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Ilustração: Shutterstock
Edição 253

A maré woke começa a recuar

A sanidade, o bom senso e a meritocracia estão de volta

Ubiratan Jorge Iorio
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Antes tarde do que nunca. Tudo indica que o mundo está dando sinais de que se cansou definitivamente da maior inversão de valores de que se tem notícia desde o nascimento da nossa civilização. Refiro-me a essa idiotice incomensurável que é a cultura woke, que agride o bom senso, a lógica, a meritocracia, os princípios e valores éticos e morais, a natureza e a própria condição humana. Esse traste ideológico assassina a sangue frio a verdade, substituindo-a por narrativas mentirosas com propósitos manifestamente políticos.

O movimento woke surgiu e cresceu nas últimas quatro décadas, com facetas sociais, econômicas, artísticas e culturais, todas elas com fundo político-revolucionário. Transformou o Ocidente em um verdadeiro hospício e provocou danos dificilmente reparáveis. Passou dos limites, e isso provocou uma reação que, mais cedo ou mais tarde, teria que acontecer.

Qualquer ser humano normal estava (e, por enquanto, ainda está) se sentindo supliciado diante do bombardeio woke em praticamente todas as atividades que o mundo moderno lhe exige: trabalhar, fazer compras, navegar na internet, assistir a TV, ir a teatros, cinemas e espetáculos musicais, escrever artigos, falar em público etc. Todo o cuidado com palavras e gestos era pouco.

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“Expulsai o natural e ele virá a galope”, observou, com toda a razão, o dramaturgo francês Philippe Néricault Destouches (1680-1754), um ensinamento que cabe perfeitamente para a aventura woke. Assim como a frase atribuída a Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), de inspiração darwiniana, “a natureza não dá saltos”. Pois a cultura woke declarou guerra a tudo o que parecesse natural.

As origens dessa baboseira podem ser encontradas em Herbert Marcuse (1898-1979), Jean-Paul Sartre (1905-1980), Simone de Beauvoir (1908-1986), Michel Foucault (1926-1984), e a Antonio Gramsci (1891-1937), bem como, já nos anos 1980, aos ensaios acadêmicos de teoria de gênero das feministas e ativistas Judith Butler (1956) e Kimberlé Crenshaw (1959). Segundo alguns, o termo woke (que significa “acordado”) foi tomado emprestado de uma canção da cantora de soul e militante de esquerda norte-americana Erykah Badu (1971). A onda começou sem fazer muito barulho nas universidades nos anos 1970 e, especialmente, mais no final dos 1980 e no início da década de 1990. Atingiu o ápice de ativismo com os protestos Black Lives Matter, #MeToo e em manifestações de “arte” queer.

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A pauta woke não anda sozinha: ela caminha sempre acompanhada por outras aberrações ideológicas, como as teorias apocalípticas do clima, os conflitos e as divisões entre grupos estimulados pelo ódio característico do comunismo e o internacionalismo, agora denominado de “globalismo”. Os resultados são visíveis: desvarios como Agenda 2030/35, protocolo ESG (environmental, social and governance), desconstrução do Cristianismo, ideologias de gênero e de raça, critérios DEI (diversidade, equidade e inclusão) e outras manifestações de irracionalidade.

A maré woke começa a recuar

Já se pode sentir que os ventos favoráveis às pautas woke, que atingiram a velocidade máxima entre, aproximadamente, 2014 e 2021/2022, começaram, desde 2024, a soprar para o outro lado. O maior sinal foi a ascensão de governos conservadores na Europa, na América Latina e, principalmente, com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos – todos manifestamente contrários à ideologia woke e a tudo o que representa.

