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Confrontos violentos na Praça da Independência, em fevereiro de 2014, em Kiev, na Ucrânia | Foto: Mstyslav Chernov/Wikimedia Commons
Edição 255

Imagem da Semana: a Revolução da Dignidade

O que começou como uma manifestação pacífica pelos direitos civis na Ucrânia culminou em violentos protestos na Praça EuroMaidan, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014

Daniela Giorno
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Começou no congelante 21 de novembro de 2013, na praça central Maidan Nezalezhnosti, em Kiev, na Ucrânia, o que viria a se tornar “o maior protesto pró-europeu da história”. O presidente Viktor F. Yanukovych subitamente recuou de um acordo comercial que abriria caminho para a adesão do país à União Europeia. Em vez disso, ele escolheu justamente o oposto: fortalecer as relações com a Rússia, parceira econômica de longa data da Ucrânia, desde os tempos da União Soviética comunista — e isso não foi bem recebido pelos cidadãos. 

O que começou como uma manifestação pacífica na Praça Maidan — posteriormente conhecida como EuroMaidan — terminou com espancamentos e gás lacrimogêneo. O conflito foi intenso e brutal. A polícia decidiu usar munição real em vez de balas de borracha e incendiar um prédio inteiro, conhecido como sede do movimento. 

Protestos antigovernamentais em Kiev, na Ucrânia, em janeiro de 2014 | Foto: Arturas Morozovas/Netflix Original

A EuroMaidan, então, tomou outra proporção. Os ucranianos passaram a exigir a renúncia do governo, o combate à corrupção e uma maior integração europeia. A jornalista Lecia Bushak, da Newsweek Magazine, escreveu em seu artigo publicado em 2014:

“A EuroMaidan cresceu e se tornou algo muito maior do que apenas uma resposta raivosa ao fracassado acordo da UE. Agora, tratava-se de expulsar Yanukovych e seu governo corrupto; guiar a Ucrânia para longe de seu relacionamento de 200 anos, profundamente entrelaçado e doloroso com a Rússia; e defender os direitos humanos básicos de protestar, falar e pensar livremente e agir pacificamente sem a ameaça de punição.”

Praça Maidan, em Kiev, na Ucrânia (20/2/2014) | Foto: Emeric Fohlen/Nurphoto/Shutterstock

Foi um espetáculo amplamente transmitido. Milhares de pessoas arriscaram a vida reunidas em uma praça da cidade para lutar pela liberdade do seu país. Recusaram-se a sair, a despeito da violência cruel do Estado e do mau tempo. A praça foi transformada em um acampamento-base e, de lá, repetidamente, os civis tentaram marchar em direção ao Parlamento e à Residência Presidencial, mas todas as vezes foram interceptados. 

Em 18 de fevereiro de 2014, os protestos transformaram-se numa revolução com confrontos generalizados na praça. Manifestantes — a maioria na faixa dos 20 anos — foram espancados e vários foram mortos. Muitos foram presos ou dados como desaparecidos. Em 22 de fevereiro, Yanukovych foi deposto. Ele fugiu do país e obteve asilo político na Rússia do presidente Vladimir Putin.

A luta do país pela liberdade e pela dignidade humana foi angustiante. Não por acaso, os protestos também ficaram conhecidos como Revolução da Dignidade ou Revolução de EuroMaidan. Crianças, pais, maridos e amigos foram assassinados durante os protestos. Ucranianos morreram em uma luta contra seu próprio governo e, considerando o quanto eles trabalharam para ganhar sua liberdade, é fácil entender por que estão ansiosos para defendê-la contra o atual invasor.

Forças governamentais entram em confronto com manifestantes em uma batalha sangrenta, na Praça da Independência (Maidan), em Kiev, na Ucrânia (19/2/2014) | Foto: Joseph O’Brien/Shutterstock

A revolução abriu espaço para uma nova geração de líderes anticorrupção e pró-democracia. O documentário Winter on Fire, dirigido e produzido por Evgeny Afineevsky, captura o idealismo e a resiliência dos ucranianos que se reuniram na Praça Maidan para protestar contra o afastamento de Yanukovych da União Europeia. As imagens foram filmadas durante manifestações reais de cidadãos ucranianos entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. É um filme visceral e impactante, que retrata o terror, a raiva, o desespero e a determinação de todos aqueles que resistiram bravamente durante 92 dias em busca de liberdade, transparência, democracia e dias melhores para as próximas gerações.

Cartaz do filme Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom, dirigido por Evgeny Afineevsky e publicado em 2015 | Foto: Divulgação
YouTube video

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

Leia também “O infame cerco a Leningrado”

1 comentário
  1. Wagner Destro
    Wagner Destro

    Desculpe, Daniela, mas estranhei muito esse seu discursinho meloso sobre a “resistência” do povo ucraniano ao governo “corrupto”, em 2014. Não cola. Não para quem acompanha o noticiário das redes sociais. Veja, por exemplo, o que diz o perfil “Shadow of Hezra” no X:
    “RFK Jr revelou que a USAID era na verdade uma fachada da CIA que, secretamente, canalizou US$ 5 bilhões, em 2014, para incitar tumultos na Ucrânia.
    Segundo ele, esses tumultos apoiados pela CIA desencadearam um golpe de estado que derrubou o governo neutro e democraticamente eleito da Ucrânia.
    Apenas um mês antes do golpe, uma ligação vazada entre Victoria Nuland e o embaixador dos EUA na Ucrânia revelou que ela já havia escolhido a dedo o novo gabinete do país.
    ‘Então eles estavam escolhendo o novo governo um mês antes do antigo governo ser derrubado.'”
    Post publicado em 02/02/25 e se refere a um corte da entrevista dada por JFK Jr ao jornalista Tucker Carlson.

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