Você percebeu que desde o ataque do Hamas a Israel no dia 7 de outubro de 2023 não aconteceu nenhum outro ataque terrorista organizado contra populações civis? Como, por exemplo, os ataques coordenados de novembro de 2015 em Paris, que massacraram os clientes da boate Bataclan e deixaram 130 mortos? Ou o sofisticado massacre do 11 de Setembro, que envolveu dezenas de terroristas?
Em compensação, multiplicam-se os ataques dos chamados “lobos solitários”. Do nada, alguém saca uma faca e sai matando quem estiver pela frente. Ou leva o carro a um mercado ou uma rua lotada e atropela o maior número possível de pessoas.
Esta é uma pequena lista de atentados recentes desse tipo ocorridos na Europa:
31/5/2024: um afegão de 25 anos mata um policial e fere cinco participantes de uma manifestação na cidade de Mannheim, na Alemanha.
29/7/2024: um imigrante muçulmano de 17 anos mata três crianças num workshop infantil em Southport, na Inglaterra.
23/8/2024: um imigrante sírio ataca um festival na cidade alemã de Solingen, matando três pessoas e ferindo oito. O grupo Estado Islâmico assume a autoria do atentado.
19/9/2024: na cidade holandesa de Rotterdam, um homem de 22 anos esfaqueia pessoas ao acaso gritando “Allahu akbar”. Um morto, um ferido.
28/9/2024: um sírio de 41 anos incendeia dois edifícios e joga seu carro numa doceria na cidade de Essen, na Alemanha, deixando 31 feridos.
6-7/11/2024: fãs de um time israelense de futebol são atacados por uma turba pró-Hamas. Trinta feridos, cinco hospitalizados.
20/12/2024: um saudita joga seu carro num mercado de Natal da cidade alemã de Magdeburg. Seis mortos, 299 feridos.
22/1/2025: um imigrante afegão ataca uma pré-escola, matando um bebê de 2 anos de idade e ferindo três pessoas em Aschaffenburg, na Alemanha
13/2/2025: em Munique, na Alemanha, um afegão joga seu carro em manifestantes, matando duas pessoas e ferindo “dezenas”.
15/2/2025: um sírio de 23 anos esfaqueia pessoas ao acaso na cidade de Villach, na Áustria. Um morto, cinco feridos.
27/2/2025: um argelino de 37 anos, também gritando “Allahu akbar”, mata um idoso e fere cinco policiais em Mulhouse, na França.
Importante: esses são os ataques que foram realizados. Existem muitos outros atentados preventivamente frustrados por ação da polícia. Nos Estados Unidos, foram prevenidas seis ações semelhantes com a prisão de jovens de origem muçulmana que planejavam massacres em apoio ao Estado Islâmico, ou ISIS.
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Afinal, o que está causando essa onda de ataques de jovens terroristas solitários? A organização Coalition for a Safer Web (“Coalizão para uma internet mais segura”, com base em Washington) investigou a fundo essa tendência. As respostas são perturbadoras.
O presidente da organização, o ex-embaixador americano Marc Ginsberg, resumiu assim o problema:
“Como se a comunidade judaica americana não tivesse o suficiente com que se preocupar com a incitação antissemita de grupos extremistas nacionais de extrema esquerda e extrema direita, a enxurrada de incitação de grupos terroristas radicais islâmicos estrangeiros impulsionados por IA on-line, visando especificamente aos judeus, acrescenta ainda outra ameaça que deve ser combatida.”
A galeria das falsificações
Segundo a investigação da CSW, desde meados do ano passado o ISIS e a Al-Qaeda estão incrementando suas operações de propaganda com o uso de inteligência artificial. Eles modificam a realidade e criam cenários dramáticos, “ultraestilizados”, para gerar revolta em militantes em potencial.
Esta imagem de uma “criança palestina” no meio das ruínas foi criada por IA. Os exagerados “ferimentos” na testa e no queixo revelaram a farsa:
Aqui, um jogo de futebol do Atlético de Madri se transforma numa manifestação pró-Palestina com uma enorme bandeira — fake:
Duas “crianças palestinas” choram a morte da mãe olhando para o céu, de onde caíram as “bombas sionistas”. Criada por IA:
“Soldados israelenses” invadem a “Faixa de Gaza” transformada em ruínas. Gerada por IA:
“Crianças palestinas” dormem na lama em acampamentos improvisados. Detalhes anatômicos denunciaram o artificialismo da imagem. Na foto à direita, as estampas das roupas se fundem — mais um sinal do uso de IA.