Várias empresas antes controladas por políticas woke, após inúmeros fracassos de bilheteria, estão voltando à normalidade. Como a Disney, com os fiascos de Indiana Jones 5, Lightyear, Elementos, Mundo Estranho, Wish, As Marvels e She-Hulk – filmes em que a cor da pele e o sexo dos heróis originais foram deliberadamente alterados, o que gerou revolta em milhões de clientes e, como seria de se esperar, enormes prejuízos financeiros. A Meta, a Amazon, a Jack Daniel’s, a Toyota, a Harley Davidson, a Target e a Honda também foram obrigadas a cair na real e abandonaram a baboseira. Elon Musk, ao limpar o X da sujeira woke, parece ter iniciado o movimento no terreno das big techs. Foi seguido agora por um Zuckerberg, embora este ainda precise demonstrar que a guinada que anunciou no Facebook, Instagram e WhatsApp não foi determinada por medo, mas pelo bom senso.

Cartaz da série da Marvel She Hulk | Foto: Divulgação

A Gillette anunciou recentemente que precisava focar a “masculinidade tóxica” em seus anúncios. A Anheuser-Busch, depois de anunciar, em abril de 2023, a então marca de cerveja mais popular da América — Bud Light — com um ator transgênero, perdeu rapidamente o primeiro lugar. O mesmo aconteceu com a Goodyear, a Victoria’s Secret e muitas outras empresas. Alguns bancos também vêm dando sinais de capitulação do wokeísmo.

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Dylan Mulvaney publicou vídeo com a cerveja Bud Light no dia 1º de abril de 2023 | Foto: Reprodução/Instagram/Dylan Mulvaney.

Foi uma dura lição para muitos CEOs que tentaram posar como “modernos”: parem com essa estupidez de mudar os valores corporativos que realmente importam e de orientar os departamentos de propaganda e de recursos humanos da empresa a prestarem atenção à sexualidade, gênero, cor da pele e outros atributos descabidos. Passem a dar a devida atenção aos produtos da empresa e à qualificação dos funcionários, que é o que importa.

Empresas vivem de vendas; vendas dependem de consumidores; e consumidores estão à procura de produtos de boa qualidade e baratos, não importa se produzidos por membros de minorias ou não. Quem vai deixar de comprar um produto qualquer apenas por saber que o proprietário da empresa que o produziu é descendente de europeus, bisneto de um senhor de escravos no Alabama ou no vale do Paraíba do Sul, ou negro, ou homossexual, ou torcedor de um determinado clube? Você contrataria serviços em uma clínica cujos critérios de seleção dos médicos são baseados na agenda woke? Ou chamaria um engenheiro que entrou para a universidade pelo sistema de cotas para construir um dique em sua fazenda?

O bom senso está de volta

O embuste woke está em queda, e Trump, já nesta primeira semana de seu segundo mandato, confirmou que fará tudo o que puder para acabar com essa palhaçada. Nos Estados Unidos, a cômica linguagem neutra, assim como certos neologismos incompreensíveis que fazem referência a certas minorias, já começa a entrar em desuso. Alguns países já estão criando leis para proibir as cirurgias de alteração de gênero para crianças e adolescentes. Atletas nascidos homens e que se dizem mulheres terão que voltar a competir exclusivamente com outros homens. A barbaridade dos banheiros mistos está com os dias contados. O mesmo tende a acontecer com a doutrinação de crianças pela farsa da ideologia de gênero.

O ensino e a pesquisa também parecem estar se afastando da “lacração”. Várias universidades de renome, como Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que se transformaram em antros woke, tiveram que ceder à pressão de doadores e ex-alunos e abandonaram a insanidade. Outras, como a Universidade da Califórnia, enfrentaram processos judiciais por insistirem nas maluquices.

A sanidade, o bom senso e a meritocracia estão de volta. Para o bem da nossa civilização, os anos de loucura coletiva estão chegando ao fim, mas ainda vai levar algum tempo para que a cultura woke desapareça e muitos dos prejuízos e injustiças que causou sejam pelo menos parcialmente reparados. A vitória de Trump vai acelerar esse processo, e o Brasil, que sempre anda atrasado em relação aos Estados Unidos, também vai se beneficiar, com os habituais dois anos de atraso.

Donald Trump | Ilustração: Danny Oliva/Shutterstock

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.
Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Rede X: @biraiorio

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