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Ilustração: Shutterstock
Edição 261

Ainda estou aqui

Comunistas não são capazes de empatia. Fazem filmes bonitinhos para se venderem como vítimas, mas são os verdadeiros algozes

Rodrigo Constantino
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No dia 4 de janeiro de 2023, às 7h18 da manhã, recebi um e-mail de Francisca Maria Bonifacio Medeiros, escrivã da Polícia Federal. Ela dizia: “De ordem encaminho a decisão anexa, que determina a aplicação de multa diária e agendamento de audiência a fim de prestar esclarecimentos acerca dos fatos apontados no documento”.

Tratava-se de uma decisão do ministro Alexandre de Moraes relativa ao Inquérito nº 4.781, sob sigilo, exigindo minha censura em diversas redes sociais, o afastamento do meu sigilo bancário e o congelamento de minhas contas, bem como o cancelamento do meu passaporte. Também fui intimado para uma oitiva, da qual aceitei participar mesmo sem recebê-la pelos devidos mecanismos legais, já que morava fora do país, o que exigiria uma carta rogatória.

A peça acusatória não passa de uma coletânea de postagens inofensivas minhas no Twitter, e por isso mesmo já cansei de solicitar ao relator Alexandre de Moraes que torne toda a “investigação” pública. Mas o caso segue sob sigilo, e lá se vão mais de dois anos sob censura prévia, sem acesso ao meu dinheiro conquistado com muito trabalho em meu país e sem meu passaporte brasileiro. Um jornalista calado na marra, em suma, por criticar a postura do STF.

Ilustração: Nao Novoa/Shutterstock

O jornalista do sistema, Ricardo Noblat, que desfruta de fins de semana com ministros supremos, produziu involuntariamente uma piada pronta quando escreveu: “Eleições livres, liberdade de expressão, Judiciário investigando e condenando quem ataca a democracia: isso é ditadura para o bolsonarismo”. Logo abaixo aparecia a seguinte mensagem no lugar de uma resposta que publiquei: “Essa postagem de @RConstantino foi retida no Brasil como resposta a uma demanda legal”.

Qual não foi meu espanto, portanto, ao ouvir o presidente da Câmara, Hugo Motta, repetir a ladainha oficial de que não tivemos vozes caladas à força, assim como não temos presos políticos nem exilados políticos no Brasil? Isso foi dito, não custa lembrar, logo depois de um jantar promíscuo na casa do próprio Alexandre de Moraes, que contou com a presença também de Alcolumbre, presidente do Senado, e de outros ministros supremos. Ou seja, o partido que deu o golpe de verdade em nossa democracia!

Meu caso está longe de ser isolado. Somos vários jornalistas perseguidos pelo “crime de opinião”, tanto que, quando o governo brasileiro exige a extradição de Allan dos Santos ou Oswaldo Eustáquio, esbarra na ausência de crimes concretos e recebe a negativa dos governos americano e espanhol. A Interpol também ignora as demandas alexandrinas. Temos Daniel Silveira preso por um vídeo, “flagrante perpétuo”, mesmo com imunidade parlamentar. Temos cabeleireira presa por usar um batom numa estátua, escrevendo uma frase que só é problemática na boca de ministro supremo. Temos muito mais!

Deputado Daniel Silveira coloca tornozeleira
Deputado Daniel Silveira sendo obrigado a colocar a tornozeleira eletrônica | Foto: Reprodução

A revista Crusoé foi censurada quando se aproximou do “amigo do amigo do meu pai”, Dias Toffoli, o ex-advogado petista. A Brasil Paralelo foi censurada antes mesmo de divulgar um documentário sobre o STF, e Cármen Lúcia admitiu que era censura, mas era uma “censura do bem”, pelo visto. A Gazeta do Povo, um jornal centenário, não teve liberdade de publicar reportagens sobre os elos históricos entre Lula e ditadores comunistas durante a campanha eleitoral. A Jovem Pan foi perseguida de forma implacável e demitiu vários comentaristas, eu entre eles, por pressão direta do TSE. Os “jagunços” alexandrinos tiveram que usar a “criatividade” para pegar algo da Revista Oeste, em vão.

Eu poderia ficar o dia inteiro apontando aqui abusos supremos, ilegalidades cometidas, perseguições políticas, mas não é preciso: qualquer brasileiro minimamente atento sabe o que está acontecendo no país, conhece o absurdo caso de Filipe Martins, e compreende que a escolha de Eduardo Bolsonaro de permanecer nos Estados Unidos foi prudente, pois Alexandre de Moraes já havia confessado aos seus “jagunços” que queria pegá-lo de qualquer jeito.

Parecia impossível para alguns, mas o Brasil já está muito perto de virar uma Venezuela. Se a esperança era que o próprio sistema recuasse voluntariamente, para evitar o alto custo dessa trajetória, as falas de José Sarney, Hugo Motta e Alcolumbre representam uma ducha de água fria. Já somos uma ditadura, e a eventual prisão de Jair Bolsonaro num julgamento completamente político será a coroação final desse sombrio episódio de nossa história.

Jair Bolsonaro | Foto: Alan Santos/PR

A esquerda gosta de bancar a vítima durante o regime militar, com seus autoexilados, artistas como Chico Buarque, que optou pela vida na Europa. Ela ignora aquilo que os arquivos do caso JFK revelam agora e que já era amplamente conhecido: nossos comunistas não lutavam por democracia coisa alguma, mas por uma ditadura totalitária nos moldes soviéticos ou chineses. Mao Tsé-Tung e Fidel Castro bancavam a turma de Brizola, Dirceu e companhia para dar um golpe. Nossos militares impediram uma revolução comunista na década de 1960.

Esses comunistas foram depois anistiados, tomaram o poder, o que é diferente de vencer eleição, e hoje se negam a anistiar aqueles que não cometeram quaisquer crimes reais, muito menos de terrorismo ou atentado contra o Estado de Direito. Comunistas não brincam em serviço e não são capazes de empatia. Fazem filmes bonitinhos para se venderem como vítimas, mas são os algozes. As verdadeiras vítimas somos nós, o povo brasileiro esfolado por um sistema podre, carcomido e corrupto ao extremo. Mas ainda estamos aqui!

Leia também “O que seria da esquerda sem a hipocrisia?”

4 comentários
  1. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    Parabéns, seu melhor texto!

  2. Omar Roberto de Aguiar
    Omar Roberto de Aguiar

    Ainda estamos aqui! Pena que a grande maioria da população, principalmente aqui no nordeste, onde vivo, não tenha conhecimento das denúncias desse brilhante artigo

  3. Omar Roberto de Aguiar
    Omar Roberto de Aguiar

    Ainda estamos aqui! Pena que a grande maioria da população, principalmente aqui no nordeste, onde vivo, não tenha conhecimento das denúncias desse brilhante artigo

  4. Sonia Maria Baptista Mendes
    Sonia Maria Baptista Mendes

    Parabéns Constantino. Brilhante!

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