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Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann | Foto: Reprodução/PT
Edição 254

A dupla virou casal

O entendimento entre os comparsas confirma que Gleisi e Lindbergh nasceram um para o outro

Augusto Nunes
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A paranaense Gleisi Hoffmann e o paraibano Lindbergh Farias descobriram ainda na adolescência a vocação política, aguçada pelo ingresso no movimento estudantil. Ambos filiados ao PCdoB, ela foi dirigente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, ele presidiu a União Nacional dos Estudantes e comandou o movimento dos caras-pintadas durante o processo de impeachment de Fernando Collor. Ela concluiu o curso de Direito mas nunca trabalhou como advogada. Ele não passou do terceiro ano em duas faculdades. Os dois logo entenderam que foram talhados para o ofício de político profissional. Mas já eram dois cinquentões quando descobriram que nasceram um para o outro.

É o que atestam as semelhanças que sublinham as trajetórias da dupla que só em 2020 virou casal. Acampada no PT desde 1989, Gleisi teve dois maridos antes de unir-se a Lindbergh. Ele só desfez um casamento, mas colecionou escalas em esquisitices que só dão no Brasil. Em 1997, era deputado federal pelo PCdoB quando se converteu ao trotskismo e filiou-se ao PSTU — iniciais de um certo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. (Isso mesmo: “Unificado”, no singular, para rimar com “Partido”, não com “Trabalhadores”. Uma consoante a menos não faz diferença: o PSTU tem mais letras no nome oficial do que filiados que saibam quem foi Trotsky). Ela perdeu a disputa pela prefeitura de Curitiba. Ele foi eleito duas vezes prefeito de Nova Iguaçu. Ambos foram senadores por apenas um mandato. O malogro da candidatura à reeleição aconselhou-os a conformar-se com o rebaixamento e disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Deu certo. Os dois se elegeram e pretendem continuar por lá.

As coincidências não param por aí. Ambos escaparam por pouco da devassa promovida pela Operação Lava Jato, mas acabaram anexados à lista dos políticos premiados com propinas pela Odebrecht. Como todos os outros, tanto Gleisi quanto Lindbergh aparecem camuflados por codinomes que mais revelam que escondem a identidade dos favorecidos. Ela ganhou dois: Amante e Coxa. Ele também: Lindinho e Feio. Ambos sempre se proclamaram inocentes com a placidez de quem não se constrange com nada e mente como quem respira. Quando foi chefe da Casa Civil do governo comandado por uma cabeça sem cérebro, ela vivia jurando que entende perfeitamente o que Dilma Rousseff diz: “Tenho conversas muito interessantes com a presidenta”, repetia sem ficar ruborizada. Lindbergh não pareceu desconcertado sequer no dia em que inventou o comício sem plateia em lugar movimentado. No vídeo que registra o momento histórico, o candidato a senador fala para ninguém e finge não enxergar o espetáculo da indiferença. Dois metros à frente do orador, que discursa de pé, a multidão se move em busca sabe Deus do quê e prossegue o desfile de carros, ônibus, homens, mulheres e crianças. Todos têm mais o que fazer. Ou preferem não fazer coisa alguma.

YouTube video

Interrompido por alguns meses até a reconciliação em 2022, o casamento dos brigões vocacionais parece esbanjar sintonia. Nas redes sociais e no Congresso, ele capricha no papel de melhor discípulo do mestre. Prestes a deixar a presidência nacional do PT, ela administra a usina de notas, posts e declarações que reiteram a incondicional fidelidade ao chefe supremo. Lindbergh já está em campanha para reeleger-se em 2026. Prestes a deixar a presidência do PT, Gleisi já se preparava para a entrada no ministério e para ocupar uma sala a poucos metros do gabinete presidencial.

