Ferreira, de direita, foi quem defendeu 40 milhões de proletários informais, que o governo queria fiscalizar para, se fosse o caso, cobrar imposto de renda e a multa por não declararem o que ganharam no Pix. Os proletários do Brasil se uniram e deram — mais que a população — 260 milhões de visualizações num post de quatro minutos de Nikolas, num referendo digital que bradou “não” para a monitoração do Pix, enquanto a esquerda, inclusive da mídia, queria expor esses brasileiros às garras do Leão da Receita. A esquerda defendendo o cobrador de impostos e a direita defendendo o povo.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Nikolas Ferreira (@nikolasferreiradm)

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, do PT, deve ter percebido que seu partido está cedendo suas bandeiras para a direita. No dia da posse ilegal de Maduro, ele se apressou em ocupar espaço e postar no X, de Elon Musk, o que resumo com as mesmas palavras: “O governo venezuelano é uma ditadura, e a posse de Nicolás Maduro, hoje, é ilegítima e farsante (…) regime que desrespeita direitos humanos, alternância e soberania popular (…) é dever do democrata condenar qualquer ditadura”. Enquanto o mundo escutava o silêncio do presidente Lula, representantes do PT erguiam a voz para saudar Maduro em Caracas. O Senador Randolfe não quis participar desse abandono de bandeiras a que a esquerda se obriga a cada circunstância.

Nas manifestações esquerdistas de maio de 1968 em Paris — lembro bem —, a bandeira principal era “é proibido proibir”. Em setembro do mesmo ano, no Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, Caetano Veloso levava o slogan para a esquerda brasileira protestar, cantando É Proibido Proibir. Hoje, no Brasil, a esquerda quer proibir, e é a direita que insiste, nas redes, que é proibido proibir (afinal, é a própria Constituição que veda censura “de natureza política, ideológica e artística”). Bandeiras trocadas?

Jovens de sucesso, hoje ícones do progresso, Musk e Zuckerberg estão sendo rotulados de retrógrados na mídia de esquerda, porque não querem censura em suas redes e porque deixaram de acreditar no dogma woke de que, em vez de mérito, a escolha tem que ser pelo sexo, pela cor da pele, pela preferência sexual — essa “ordem” alimentou o fogo em Los Angeles, com o fracasso dessas escolhas nos governos locais. Enquanto isso, a direita aplaude a livre iniciativa dos chefes do X e da Meta. Bandeiras trocadas?

Celular com a conta do Facebook de Mark Zuckerberg e o logotipo da Meta ao fundo | Foto: Shutterstock

O ex-vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, em magistral pensata que bomba nas redes, citou letras de músicas de protesto da esquerda contra o governo militar e perguntou por que não cantam hoje versos parecidos com os de Apesar de Você, Alegria, Alegria, Cale-se, Meu Caro Amigo, Acorda Amor, Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, cujos sons de protesto estariam atualizadíssimos hoje, assim como o filme Ainda Estou Aqui pode se referir também à maioria dos presos do 8 de janeiro de 2023, segundo ele. A mesma classe artística intelectual está calada ante a censura ilegal, o arbítrio, enquanto a direita protesta por liberdade de expressão com artistas mais próximos do povão. Num festival de música do Pará, a vice-campeã tem por título o retrato do que vivemos: A Ordem do Inverso, de Yuseff Leitão: 

Então tá tudo certo e o que é correto já não vale mais
É a ordem do inverso no Brasil do tanto faz
Então tá tudo certo e o que é correto já não vale mais
É a ordem do inverso no Brasil de quem dá mais

A esquerda inverteu tudo e a direita assumiu o certo. Como no 1984 de George Orwell, a esquerda decretou que ódio é amor, censura é liberdade, manifestação é golpismo, opinião é fake news, arbítrio é justiça.

Livro 1984, de George Orwell | Foto: Shutterstock

O nacionalismo era bandeira da esquerda, incluindo a defesa da Amazônia. Aldo Rebelo deixou o Partido Comunista do Brasil depois de 32 anos e se tornou o maior defensor da soberania e da ocupação da Amazônia por brasileiros. Hoje, quem defende a soberania da Amazônia são vozes da direita, enquanto a esquerda se omite diante do que já foi apurado por CPI sobre ONGs estrangeiras e se cala ante incêndios e a truculência do Estado que expulsa brasileiros pobres que praticam agricultura e pecuária no território amazônico. 

Na pandemia, quem impôs uma vacina não testada e proibiu o tratamento foi a esquerda. E morreram centenas de milhares por causa disso. Quem defendeu a vida, o tratamento, a liberdade para trabalhar foi a direita. E a mídia de esquerda trancou as pessoas em casa, fechou empresas e empregos, cassou a renda de quem precisava trabalhar para alimentar a família. A mesma esquerda que queria tributar informais por meio da monitoração do Pix naquela época queria se vingar do povo que elegera um presidente de direita. Mesmo que o resultado fossem milhares de mortes.

