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Elon Musk dentro da arena Capital One no dia da posse do segundo mandato do presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington, EUA (20 /1/25) | Foto: Reuters/Mike Segar
Elon Musk na arena Capital One, no dia da posse do segundo mandato do presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington, EUA (20/1/2025) | Foto: Reuters/Mike Segar
Edição 253

Se tudo é nazismo, nada é nazismo

A esquerda banaliza crimes contra a humanidade para atacar seus oponentes: Elon Musk, Donald Trump, Jair Bolsonaro, os liberais e conservadores

Silvio Navarro
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Nesta semana, durante a série de eventos que marcaram a volta de Donald Trump à Casa Branca, o empresário Elon Musk, que fará parte do governo americano, fez um discurso que levantou a plateia. Símbolo de novos ventos no continente, Musk estendeu o braço direito com a palma da mão aberta e disse, como se arremessasse o seu coração para o público: “Meu coração está com vocês. É graças a vocês que o futuro da civilização está assegurado”. Foi ovacionado.

Imediatamente, como ocorre com qualquer pessoa não alinhada à esquerda que ouse erguer o braço ou tomar um copo de leite puro, o movimento corporal foi tratado como saudação nazista — no caso dele, o Sieg Heil. A comparação não demorou a correr nas redações da imprensa tradicional no Brasil, especialmente do Grupo Globo, onde Musk já foi chamado de “bilionário mimado” pelos apresentadores, depois de ter desafiado o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Numa das reações que viralizaram nas redes sociais, uma comentarista da GloboNews (veja o vídeo abaixo) afirmou que o gesto “ultrapassa a barreira do discurso de ódio” e funciona como “apito de cachorro” para extremistas. “Não é a primeira sinalização que Musk faz a mensagens ou subtextos neonazistas”, disse, em consonância com demais debatedores do canal. O assunto foi tratado em diferentes programas de TV a cabo.

Em outras demonstrações do viés ideológico em que as redações da empresa mergulharam, o jornal O Globo e o telejornal Jornal Nacional, o principal da emissora na TV aberta, produziram reportagens sobre o episódio sem citar a frase dita por Musk. O jornal diz textualmente: “Ele agradece novamente, bate no peito e ergue rapidamente a mão direita, com o braço estendido para a frente e a palma da mão voltada para baixo, sinal similar ao prestado a Adolf Hitler na Alemanha Nazista”. A publicação, contudo, não menciona o agradecimento feito por Musk no microfone.

A TV não só omitiu a frase “My heart goes out to you” (“Meu coração está com vocês”), como usou imagens de arquivo de Adolf Hitler para ilustrar a notícia. O vídeo do telejornal de William Bonner está disponível na internet neste link. O caso é tratado a partir do minuto 2’15”.

Outros veículos de mídia, inclusive no exterior, também criticaram o dono da rede X — o francês Le Monde e o britânico The Guardian se queixaram de “toxicidade do diálogo”. O diário francês afirmou em editorial na segunda-feira, 20: “A utilidade da nossa presença pesa menos do que os inúmeros efeitos colaterais sofridos”.

Elon Musk respondeu aos ataques com duas frases, no próprio X: “Francamente, eles precisam de truques sujos melhores. O ataque de ‘todo mundo é Hitler’ é tão batido”.

Banalização do crime

Vários fatores explicam a fúria da mídia mundial de esquerda, dos democratas americanos e do consórcio de poder no Brasil com a figura de Elon Musk. Ele incomoda os críticos pelo estilo excêntrico, pela defesa incondicional da liberdade, as cifras que movimenta e o sucesso estrondoso dos seus negócios. Depois do alinhamento a Donald Trump, ainda na corrida eleitoral, tornou-se o vilão número 1 da cartilha woke — ou de progressistas e demais sinônimos, de militantes das bandeiras LGBT, de quem vê racismo em toda parte, e da língua do “todes”.

Um fato, porém, parece estar fora do lugar: quem não gosta de Musk tem todo o direito de não gostar — inclusive, é permitido fazer isso na rede social que ele comprou, o X. Mas chamá-lo de nazista, assim como tem ocorrido com outros líderes da direita — no Brasil, com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores —, é crime contra a honra. Pior: é a banalização de um dos capítulos mais tristes e sombrios da história.

