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A lua crescente, um símbolo do Islã, no topo do minarete da Mesquita de Londres Oriental | Foto: Shutterstock
Edição 256

É oficial: as leis islâmicas contra a blasfêmia chegaram à Grã-Bretanha

Ao prenderem um homem por atear fogo no Alcorão, as autoridades estão fazendo o que os islamistas reacionários querem

Fraser Myers, da Spiked
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Um homem foi preso no início do mês por supostamente queimar uma cópia do Alcorão. Não, não foi no Irã nem na Arábia Saudita, foi em Manchester, no Reino Unido. Aparentemente, agora pode ser uma infração na Grã-Bretanha do século 21 expressar sua aversão a uma religião do século 7º.

A prisão ocorreu depois de uma transmissão ao vivo nas redes sociais que parecia mostrar um homem de 47 anos ateando fogo no Alcorão, página por página, no sábado, 1º. Isso ocorreu apenas dois dias depois que Salwan Momika, um ateu iraquiano, foi assassinado na Suécia, ao que tudo indica em punição por queimar cópias do livro sagrado muçulmano em público.

Seria de se imaginar que, em uma democracia moderna e liberal como o Reino Unido, blasfemar contra um texto religioso não seria da conta da polícia. Afinal, as leis que criminalizam a blasfêmia contra o cristianismo foram oficialmente revogadas na Inglaterra e no País de Gales em 2008, e a última condenação bem-sucedida por blasfêmia ocorreu em 1977. Mas o antigo crime de blasfêmia foi lentamente substituído por uma nova série de infrações criminais contra o chamado discurso de ódio.

De acordo com a polícia da Grande Manchester, o suposto incendiário do Alcorão foi preso sob suspeita de “ofensa à ordem pública com agravante racial”. Stephanie Parker, assistente do chefe de polícia, disse à GB News que a polícia se sentiu compelida a fazer uma “prisão rápida”, temendo que a transmissão ao vivo pudesse causar “profunda preocupação (…) em algumas de nossas diversas comunidades”. A linguagem moderna da diversidade e do multiculturalismo disfarça o medievalismo da determinação que está sendo executada.

Grupo de mulheres muçulmanas usando hijab em frente a uma barraca com bandeiras britânicas, no Petticoat Lane Sunday Market, em Londres | Foto: Mary Doggett/Shutterstock

A tutela para policiar o chamado discurso de ódio, especialmente quando se trata de “islamofobia”, tem levado as forças policiais britânicas a cumprir rotineiramente as ordens dos reacionários islâmicos. Em 2023, quando quatro meninos em Wakefield levaram um Alcorão para a escola e um deles acabou arranhando levemente o exemplar, a polícia registrou o fato como um “incidente de [discriminação por] ódio não criminoso”. Cerca de 15 quilômetros adiante, na Batley Grammar School, um professor foi forçado a se esconder em 2021 depois de mostrar uma charge de Maomé em sua aula de estudos religiosos. Ele está escondido até hoje, mas nenhuma ação foi tomada contra aqueles que maliciosamente divulgaram seu nome ou lhe enviaram ameaças de morte concretas. Quando muito, aos olhos das autoridades, os agressores islâmicos radicais, cuja sensibilidade religiosa foi ofendida, foram as verdadeiras vítimas.

A expansão em toda a Europa das leis de discurso de ódio para abranger a blasfêmia contra o Islã significa que agora existe uma afinidade alarmante entre as autoridades e os islâmicos conservadores e radicais e até mesmo os islâmicos extremistas e violentos. É impressionante que, quando foi assassinado na semana passada na Suécia depois de queimar o Alcorão, Salwan Momika estava prestes a ser julgado exatamente por esse suposto “crime”. Claro, o Estado europeu moderno insiste que está punindo o discurso de ódio, não a blasfêmia, e o faz com detenções, multas e sentenças de prisão, não com violência nem execuções. Mas tanto nossas autoridades seculares quanto os radicais islâmicos concordam que ridicularizar o Islã deve ser punido como um crime de incitação ao ódio.

De forma alarmante, pelo menos na Grã-Bretanha, as restrições sobre o que podemos dizer sobre o Islã tendem a ficar mais rígidas. O governo do Partido Trabalhista britânico está avaliando a possibilidade de impor uma definição ampla e controversa de islamofobia a todos os órgãos públicos, o que impediria a discussão sobre praticamente qualquer assunto que possa mencionar o Islã ou os muçulmanos. A secretária para Assuntos Internos Yvette Cooper e o ministro da Segurança Dan Jarvis prometeram ampliar o registro de incidentes de ódio não criminosos para combater a islamofobia. Isso reforçaria ainda mais o papel da polícia como executora da lei islâmica da blasfêmia.

Mulher mulçumana caminha em uma rua de Londres, na Inglaterra | Foto: Shutterstock

Em uma sociedade moderna e livre, o direito de zombar, desprezar e rejeitar todos os deuses, profetas e textos religiosos deveria ser sacrossanto. Esse novo regime de policiamento da fala, por mais “progressista” e “inclusivo” que pretenda ser, representa um retrocesso catastrófico.


Fraser Myers é editor-adjunto da Spiked e apresentador do podcast da Spiked. Ele está no X: @FraserMyers.

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