Parque Ibirapuera fechado, durante a pandemia de covid-19, em São Paulo (23/3/2020) | Foto: Shutterstock

A esquerda já não fala, não faz música, nem teatro, nem cinema para protestar ante o descumprimento de direitos fundamentais da Constituição; ao contrário, incita e aprova prisões políticas e censura, nega anistia; enquanto a direita agita as bandeiras de liberdade de expressão, anistia, cumprimento da Constituição. A esquerda que havia proposto comprovante do voto, com Roberto Requião, Brizola Neto, Flávio Dino, agora critica a demanda de transparência na apuração. Por fim, a decisiva troca de bandeiras: a esquerda, que nas ruas, de 1964 ao impeachment de Collor, cantava o Hino Nacional, hoje agita bandeiras vermelhas, sem o verde-amarelo; cedeu a Bandeira do Brasil, que hoje é da direita.

No “Nikolaço” de 14 de janeiro, o governo recuou. Oportunidade para pensar sobre os rumos de sua comunicação. Vale a pena gastar milhões dos pagadores de impostos para sustentar mídia para elogiar? Se tivesse mídia crítica, no primeiro dia do anúncio do tal monitoramento do Pix, um jornalismo fiel aos seus princípios críticos alertaria Lula de que estava cometendo um grosseiro erro contra seus próprios eleitores, e o governo recuaria imediatamente, antes do gigantesco desgaste que sofreu. Mas a esquerda prefere os cortesãos, e prefere pagar os áulicos da mídia de secos e molhados, como definiu Millôr Fernandes. É uma esquerda que fala em democracia, mas quer censura para a voz digital do povo. Entregou a defesa do povo para a direita.

Leia também “Democracia essencial”

20 comentários
  1. Gilson Herz
    Gilson Herz

    Esses porcos da esquerda ainda serão abatidos.

  2. Julio José Pinto Eira Velha
    Julio José Pinto Eira Velha

    Foram impostos, vacina não testada e proibição de tratamento, a quem interessava o maior numero de mortes possíveis pela covid 19.

  3. Carlos Albeto Pittaluga Niederauer
    Carlos Albeto Pittaluga Niederauer

    Brilhante. O texto escancara o que a esquerda sempre quiz: os movimento da década de 1960 queriam liberdade incodicional para poder censurar e oprimir todos que se opusessem à sua diabólica ideologia. É isso que está na essência do comunismo.

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esse randolf é o excremento da política, assim como essa desgraça chamada STF. As falaçôes são de acordo com a conveniência. Essas pestes são o avesso do avesso

  5. Leonardo Abreu
    Leonardo Abreu

    Descreveu a realidade. Excelente. Parabéns.

  6. Ana Kazan
    Ana Kazan

    Alexandre, que bom q vc escreveu isso. Trabalho ao lado de petistas completamente dopados pelo esquerdismo, e eles adoram o Xandão, acham q ele está certíssimo na censura, nas prisões dos “golpistas”, e etc. Eles defendem medidas ditatoriais, duras, violentas, prisão para quem não partilha da cartilha esquerdista. Nao aceitam quem pensa diferente, e acham que o governo tem q partir com força contra os opositores. Como chegamos nisso???

  7. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    O coronavírus foi o principal motor onde canalhas mostraram sua face, vibrando com mortes, torcendo pelo terror, e fomentando a discórdia. Tudo porque não gostava do governo vigente, querendo desgastá-lo. Esta corja é capaz de tudo!

  8. Adolfo Calderan
    Adolfo Calderan

    Como é ótimo ter jornalistas do quilate de Alexandre Garcia para termos matéria deste quilate. Não preciso nem comentar pois a matéria já diz tudo o que está entalado na garganta contra toda esta arbitrariedade e vendo esta esquerda sempre nefasta pregar das suas pensando que o povo continua o que nunca foi, burro e mal informado, pois lá atrás, até pouco tempo atrás, tínhamos apenas informações das grandes mídias e tudo já endereçado e trazia apenas desinformações. Salvemos nosso querido Brasil.

  9. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Fantástico Alexandre, mas quando os bons jornalistas que ainda restam, os bons juristas que ainda restam, os bons políticos que ainda restam, os bons religiosos que ainda restam, os bons militares que ainda restam, os bons economistas que ainda restam, os bons empresários que ainda restam, os bons artistas que ainda restam, e os bons esportistas que ainda restam, MARCHARÃO unidos a SUPREMA CORTE e aos PODERES DA REPÚBLICA, buscar a volta de DEMOCRACIA, como fizeram no tal do regime militar?