“Lula nunca erra”, avisa o primeiro mandamento da seita que tem num corrupto juramentado o seu único deus. Se a divindade de picadeiro tropeça, o culpado é algum adversário ou um companheiro trapalhão. Se explode outro escândalo, é invencionice dos inimigos do povo ou outra onda de fake news. Nas duas hipóteses, Lula nunca soube de nada. Eleito em 2002, ele precisou de poucas semanas para debitar na conta de Fernando Henrique Cardoso todos os problemas do Brasil — passados, presentes ou futuros. A fantasia da “herança maldita” ficou em andrajos com a descoberta de que o templo das vestais era o esconderijo da quadrilha liderada por Altos Companheiros. Mas até hoje o corrupto irrecuperável, condenado à prisão por 19 juízes, baixa nos terreiros do PT como a reencarnação de Jesus Cristo. Os balidos do rebanho endossam a heresia cafajeste.

Lula ao lado de Fernando Henrique Cardoso | Foto: Acervo FHC
Lula ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em 1978 | Foto: Acervo FHC

Um dos satãs do terceiro mandato foi Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central até o fim de 2024. Antes e depois das reuniões do Comitê de Política Monetária, o Copom, Lula acusava Campos de tentar destruir o Brasil usando a altitude dos juros como uma silenciosa bomba nuclear. Aos olhos da versão brasileira e analfabeta de Joe Biden, o mais ínfimo aumento era um crime de lesa-pátria. Um Brasil com juros de um dígito só precisaria de dois ou três meses para virar uma Noruega com praia ensolarada e Carnaval. Isso já teria acontecido se o presidente do BC fosse dirigido por um companheiro indicado pela sumidade que não sabe ler nem escrever.

Roberto Campos Neto criticou fim da escala 6x1 em evento | Foto: Raphael Ribeiro/BC
Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central | Foto: Raphael Ribeiro/BC

Terminado o mandato de Campos, Gabriel Galípolo assumiu a presidência do BC. A entrada de mais três diretores escolhidos pelo governo consolidou a hegemonia petista no Comitê de Política Monetária. Nesta última semana de janeiro, a primeira reunião do Copom redesenhado aprovou por unanimidade o aumento de 12,25% para 13,25% na taxa Selic. Imediatamente, um post de Gleisi responsabilizou Roberto Campos Neto pela decisão anunciada por Galípolo. A acusação foi endossada pouco depois por um texto subscrito por Lindbergh. O maridão jurou que, na reunião de dezembro, o presidente em fim de mandato “contratou” três aumentos de 1% em janeiro, fevereiro e março.

Contratou com quem? Com Galípolo, que teria resolvido contrariar Lula? Nada disso importa. Importante foi a reação de Lula ao tratar do caso na entrevista coletiva de quinta-feira. “O presidente do BC não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra”, resumiu. Sobrou para a dupla de afoitos, forçada a retificar os posts que, com um punhado de parágrafos, ergueram outro monumento à desinformação. O isolamento dos comparsas pode até fortalecer o casamento. Mas convém que ambos revejam seus projetos eleitorais. É de bom tamanho a votação necessária para reeleger um deputado federal. Talvez não seja má ideia saber o que faz e como vive um deputado estadual.

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6 comentários
  1. Euclides Rampelo
    Euclides Rampelo

    amor bandido

  2. Eldo Amílcar Franchin
    Eldo Amílcar Franchin

    Eles nasceram um para o outro.
    No Brasil abundam os psicopatas e onde abunda não falta.

  3. Adelmo cabral
    Adelmo cabral

    Acho que não seria má ideia saber o que faz e como vive um vereador.

  4. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    A realidade é difícil muitas vezes de encarar ,esse casal é uma delas.A ignorância, incompetência e a falta de vergonha na cara da dupla oportunista não desiste.Enquanto uma grita o outro aplaude e concorda.

  5. Leonardo de Almeida Queiroz
    Leonardo de Almeida Queiroz

    Se cair de quatro nunca mais se ergue sobre as patas trazeiras

  6. Oswaldo Galvão Carvalho
    Oswaldo Galvão Carvalho

    imaginem um filho deste casal ….. boçal ao cubo. (coitado)

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