A teoria dos frutos da árvore envenenada é um princípio jurídico que defende que provas obtidas ou procedimentos de investigação feitos de forma ilícita são contaminados e não podem ser usados no processo, tendo como destino o arquivamento ou a anulação de tudo.
Essa tese vem de um ensinamento bíblico que não tergiversa ao dizer que uma árvore envenenada não dá bons frutos. O preceito se transformou em um princípio jurídico pela Suprema Corte dos Estados Unidos e é utilizado em todo o mundo ocidental democrático, cujos valores do Estado Democrático de Direito não permitem concessões ou reinterpretações do devido processo legal, o que garante a ampla defesa e um julgamento justo a qualquer um, de qualquer espectro político ou linha de pensamento, sob quaisquer acusações. A isso se dá o nome de civilização.
Relembrado tal fundamento jurídico inequívoco, aceito e também referendado pelo Supremo Tribunal Federal, vale perguntar: que Estado Democrático de Direito sério permitiria o atual estado de coisas que vivemos no Brasil?

Para entender o momento brasileiro, depois da denúncia do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, alguns oficiais militares de alto posto e ex-assessores de seu governo, amplamente questionada por quem defende a legalidade, recorro à tese da árvore envenenada.
Dois casos públicos expõem meu questionamento que pretende, antes de tudo, salvar verdadeiramente, dessa estapafúrdia relativização que nos foi imposta, a democracia e as instituições, a começar pelo STF, que até antes de 2019 esteve na vanguarda de pacificar entendimentos, garantir a Constituição e a segurança jurídica do país.
Começo com o ministro Luís Roberto Barroso, hoje presidente da Corte. Do alto de um palco mambembe de um convescote da União Nacional dos Estudantes, a UNE, que de agremiação histórica se tornou num puxadinho radical e ideológico da esquerda que há muito não representa os estudantes, disse em julho de 2023: “Derrotamos o bolsonarismo”. Ao lado dele estava ninguém menos que o mais radical e ideológico ministro de Lula, Flávio Dino, da Justiça e da Segurança Pública, hoje convertido em ministro da Corte, contra quem também pairam acusações de se omitir no enfrentamento do vandalismo do 8 de janeiro de 2023.

Num segundo caso, vem Alexandre de Moraes, ministro relator do primeiro e de uma série de inquéritos abertos de ofício. No seu “mandato”, Moraes negou por diversas vezes que advogados e acusados tivessem o devido acesso aos autos e às eventuais provas e depoimentos de delação premiada que citavam o investigado. Por muito tempo, criou a excrescência da defesa impossível. Como se defender se não se sabe do que está sendo acusado? Em um sem-número de vezes, porque a decretação de sigilo dos inquéritos foi a tônica de sua atuação, derrubou perfis de redes sociais, ameaçou plataformas e tirou o X do ar, bloqueou contas bancárias, apreendeu passaportes de jornalistas e determinou busca e apreensão em gabinetes de parlamentares da oposição de direita, em casos de notória irregularidade processual de afronta à liberdade de expressão, aos direitos legais e à inviolabilidade parlamentar. A conversa de um de seus juízes auxiliares com um perito do TSE, revelada pelo jornal Folha de S.Paulo, em que determina que o tal perito “seja criativo” para fazer acusações à Revista Oeste, onde só havia encontrado “matérias jornalísticas”, é soberana ao demonstrar o desvirtuamento da investigação. E ao tornar qualquer crítica ao sistema eleitoral ou à Corte um crime, afrontando todos os direitos de liberdade guardados em cláusula pétrea pela Constituição, deslumbrado pelo poder inaudito a um ministro do STF, Moraes disse: “Ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar”. Como assim? Já julgou e condenou? Houve direito à defesa?
A denúncia de Gonet, em que a mera semântica da sagrada língua portuguesa derruba a tese do “golpe”, impossível também juridicamente pelo Direito ensinado nas escolas para novos advogados, será julgada, se aceita pelo STF, pela Primeira Turma, por decisão dele próprio, o juiz Alexandre de Moraes, o que provocou protestos de outros ministros exigindo que o caso seja analisado pelo Pleno composto dos 11 ministros.

Uma constatação prática: a Primeira Turma é formada por Alexandre de Moraes e Flávio Dino, além de Cristiano Zanin, ex-advogado de Lula, Cármen Lúcia, da “censura até segunda-feira”, e Luiz Fux. Se o julgamento for para o pleno, Luís Roberto Barroso é o presidente. Que frutos podem sair dessa árvore suprema? Num questionamento mais objetivo, que condições terá esse Supremo de julgar sob o estrito senso da lei, do Direito brasileiro, e o princípio da inalienável isenção? Temos ministros que se julgam vítimas e alguns que já falaram demais, fora dos autos, contra um dos lados do pensamento brasileiro, justamente o que será julgado. Não obstante, à sombra da tal árvore, têm acontecido jantares e encontros secretos ou não com o governo Lula, num afastamento sem precedentes da liturgia do cargo.
É necessário igualmente fazer duas reflexões sobre crimes reais cometidos por expoentes da esquerda e sobre leis perfeitas que foram reinterpretadas ou invalidadas na prática, com o dedo definitivo do Supremo que reescreveu a história do país.
1. A Lei do Impeachment foi desfigurada e fatiada no julgamento de Dilma Rousseff, do PT. Em agosto de 2016, a sessão de cassação da ex-presidente foi presidida pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça. Rasgando a lei, Dilma foi deposta do cargo, mas não perdeu os direitos políticos, o que causou protestos veementes de ninguém menos que o senador Fernando Collor de Mello, um ex-presidente punido integralmente pela lei.