Mais uma família vítima da “brutalidade israelense”. As janelas dos prédios ao fundo estão desiguais. Os membros das crianças estão desproporcionais e deformados. Gerada por IA:
Outra “criança palestina” olha para os “aviões israelenses” que mataram sua “pobre mãezinha”. A prova de que ele foi criado por IA pode ser contada nos dedos de sua mão erguida:
Outro bebê gerado por IA observa a demolição da casa pelas bombas.
“Soldados sionistas” são recebidos com festa pela população de Israel, comemorando o “genocídio” que eles praticaram. Os falsificadores se esqueceram de trocar os letreiros, que, com exceção de um mais próximo à esquerda, não foram escritos em hebraico. Os assistentes no canto direito da foto se fundem em corpos grotescos.
Mais “soldados israelenses” — muito parecidos uns com os outros — surgem com “reféns resgatados”, todos saudáveis e limpinhos. As duas moças no interior do veículo também parecem gêmeas, usam o mesmo penteado e as mesmas roupas. Os bebês aparentemente retornaram até mais gordinhos do que quando foram sequestrados:
A criação seguinte em IA é ainda mais artificial, pois procura passar uma mensagem. Um garoto observa a devastação causada pelos “sionistas”, mas dois símbolos permanecem intocados: a bandeira palestina limpinha e o minarete da mesquita, onde ele deverá ser doutrinado:
Até o lutador Mike Tyson foi “convocado” a apoiar a causa com uma foto completamente falsa dele enrolado na bandeira palestina. As setas indicam os letreiros sem sentido. Até a posição da bandeira ao redor do seu corpo é irracional. Na imagem aparece seu nome com grafia errada (“Tayson”) e a frase num inglês desastroso: “i am Stand with Phalastine” (algo como “eu apoiar Falastina”).
Que imagens toscas como essas enganem populações iletradas dos países árabes, é justificável. Mas parece inacreditável que tenham convencido alunos das mais prestigiadas universidades dos EUA e da Europa para a causa da “Palestina Livre”.
A rede da mentira
Aos grupos terroristas não bastava criar essa fábrica de falsidades. Era necessário que suas mensagens chegassem aos possíveis candidatos a assassinatos em massa nos países ocidentais.
A Coalition for a Safer Web detectou mais de uma dúzia de contas no TikTok encarregadas de espalhar a produção de fake news. Faziam parte do pacote fotos aéreas localizando centros judaicos em cidades como Nova York, Miami, Chicago, Detroit, Sydney, Melbourne e Toronto.
Um site ou uma conta de rede social com o nome ISIS ou Al-Qaeda não teria chance, claro. Então essas organizações criaram ou usaram sites para traduzir suas mensagens para o inglês e espalhar a mentira pelo mundo. Alguns exemplos coletados pela CSW:
JustPaste.it: site operado diretamente pelo ISIS, por meio da organização Fundação al-Saqri para Ciências Militares, também conhecido pelo slogan “como praticar o terrorismo” — com manuais sobre armas químicas e biológicas e de confecção de bombas.
Doat al-Falah: uma variação em língua inglesa da Al Naba, a “agência noticiosa” do ISIS. Especializado em treinamento com armas.
GazaTigers.net: com base no Qatar, oferece lições para atiradores por meio de influencers do TikTok, além de mapas das maiores sinagogas dos EUA.
Gem Space: rival do Telegram, usado para comunicações do ISIS e da Al-Qaeda. Envia mensagens a simpatizantes, como “ataque nightclubs de judeus e seus frequentadores com a morte”.
The Wolves of Manhattan: site criado por um grupo chamado Exército de Batalha Eletrônica, ligado à Al-Qaeda. Oferece recompensa em bitcoins a quem realizar ataques nos EUA, especialmente contra judeus.
Mujahideen in the West: também ligada à Al-Qaeda, divulga instruções de como praticar massacres por atropelamento e como criar armas químicas em casa.
Voice of Khurasan: publicação em inglês do ISIS, serve como manual para ataques terroristas.
A Coalition for a Safer Web termina seu documento com propostas para endurecer o jogo com essa rede de propagação de terrorismo e antissemitismo. Cita o caso de Pavel Durov, o dono do aplicativo Telegram, que foi condenado à prisão domiciliar na França por não vetar a atuação de grupos como o ISIS e a Al-Qaeda na sua plataforma.

É uma situação complexa para as sociedades livres. Em matéria sobre o assunto, a revista Newsweek sugeriu que as redes sociais precisam ser controladas. É a bandeira da esquerda, no Brasil e fora daqui.
Democracias devem garantir o direito à opinião, como o de criticar o Estado de Israel. Mas outras coisas são inaceitáveis. Não se pode permitir de nenhuma maneira que alguém poste uma mensagem (divulgada no site Halummu) com a ordem: “Ataque judeus morando na América, na Europa e no resto do mundo”.
dagomirmarquezi.com
@dagomirmarquezi
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