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Edição 258

O Brasil (só) precisa sobreviver a Lula

O país que não desiste de dar certo e resiste ao atraso está determinado a ficar em pé e aguentar os solavancos

Adalberto Piotto
-

Duas são as frases que mais ouço entre investidores, empresários, empreendedores, executivos de grandes empresas e economistas quando o cenário político-econômico é o tema da conversa. E elas passam da dura constatação a estratégias de resiliência.

Entre os mais otimistas, a observação é definitiva: “Dois anos passam rápido”. Na mesma toada, os que vivem os números das empresas e o estrago que a insegurança jurídica tem provocado são mais comedidos: “Vamos ter de aguentar mais dois anos ainda”. Em suma, ninguém mais conta com nada do que está aí deste governo Lula 3. Ligou-se o modo sobrevivência com investimento estratégico que aguente o barulho momentâneo, porque, antes de o país voltar a respirar normalmente, é preciso aguardar até a eleição de 2026. É sintomático.

Ilustração: Shutterstock

Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco do Brics, cuja capacidade de comparação entre as economias do mundo e análise de comportamento de investidores é inequívoca, faz a seguinte comparação:

“Os países mais dinâmicos do mundo estão fazendo de tudo para:

a) atrair ricos;

b) atrair riqueza;

c) desregulamentar;

d) desburocratizar;

e) aumentar a participação da empresa privada em P&D;

f) fortalecer o mercado acionário interno;

g) profissionalizar e perseguir excelência em empresas com participação estatal; e

h) diminuir a carga tributária como percentual do PIB de modo a atrair os elos das redes globais de valor que, sobretudo no setor industrial, estão diminuindo sua exposição a risco na China.”

E conclui:

“O Brasil [do governo federal e de seus aliados] está fazendo de tudo para andar na contramão dos itens a, b, c, d, e, f, g e h acima.”

Marcos Troyjo, no Brasil de Ideias, em Copacabana, no Rio de Janeiro (31/1/2020) | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Eu já falei aqui em desconexão do atual governo com a realidade. Mas, depois de dois anos no poder, a tese da completa incompetência parece mais crível. Ou do desejo de destruir o que os outros fizeram sob a patológica tese da “revolução” para mudar tudo, um anacronismo que enche a alma de populistas como Lula no mundo inteiro, mesmo que acabe por destruir o bem-estar social e a capacidade produtiva, e que resulte em aumento da pobreza, como tudo em que o comunismo e a esquerda latino-americana colocaram as mãos desde o início do século 20. É a causa que importa, não o resultado.

Não por isso, enquanto escrevo esta coluna, Lula usa o pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão para fazer comício. O Pé-de-Meia — mais uma bolsa para estudantes secundaristas — foi criado como uma pedalada fiscal, e mais dois escândalos atingem o governo, tudo com reprimenda do TCU: o escândalo das marmitas e as fraudes no BPC. Enquanto isso, a primeira-dama vive o deslumbre de uma Maria Antonieta ao lado do “seu marido”.

Lula recebe beneficiada do Pé-de-Meia no Palácio do Planalto, em Brasília, DF | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Voltando ao Brasil que não desiste de dar certo e resiste ao atraso — e falo aqui do país de verdade e que produz, que gera empregos, renda e riqueza, além de pagar as contas descontroladas de um governo perdulário e irresponsável —, está determinado a ficar em pé e aguentar os solavancos. Mesmo que isso signifique trabalhar lamentando oportunidades perdidas como nação pelo atual governo que, por mera e estúpida vaidade pessoal do atual presidente, jogou fora os ganhos dos governos anteriores que transformaram o Brasil num imprescindível celeiro de alimentos do mundo. Esse soft power do Brasil que alimenta 1 bilhão de pessoas no planeta não pode ser ofuscado pela sucessão de malfeitos, inoperâncias e escolhas erradas de gente muito ruim de serviço em postos vitais da administração pública, a começar pela cadeira presidencial.

Em um post recente em suas redes sociais, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes (gestão Bolsonaro, 2019-2022) fala sobre o impacto transversal das novas tecnologias na agricultura, com uso de inteligência artificial, automação e internet das coisas. O aumento da produtividade e a eficiência no uso de defensivos agrícolas, por exemplo, geram ganhos exponenciais ao produtor, ao consumidor e ao meio ambiente. A agenda de crescimento econômico sustentável, revolução da economia verde e melhora das condições sociais é completa e alcança todos os setores. Mas ele faz uma ponderação: criação ou utilização de novas tecnologias demanda conhecimento. Daí que o país precisa se concentrar em formação de capital humano. Ou seja, gente bem treinada e jovens bem-educados em um modelo de escola voltado para a realidade do país e da economia sem os preconceitos das ciências sociais ideológicas da Academia que ofendem quem pensa, produz e quer viver mais e melhor num país com potencial de lhe oferecer muito mais.

O Brasil é grande demais para o governo atrapalhar todos, mas concentrado demais em Brasília para atrasar muitos. Então, a estratégia do investidor tem sido encontrar desvios e se manter vivo e operante até 2026. A parte do país que rejeita a UTI política do lulismo e quer viver, investir, porque o mercado com que se relaciona pensa do mesmo jeito e continua demandando, resiste. Por isso, procura por lugares que, apesar de Lula 3, mantêm ambientes favoráveis ao investimento e levam a sério segurança e educação técnica. Esses oásis existem no Brasil. São os Estados comandados por governadores de oposição, sobretudo no Sudeste, no Centro-Oeste e no Sul, com algumas ilhas de exceção em municípios de outras regiões do país em que o pensamento lógico da gestão técnica prevalece.

