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Edição 252

Quantas pessoas já viveram na Terra?

Seja qual for a estimativa, a necessidade de alimentar a todos é passível de ser atendida — o agro garante

Evaristo de Miranda
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“Se seu único instrumento é um martelo,
tudo parece um prego.”
(Provérbio japonês)

Neste planeta já nasceram mais de 117 bilhões de seres humanos, incluindo os 8,1 bilhões vivendo hoje na Terra. Os cálculos são de Toshiko Kaneda e Carl Haub, demógrafos do Population Reference Bureau (PRB), dos Estados Unidos. A agricultura foi essencial ao sucesso da humanidade. Não existe um registro civil global, com a lista de todas as pessoas nascidas desde a existência da humanidade. Óbvio. Como foi calculado esse total de humanidade? E como a agropecuária está associada a esses números?

Para estimar quantas pessoas já viveram neste planeta é preciso determinar três fatores: o tempo da presença humana na Terra, o tamanho médio da população em diferentes períodos da história e o número de nascimentos por mil habitantes em cada um desses períodos. Essa estimativa não depende do número de mortes.

Quando surgiu a humanidade? Os hominídeos mais antigos surgiram há 7 milhões de anos. As primeiras espécies do gênero Homo surgiram há mais de 2 milhões de anos. Evidências atuais apontam o aparecimento do Homo sapiens há pelo menos 190 mil anos. Essa data foi a considerada para começar as estimativas, com uma população inicial de duas pessoas. Cerca de 140 mil anos depois, 8 bilhões de humanos já haviam existido na Terra. Há 50 mil anos, a população mundial foi estimada em 2 milhões de pessoas. O Homo sapiens originou-se na África, e vários grupos viveram em diferentes locais durante os primeiros dois terços da história humana.

Por volta de 8000 a.C., a população mundial era de aproximadamente 5 milhões de indivíduos, e já haviam nascido e existido quase 9 bilhões de humanos. Foram 40 mil anos para passar de 2 milhões para 5 milhões de habitantes. Em plena Revolução do Neolítico, os humanos já cultivavam grãos como trigo, cevada, arroz e feijão, desenvolviam diversas técnicas e tecnologias e haviam domesticado o cão, o carneiro e a cabra. Humanos passaram de nômades a pastores, horticultores e agricultores, com o conceito de propriedade privada. Surge a economia de produção: os humanos do Neolítico sabem produzir os alimentos necessários à sua sobrevivência, graças à criação de animais e ao cultivo da terra.

No Neolítico, humanos desenvolveram agricultura, domesticação de animais e propriedade privada, transformando-se de nômades em produtores autossuficientes | Ilustração: Reprodução

Com a expansão da agricultura, da disponibilidade de alimentos e o surgimento das primeiras vilas, veio o crescimento populacional. Em 1 d.C., a cifra era de 300 milhões de habitantes no planeta, e 55 bilhões já haviam existido. Foi ainda um aumento populacional lento ao longo de 8 mil anos, resultado de uma taxa de crescimento baixa: 0,05% ao ano.

Sobre essas estimativas há dados divergentes. As populações humanas tiveram períodos de crescimento e declínio, foram atingidas por epidemias, guerras, fome, catástrofes, alterações climáticas etc. O aumento da população nunca foi regular ou uniforme. A aceleração recente deve-se essencialmente ao surgimento e à expansão da agricultura. Metade de todos os humanos já existentes nasceram nos últimos 2 mil anos. O sucesso do processo civilizatório da humanidade deve-se ao êxito da agricultura. Hoje, 140 milhões de pessoas nascem a cada ano e 60 milhões morrem. Daí o aumento acentuado da população mundial. E da demanda por alimentos.

Foram 190 mil anos para se atingir o total de 55 bilhões de humanos sobre o planeta. E bastaram menos de 2 mil anos para esse número duplicar. O limiar dos 110 bilhões de seres humanos já nascidos foi ultrapassado por volta de 1950, resultado do desenvolvimento da agricultura, artesanato, indústria e comércio. No século 20, os avanços na medicina, na saúde pública e na nutrição reduziram a mortalidade e prolongaram o período durante o qual cada ser humano é capaz de se reproduzir.

