O que fazer agora que Lula despenca em aprovação, até no Nordeste? Prender Bolsonaro muda alguma coisa? A fala de Kakay, como alter ego de José Dirceu, revela um cálice que já transborda. Transbordam águas de paciência que foram até a metade do mandato. A reação de Lula é a propaganda. O marqueteiro Sidônio pôs Lula no palanque; Lula transforma o palanque em berlinda. Essa exposição dos últimos dias tem gerado mais críticas e ironias do que aplausos — que se limitam às plateias que têm composto os eventos da caravana. Começou na Bahia, quando imaginou que ensinava o povo a não comprar o que está mais caro, tal como faria o Conselheiro Acácio. Depois, em Brasília, onde reuniu os melhores cabos eleitorais do país, quase 4 mil prefeitos, pediu voto, esquecendo a legislação eleitoral: “Quando terminar meu terceiro mandato, vocês vão pedir ‘Lulinha, fica'” — isso a 16 meses do início legal da campanha eleitoral.
No Amapá, Lula — e não a oposição — recomendou ao povo que apague nas redes sociais os políticos que mentem e dizem besteiras. Depois, estimulou os homens a irem para a cozinha, porque as mulheres estão trabalhando fora. E se desviou do tema sobre petróleo equatorial para contar que come ovo de ema e de pata, e vai comer de jabuti. Quem não consegue comer ovo de galinha deve ter ficado com água na boca. Na Petrobras, criou a narrativa de que a Lava Jato enfraqueceu a estatal para que ela fosse privatizada. No mesmo dia, seu governo, por meio da Controladoria da União, abria mão de R$ 5,7 bilhões, descontados de acordos de leniência com seis empreiteiras. Corrupção confessa e devoluções milionárias de propinas por parte de dirigentes da Petrobras não foram consideradas por Lula.
No mesmo evento, em Angra, o presidente soltou esta frase: “Eu não defendo a Petrobras porque eu como petróleo? Não como. Porque eu bebo gasolina? Eu não bebo. Eu bebo outro álcool; a gasolina, não…”. Outro álcool que não a gasolina? Pensa que gasolina é álcool? Não está tão batizada assim… Logo depois, em entrevista semanal criada por Sidônio, no dia em que soubemos da denúncia da PGR contra Bolsonaro e outros 33, perguntado, ele reafirmou que seu governo é pela “presunção de inocência”. Mas logo fez a inversão: “Se eles provarem que não tentaram dar golpe, e se eles provarem que não tentaram matar o presidente, o vice-presidente e o presidente do Superior Tribunal Eleitoral, eles ficarão livres”.
Será que Sidônio já não estaria arrependido? Será ideia dele a volta do chapéu originalmente adotado para esconder marcas da cirurgia no crânio? Fica estranho em ambiente fechado onde, por respeito, se descobre a cabeça. O panamá com o macacão vermelho da Petrobras exibe uma mescla excêntrica — que pode combinar com as declarações da mesma natureza. A ideia de expor Lula não vai resolver a carestia, a falta de planejamento, a mediocridade no Ministério. Aliás, a promessa de reforma ministerial antes do Carnaval está afundando pelo abandono de lideranças políticas que comandam partidos que apoiaram Lula em 2022, como Paulinho da Força, Gilberto Kassab e o pessoal da social-democracia. A pesquisa Datafolha que mostra um despencar de aprovação no Nordeste, de 49% para 33%, e aprovação nacional de apenas 24%, com 41% de desaprovação, soa como um salve-se quem puder entre partidos que garantem votos no Congresso e fora dele.
Revelador, o advogado que tanto defendeu Lula, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, ligadíssimo a José Dirceu, veio a público para dizer que “o Lula do terceiro mandato, por circunstâncias diversas políticas e principalmente pessoais, é outro; não faz política, está isolado, capturado; não tem a seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos… É outro Lula que está governando… Corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026”. Os que não têm acesso a Lula queixam-se de que Janja o “protege dos problemas”. Kakay diz que Lula está preso à memória de seu passado.
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O que mudou em Lula? Talvez nada tenha mudado. Talvez por isso. O mundo mudou, o Brasil mudou, o mundo digital é outro, torna as pessoas mais informadas numa diversidade de notícias — já não as escolhidas por um cartel — e dá voz a todos. Lula está convicto de que não há memória do Mensalão e da Lava Jato, quando expõe narrativas como a da Petrobras. Está certo de que o povo não tem memória. E tem bons motivos para isso, afinal, em 2022, mais de 60 milhões de brasileiros votaram nele, segundo o TSE. Hoje, os que temem Bolsonaro devem estar temendo também a fragilidade desse outro Lula para 2026. Para eles, torna-se ainda mais necessário condenar Bolsonaro, mas isso já não será suficiente. É como uma barragem que não consegue deter a água que começa a sair por suas brechas; fecha uma, abrem outras. Lula não ajudou a domesticar as águas nem será possível garrotear tornozeleiras nos ventos da liberdade.
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Só resta o STF elegê-lo novamente.
A múmia está em decomposição seu fedor é insuportável e nenhuma força impedirá que pague seus hediondos crimes contra a nação.