Em entrevista recente ao programa Oeste Negócios, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que o Estado alterou a grade curricular para aumentar a carga horária de matemática em 70% e de língua portuguesa em 60%. Pensamento lógico para resolver problemas, e habilidades para se comunicar bem. “Precisamos desenvolver competências” nos alunos, diz ele, inclusive em língua estrangeira, ao explicar que o ensino de inglês foi intensificado e premia os melhores estudantes da rede pública com intercâmbios no exterior. Há combate ao crime organizado com melhora nos índices de segurança pública, que são decisivos para a qualidade de vida das pessoas e também para atrair empresas e novos talentos. E um antídoto ao lulopetismo: segurança jurídica com redução de burocracia, digitalização de procedimentos, agências reguladoras blindadas de interesses partidários e toda uma legislação para garantir segurança jurídica nos contratos, protegendo os investidores dos ventos erráticos da inepta gestão federal ou das decisões, no mínimo controversas, do Supremo Tribunal Federal.

O movimento de governadores e prefeitos de gestão moderna, com visão de progresso — e não “progressista” —, tem funcionado como uma espera num porto seguro até que a tempestade de atraso do atual governo passe.

Não tem sido fácil. Se o Brasil não é para amadores, exige também que os fortes resistam. E os fortes estão fazendo o seu melhor.

Ilustração: Shutterstock

Leia também “Envenenaram a árvore do Brasil e seus frutos”

10 comentários
  1. Manfredo Rosa
    Manfredo Rosa

    Li o artigo e fiquei preocupado. O empresariado acredita mesmo que tudo que está acontecendo é por causa de um indivíduo só? Apenas eu estou ouvindo o que lá em Brasília estão dizendo sobre os novos papéis dos três poderes? Somente eu percebo que tudo isto é o que as grandes potências, na nova partilha do planeta, definiram para o Brasil? Os acontecimentos a partir de 2017, com fechamento nas eleições de 2022 não disseram nada para os empresários? Estão assim acreditando em outros rumos? Não ouviram “esse tempo também acabou”, dito pelo oráculo do fim da história?

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Chamar esse Lula de populista é um elogio, isso é um bandido terrorista narcotraficante o ladrão

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Nossa república ainda carece de proclamação.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Um país que será capaz de superar 5 mandatos petistas, realmente é para sair fortalecido. Podemos pensar por esse lado, em busca de esperança no futuro.

  5. Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen
    Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen

    Mas, atualmente, o problema maior do Brasil é termos um Judiciário, STF que se tornou o Ditador do país. Não há segurança jurídica, justiça e nem esperança de eleições confiáveis!

  6. Cátia Deon Dall’Agno
    Cátia Deon Dall’Agno

    Ótimo artigo. Mostra que ainda podemos ter esperança e confiar em políticos que parecem honestos e são competentes, como Tarcisio de Freitas

  7. Cátia Deon Dall’Agno
    Cátia Deon Dall’Agno

    Ótimo artigo. Mostra que ainda podemos ter esperança e confiar em políticos que parecem honestos e são competentes, como Tarcisio de Freitas

  8. Celso Ricardo Kfouri Caetano
    Celso Ricardo Kfouri Caetano

    Excelente artigo, a única coisa que incomoda é a tal necessidade de esperarmos até 2026 para colocar o país nos trilhos isto é se sobreviver até lá dado que a gestão lula e de seus ministros é desastrosa e digo a palavra gestão aqui com um certo humor irônico, pois o que vemos passa longe de gestão……há muito vejo necessário mudar ou refazer nossa CF 1988 evitando certos desvios dos quais elenco apenas dois: 1) necessário que candidatos a presidência tenham proficiência em matérias de gestão pública, administração pública e economia; 2) caso o gestor em questão e sua equipe não satisfaçam os anseios dos eleitores nos quesitos crescimento econômico, saúde, educação, combate a corrupção o congresso deverá pleitear a saída dos mesmos com novas eleições afim de preservar a saúde do país e de seu povo. Estou pensando de forma simples mas será que é pensar demasiadamente alto? Em uma empresa privada lula e sua equipe seriam expulsos pelos acionistas em um semana lembrando portanto que na gestão pública os acionistas somos nós “O Povo” que coloca dinheiro na empresa Estado para gestão de um grupo chamado Governo……

    1. RODRIGO DE SOUZA COSTA
      RODRIGO DE SOUZA COSTA

      Brilhante! Colocar o peso da tragédia brasileira no colo do governo federal é muito pouco. Ninguém governa sozinho, uma oligarquia reacionária que consome os recursos da nação mantém um fantoche no poder, agradando os pseudo-intelectuais brasileiros e garantindo os seus privilégios. Somos vítimas desses bandidos travestidos de homens públicos.

  9. Marcelo Martins
    Marcelo Martins

    É o que resta para nós que não votamos nesse traste do Lula: esperar até as eleições de 2026!
    E se Lula perder, e se Deus quiser, vai perder, esse mandato será a última vez que teremos esse traste no comando do país.

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