Historiadores afirmam que nunca será possível chegar ao número preciso do genocídio nazista. O dado mais citado é de 6 milhões de judeus, sendo 4 milhões que passaram pelos campos de concentração e 2 milhões fuzilados. Trata-se de uma barbárie que mudou o mundo e deixou marcas em gerações até hoje. Mas, como disse Musk, é um truque sujo e manjado.

“Eu considero que as palavras ‘nazista’, ‘fascista’ não possuem o caráter de ofensa pessoal ao ponto de caracterizar calúnia, injúria e difamação. É uma corrente política estruturada na sociedade, no planeta, basta examinar as eleições da Alemanha em curso em que há um partido que é formado basicamente por herdeiros dessa corrente política.”
(Flávio Dino, durante julgamento no Supremo Tribunal Federal)

No Brasil, quem inaugurou essa tática foi o PT e suas franjas mais radicais, como o Psol. Na eleição de 2022, uma deputada do Psol de São Paulo, chamada Mônica Seixas, por exemplo, disse que a ligação do “bolsonarismo” com o fascismo estava na “aversão ao moderno, no machismo e no racismo”. Disse: “O ultranacionalismo é racista na medida em que cria uma identidade nacional” e que era preciso “desintoxicar” a população. “O fascismo, em seu estado mais bruto, é contra a arte, o pensamento crítico, o progresso. Por isso, odeia professores e artistas. É contra as minorias.”

O próprio ministro do Supremo, Flávio Dino, político durante décadas pelo PCdoB, disse — já com a toga — que chamar alguém de “nazista” ou “fascista” faz parte do debate. Ocorreu durante um julgamento no qual o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) foi chamado de “nazista”. À época, a relatora, Cármen Lúcia, não gostou. “Quando se fala que o fulano é nazista, com a carga histórica do que representou, na Segunda Guerra Mundial, naquela fase toda, isso vem com uma carga que traz também uma série de comportamentos atribuíveis”, disse.

O presidente Lula da Silva já fez isso várias vezes antes e depois de voltar a Brasília. O petista costuma emendar o termo “nazista” ou “neonazista” para desqualificar Jair Bolsonaro. Lula também disse, no ano passado, que a vitória de Trump seria “nazismo com outra cara”. Normalmente, a referência ao nazismo surge num balaio da esquerda onde cabe de tudo — “extrema direita”, “fascista”, “bolsonarista”, “terrorista” e “antidemocráticos”.

Notícia publicada no jornal O Globo (21/1/2025) | Foto: Reprodução/O Globo
Notícia publicada na Folha de S.Paulo (1º/11/2024) | Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo
Notícia publicada no PT.org (18/1/2020) | Foto: Reprodução/PT.org
Notícia publicada no UOL (8/11/2022) | Foto: Reprodução/UOL

O retorno de Trump ao poder mexeu com as pedras no tabuleiro do Oriente Médio. Depois de 15 meses, um frágil acordo de cessar-fogo teve início entre Israel e os terroristas que cercam suas fronteiras de lado a lado. Os primeiros reféns israelenses do ataque sangrento de 7 de outubro de 2023 foram libertados. Se a esquerda — e a diplomacia pró-Hamas do PT — estão do lado dos terroristas, onde o discurso sobre o neonazismo da direita se encaixa?

Foi o efeito Trump que mudou o jogo do outro lado do Ocidente em defesa do Estado constituído de Israel. Na contramão, Lula foi chamado de persona non grata porque não consegue condenar com todas as letras a monstruosidade praticada pelo Hamas — sequestro de bebês, tortura, estupros e uma carnificina sem precedentes em décadas. Os movimentos de esquerda, aliás, fazem passeatas a céu aberto com a frase “libertem a Palestina, do rio ao mar”, que, na prática, significa o extermínio do povo judeu.

Seria desejável que Lula da Silva, o PT e seus simpatizantes na imprensa, pelo menos, respeitassem a memória — e a história. Mas é aí que mora o perigo para a esquerda: a memória do que eles fizeram ao longo da história não é nada boa.

Leia também “Celebração da infâmia”

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