  10. Vinicius Freitas
    Vinicius Freitas

    Gostei do NIKOLAÇO. Em 2018, para não eleger Dilma, eu joguei meu voto para senador na lata de lixo da história. Em 2022 eu eu votei direito. Votei no Nikolas Ferreira pelo seu trabalho na câmara de vereadores. Minas Gerais voltou a ter relevânciana política brasileira.

  11. João Antônio Dohms
    João Antônio Dohms

    Eu pessoalmente pago 100% sobre a minha receita ,pois minha atividade não permite sonegação !
    Mas no Brasil muita gente sonega impostos desde feirantes ,pequenos negócios até médicos ,dentistas e por aí vai !
    No Brasil a palavra de ordem é sonegar !
    Abomino a esquerda,sou extrema direita !
    Mas nesse caso específico estão certos em querer monitorar !
    Mas parece que sao tão primários em suas campanhas que isso não vai se concretizar !

  12. JEAN
    JEAN

    O que eles sempre quiseram era isso mesmo. Só ficavam se posando de bonzinhos para depois de chegar ao poder fazer o exato oposto. Dito e feito. Missão dada é missão cumprida.

    1. Jonas Ferreira do Nascimento
      Jonas Ferreira do Nascimento

      Como sempre, perfeito, grande Alexandre Garcia. Este, sim, GRANDE!

  13. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Perfeita análise Alexandre Garcia.
    A poucas semanas assisti ao filme Adeus Lenin de 2003 do diretor Wolfgang Becker que aborda a história de uma mulher devota do socialismo na antiga Alemanha Oriental.
    Ela tem um ataque cardíaco ao ver o filho ser preso durante uma manifestação contra o sistema vigente e enquanto estava em convalescença no leito de um hospital o muro de Berlim caiu durante as manifestantes de 09/11/1989.
    Para tentar evitar que sua mãe tenha um segundo enfarto, o filho já em liberdade convoca um amigo para produzir “filmes” e “reportagens” para reproduzir o ambiente comunista para que ela acompanhe o noticiário do leito hospitalar.
    Na última parte do filme dois senhores setentões caminhando pela rua comentam “eles nos enganaram durante 40 anos”.
    A fala destes senhores retrata a imagem do PT. Eles enganaram a maioria dos brasileiros, apoiados por artistas renomados, intelectuais, empresários, servidores públicos entre outros durante 40 anos e só estão no poder por força do consórcio STF/PT/TSE.

    1. Jonas Ferreira do Nascimento
      Jonas Ferreira do Nascimento

      Exatamente, Donizete.

  14. MC75
    MC75

    Prezado Alexandre Garcia,
    sempre admiro suas crônicas porém, neste caso, há um erro básico na premissa principal: a de que a esquerda tinha bandeiras a favor do povo (e que estas foram se alterando com o correr do tempo, sendo adotadas/absorvidas pela direita). A esquerda, SEMPRE, propugnou pela “Ditadura do Proletariado”, utilizando o vocábulo “democracia” apenas como adjetivo (apesar de ser um substantivo), visando enfeitar seu discurso para nortear seu objetivo de atingir o poder. SEMPRE foi o poder, pelo poder. Esse “poder” só se mantém através de ditaduras, como a que hoje vemos no Brasil.

    1. Renato Perim
      Renato Perim

      Parabéns pelo comentário, MC75, eu ia postar algo exatamente nessa linha. Não obstante a admiração que tenho pelo Alexandre Garcia, me assusta seus textos de tão ingênuos, quase infantis. Será que ele nunca soube mesmo quais os objetivos da esquerda? Nada foi trocado de lado, apenas vocês da imprensa nunca viram (ou nunca quiseram ver) o que acontece na prática, realmente. Esquerda sempre foi e sempre será inveja, ódio, rancor, censura, etc, hoje e sempre. Por isso encho o peito pra dizer sempre fui de direita e sempre serei.

      1. Carlos Perktold
        Carlos Perktold

        Alexandre está certo e nem de longe é ingënuo ou infantil, por favor. O que ele diz, por exemplo, é que a bandeira da ANISTIA GERAL , antes da esquerda, agora é da direita. Mas os canalhas que se aproveitaram da primeira, não querem saber da segunda. Este é só um exemplo. Mais atenção no texto, please, MC75 e Renato

    2. Mauro Maretto
      Mauro Maretto

      Perfeita sua análise!

    3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      O próprio nome do principal partido da esquerda, PT, é um enfeite. ”Trabalhadores”, como se realmente fossem virtuosos.

Anterior:
A lição do Pix
Próximo:
Não são os 20 centavos. Nem o Pix
Newsletter

Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.