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Escassez de gasolina, em janeiro de 1974. A crise do petróleo de 1973 provocou uma elevação no preço dos combustíveis sem precedentes | Foto: Jerry Tomaselli/Wikimedia Commons
Edição 261

Imagem da Semana: o embargo árabe de 1973

A Opep levou os Estados Unidos e a Europa Ocidental a reavaliar sua dependência do petróleo proveniente do Oriente Médio

Daniela Giorno
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No final de 1973 aconteceu o primeiro choque global de combustível. Nações árabes que, majoritariamente, faziam parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) embargaram o fornecimento do chamado ouro negro para os Estados Unidos e, eventualmente, para a Europa Ocidental e o Japão. A falta do produto ocasionou aumento considerável de preços, filas nos postos de gasolina e uma crise econômica e energética mundial. Embora, em março do ano seguinte, produtores do Oriente Médio tenham retomado as exportações, as cicatrizes do embargo foram profundas e duradouras.

Na semana sagrada judaica de Yom Kippur, em 6 de outubro de 1973, o Egito e a Síria lançaram um ataque-surpresa contra Israel. As forças egípcias e sírias tiveram ganhos iniciais através do Canal de Suez e das Colinas de Golã, mas Israel rapidamente reverteu a situação, e dentro de algumas semanas as tropas israelenses avançaram para os territórios egípcio e sírio.

Carros fazem fila em um posto de gasolina durante a crise do petróleo, de 1973 a 1974, em Portland, Oregon, EUA | Foto: David Falconer — EPA/National Archives, Washington, D.C.
Placa em posto de gasolina americano avisa que as bombas estão fechadas, em 1973 | Foto: Wikimedia Commons

Em uma tentativa de pressionar os países ocidentais a forçar Israel a se retirar das terras apreendidas, os membros árabes da Opep — criada em 1960 e composta de 12 países: Argélia, Gabão, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela — anunciaram cortes acentuados na produção e proibiram a venda de petróleo para os Estados Unidos. A Arábia Saudita foi uma das principais proponentes desse embargo.

A Guerra de Yom Kippur foi, então, o gatilho para a primeira fase da crise do petróleo, na qual o corte de exportações de combustível foi uma forma de retaliação árabe diante do apoio ocidental a Israel. Essa ação precipitou uma recessão acentuada acompanhada de crescente inflação. O preço do barril de petróleo quase quadruplicou em 1974, e os americanos experimentaram sua primeira escassez de combustível e o primeiro aumento significativo no preço da gasolina desde a Segunda Guerra Mundial. O consultor americano nos setores de energia e economia Daniel Yergin, em um artigo publicado no Wall Street Journal (2013), escreveu: “A crise do petróleo desencadeou uma reviravolta na política global e na economia mundial. Ela também desafiou a posição dos Estados Unidos no mundo, polarizou sua política interna e abalou a confiança do país”.

O pânico foi generalizado e desestabilizou os americanos. O governo dos Estados Unidos impôs racionamento de combustível e diminuiu os limites de velocidade, a fim de reduzir o consumo. Como último recurso, o presidente Richard Nixon considerou seriamente uma ação militar para tomar campos de petróleo na Arábia Saudita, Kuwait e Abu Dhabi. No entanto, as negociações levaram à suspensão do embargo, em março de 1974.

Placa com os dizerem “sem gás”, durante a crise energética, em 1973 | Foto: National Archives
Trabalhadores da rodovia mudam uma placa de limite de velocidade de 70 mph para o novo limite federal de 55 milhas por hora , em 12 de fevereiro de 1974. A Lei Nacional de Velocidade Máxima só foi removida em 1995. Isso significa que os motoristas foram proibidos de dirigir acima desse limite por 22 anos, bem depois do fim da crise do petróleo, em 1974 | Foto: Collections of Virtual Motor City

O choque do petróleo foi amplamente esquecido, mas reverbera até hoje. Muita coisa mudou ao longo das décadas de lá para cá. O embargo levou os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental a reavaliar sua forte dependência do petróleo proveniente do Oriente Médio. 

Como consequência, o Congresso americano aprovou, em 1975, padrões de economia de combustível. Essa medida exigiu que as montadoras aumentassem a quilometragem de 5,7 para 11,4 quilômetros por litro. Em 2012, os padrões foram novamente dobrados. Como resultado, os americanos estão dirigindo mais, sem aumentar a quantidade de gasolina usada.

Também ocorreram mudanças de longo alcance na política energética doméstica. A produção de petróleo bruto americano aumentou em 50% desde 2008. Hoje, os Estados Unidos se tornaram uma superpotência energética, sendo um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás natural combinados. Menos de 10% do petróleo vem do Oriente Médio.

Representantes da Opep anunciam o levantamento do embargo de petróleo aos Estados Unidos, em março de 1974 | Foto: Everett Collection/Shutterstock

Depois aconteceram mais duas crises do petróleo, em 1979 e 1991, como reflexo das tensões geopolíticas que aconteceram e ainda acontecem no Oriente Médio.

Pelo menos em parte, as mudanças mais marcantes são atribuíveis ao embargo de 1973, que forçou os produtores na América do Norte a encontrar novas maneiras de produzir hidrocarbonetos, em um esforço para reduzir o uso de petróleo. Outra mudança visível foi a diminuição da influência da Opep, de forma que o petróleo não pôde mais ser usado como arma da mesma maneira que há 52 anos. Mas uma coisa não mudou muito em todo esse tempo: o petróleo ainda é, de longe, o combustível dominante que nos leva do ponto A ao ponto B. Até que isso mude — e opções mais verdes, como veículos elétricos e biocombustíveis verdadeiramente sustentáveis, ​​se tornem alternativas viáveis ​​—, ainda estaremos presos nos anos 1970.


Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

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