2. A Lei da Ficha Limpa, soberana em garantir candidatos de passado ilibado, foi atropelada pela tese “suprema” do CEP, apresentada pelo ministro Edson Fachin e referendada pela Corte, que anulou os julgamentos que condenaram Lula em Curitiba e devolveu o ex-presidente à eleição de 2022, dando início ao desmonte da Lava Jato. Lula, do PT e principal beneficiado, estava preso depois de condenado em três instâncias por crimes de corrupção.
Especialistas em Direito, juristas renomados pela seriedade na defesa apartidária do Estado Democrático de Direito e do devido processo legal, têm apontado uma série enorme de inconsistências e narrativas na denúncia da Procuradoria-Geral da República, o que torna a peça de Paulo Gonet precária e frágil juridicamente, além de politizada. Seria como uma colcha de retalhos de pano rasgado e gasto, torcido e distorcido, que tenta se emendar com costura grosseira para subsidiar a qualquer custo a tese do golpe, transformar automaticamente críticos em subversivos e manifestantes em golpistas. Em outras palavras, o mantra de prender Bolsonaro a qualquer custo.

Em que pese o ato de vandalismo explícito e condenável contra as sedes dos três Poderes no 8 de janeiro, data em que o ex-presidente estava fora do país e nenhum líder, força armada ou plano para o dia seguinte foram identificados, fato é que a conta do golpe não fecha. É uma narrativa que o rigor do Direito não contempla e que pretende fazer de indícios provas cabais. Mais que isso, a falta de individualização de conduta e de julgamento justo às centenas de detidos, porque já imputadas penas abusivas, deveriam mobilizar o país inteiro em nome de uma anistia. Mas a árvore envenenada de parte da imprensa, da Academia e da sociedade contamina o debate público e joga contra a pacificação do país.
A tese da árvore dos frutos envenenados nunca pareceu tão real. E, como esta coluna fala de economia e negócios, perguntei a alguns advogados que lidam com empresas e fundos de investimento o que esse estado geral do Brasil, sob o atual Supremo Tribunal Federal, pode representar aos investidores. Um deles resumiu a situação ao me dizer que, antes de a Justiça brasileira ter se transformado, ele fazia uma análise técnica e setorial. Hoje, ao ser perguntado por estrangeiros sobre como é investir no país, vai direto ao ponto: “Há dez anos, a jurisprudência era essa. Há cinco anos, mudou. A mais recente diz outra coisa. E nada garante que o entendimento não mude novamente amanhã”. Faz sentido. Tempos atrás, o Supremo arrebentou o ato jurídico perfeito, a coisa julgada em matéria tributária. Ao mudar o entendimento da lei, obrigou empresas que haviam vencido em todas as instâncias a pagarem retroativamente o imposto, agora novamente devido.

Como prever o passado?
Quem vai plantar numa terra que está sendo envenenada com insegurança jurídica? Não há pau-brasil que resista.
Por fim, disseram-me os mesmos advogados e juristas que, se a denúncia contra Bolsonaro for adiante como está, se for julgada pelo STF em vez de ser enviada à primeira instância, onde teria uma análise técnica e isenta por juízes litúrgicos e no foro adequado, o risco é de que todo o sistema jurídico brasileiro fique imprevisível. Não haverá mais padrões legais dos limites de uma acusação pelo Ministério Público ou a garantia do sagrado direito de defesa como regra constitucional inalienável.
E a Constituição e os códigos de Justiça podem até ser passíveis de aprimoramento e de reforma. Nunca fontes de imprevisibilidade e insegurança.
Leia também “O apagão de Lula 3”
Será q o problema está na dupla Lula/Stf ou nos nossos políticos em geral?
Onde está o nosso Congresso?
Onde está nosso Senado?
O Brasil clama por ajuda, mas, parece q ninguém ouve, só Donald Trump e Elon Musk… mas nem brasileiros são…
Essa composição do STF precisa de um impeachment coletivo. Ninguém ali presta!
Piotto texto perfeito. O que esperar de um PGR indicado por Gilmar Mendes com apoio de Moraes? Faz parte da quadrilha da toga.
As instituições brasileiras apodreceram.
Nossa “justiça” foi transformada em facção criminosa onde se vende sentenças a prazo.
Impossível acreditar que este país seja viável política, social e economicamente.
Paulo Gonet faz parte da gangue atualmente instalada em Brasília.
O judiciário brasileiro segue os procedimentos processuais dos códigos de processo, conforme a lei.
A corte suprema age de acordo com interpretações fora do contexto da nossa constituição. É preciso acabar com isso, legalmente, com a palavra srs. Senadores
Infelizmente o STF, hoje, é composto pela pela escória do direito brasileiro…
Artigo perfeito!
E faltou dizer que uma árvore de frutos podres deve ser eliminada para não contaminar as demais!!
Nada disto faz sentido. Uma aberraçáo total.
Será que haverá um dia em que esse consórcio do mal será responsabilizado por todas as aberrações que praticam? A sociedade de bem precisa se organizar e expurgar esse mal que assola o país. A impunidade, para eles , é uma certeza. Oxalá houvesse nesse país homens de verdade que amassem mais o país e menos o dinheiro. Esse consórcio maldito Lula-STF-imprensa precisa ser desbaratado.
Como já disse e volto a afirmar: atualmente temos a pior composição do STF e agora incluo a PGR e a PF. Que vergonha. Cadê o asteroide?
O nome correto ‘é “kangaroo trial”