O rápido crescimento da população mundial nas últimas décadas levou a um aumento na proporção de humanos atualmente vivos em comparação com quem os antecedeu. Os 8 bilhões de pessoas vivas hoje representam 6,8% de todos os humanos já nascidos. É a maior porcentagem em 200 mil anos. De acordo com as projeções do PRB, em 2050, 121 bilhões de humanos terão vivido e 9,7 bilhões estarão vivos, ou 8,1%. A proporção de pessoas vivas, portanto, continuará a aumentar! Mesmo com a queda acentuada do número de nascimentos a cada mil habitantes. Passou de 80 no início da Era Cristã para cerca de 15, nos dias atuais.

Quantas pessoas já viveram na Terra?

Fontes (novembro de 2022): Toshiko Kaneda, Charlotte Greenbaum e Carl Haub, 2022 World Population Data Sheet (Washington, DC: Population Reference Bureau, 2022); Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, World Population Prospects: The 2022 Revision (Nova York: Nações Unidas, 2022); comunicação pessoal com Dudley L. Poston Jr., professor de sociologia, e George T. e Gladys H. Abell, professores de artes liberais, na Texas A&M University

Com inovações tecnológicas, a agricultura moderna satisfez a crescente procura por produtos vegetais e animais. A população mundial duplicou entre 1960 e 2000. A disponibilidade de alimentos e os níveis de nutrição melhoraram significativamente e cresceram ainda mais. Os preços do arroz, trigo e milho, principais alimentos básicos do mundo, caíram cerca de 60% nesse período, com ganhos de produtividade. Essa queda dos preços também indica: a oferta não só cresceu e atendeu à procura, ela a excedeu.

Narrativas simplistas associam a paz à disponibilidade de alimentos e a guerra à sua falta. Talvez tenha sido assim nas Guerras Púnicas e outras, séculos atrás. Não mais nas guerras recentes e atuais. É o contrário: os conflitos causam fome. Guerras no Vietnã, Coreia, Cambodja, Ucrânia, Faixa de Gaza, Golfo Pérsico e alhures não têm origem na falta de comida, e sim em razões geopolíticas e históricas complexas, próprias a cada caso.

Desde a Segunda Grande Guerra, a produção agropecuária teve um crescimento extraordinário, o clima ajudando ou não. Foi resultado da revolução verde, da mecanização, da incorporação constante de inovações tecnológicas ao processo produtivo e das indústrias agroalimentares. O preço dos alimentos caiu de forma constante. Isso foi particularmente verdadeiro no Brasil (Revista Oeste, Edição 239).

Desde a Segunda Guerra, a mecanização e a inovação tecnológica impulsionaram a produção agropecuária, reduzindo os preços dos alimentos, especialmente no Brasil | Foto: Shutterstock

Em 2007, pela primeira vez, a população urbana ultrapassou a rural no planeta. Mais da metade dos humanos vive em cidades, não produz alimentos e deve ser alimentada pelo campo. Nas Américas e na Europa, mais de 70% da população é urbana. Na África e na Ásia, cerca de 40%. Em 2030, mais de 60% da população será urbana (Revista Oeste, Edição 182).

Em 20 anos, um acréscimo populacional de mais 2 bilhões de pessoas virá do Congo, Etiópia, EUA, Índia, Indonésia, Nigéria, Paquistão, Tanzânia e Uganda. Além de produzir, o mundo urbano precisará de um fluxo de bilhões e bilhões de toneladas de alimentos diversificados, de qualidade, a baixo preço e entregues e disponíveis em lojas e supermercados próximos às residências. Isso não resultará de hortas urbanas, sementes crioulas ou arranjos produtivos locais, e sim do mercado globalizado de alimentos.

Quantas pessoas viverão ou poderão viver na Terra daqui a cem anos? Seja qual for a estimativa, a necessidade de alimentar a todos é passível de ser atendida. A crescente segurança alimentar não resultará do retorno a hábitos e saberes do Neolítico ou anteriores à Era Cristã, nem de catilinárias contra a agricultura moderna, o agronegócio e a industrialização de alimentos. Abundância e segurança de alimentos para a população são fruto de ciência e tecnologia. Não faltará comida aos bilhões de habitantes adicionais vindo pela estrada do futuro. O agro garante. Podem vir.

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1 comentário
  1. Gustavo Amaral
    Gustavo Amaral

    Malthus não contava com a tecnologia Agropecuaria tropical, liderada pelo Brasil e pela Embrapa! Maravilhoso texto!

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