No final de 1973 aconteceu o primeiro choque global de combustível. Nações árabes que, majoritariamente, faziam parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) embargaram o fornecimento do chamado ouro negro para os Estados Unidos e, eventualmente, para a Europa Ocidental e o Japão. A falta do produto ocasionou aumento considerável de preços, filas nos postos de gasolina e uma crise econômica e energética mundial. Embora, em março do ano seguinte, produtores do Oriente Médio tenham retomado as exportações, as cicatrizes do embargo foram profundas e duradouras.
Na semana sagrada judaica de Yom Kippur, em 6 de outubro de 1973, o Egito e a Síria lançaram um ataque-surpresa contra Israel. As forças egípcias e sírias tiveram ganhos iniciais através do Canal de Suez e das Colinas de Golã, mas Israel rapidamente reverteu a situação, e dentro de algumas semanas as tropas israelenses avançaram para os territórios egípcio e sírio.


Em uma tentativa de pressionar os países ocidentais a forçar Israel a se retirar das terras apreendidas, os membros árabes da Opep — criada em 1960 e composta de 12 países: Argélia, Gabão, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela — anunciaram cortes acentuados na produção e proibiram a venda de petróleo para os Estados Unidos. A Arábia Saudita foi uma das principais proponentes desse embargo.
A Guerra de Yom Kippur foi, então, o gatilho para a primeira fase da crise do petróleo, na qual o corte de exportações de combustível foi uma forma de retaliação árabe diante do apoio ocidental a Israel. Essa ação precipitou uma recessão acentuada acompanhada de crescente inflação. O preço do barril de petróleo quase quadruplicou em 1974, e os americanos experimentaram sua primeira escassez de combustível e o primeiro aumento significativo no preço da gasolina desde a Segunda Guerra Mundial. O consultor americano nos setores de energia e economia Daniel Yergin, em um artigo publicado no Wall Street Journal (2013), escreveu: “A crise do petróleo desencadeou uma reviravolta na política global e na economia mundial. Ela também desafiou a posição dos Estados Unidos no mundo, polarizou sua política interna e abalou a confiança do país”.
O pânico foi generalizado e desestabilizou os americanos. O governo dos Estados Unidos impôs racionamento de combustível e diminuiu os limites de velocidade, a fim de reduzir o consumo. Como último recurso, o presidente Richard Nixon considerou seriamente uma ação militar para tomar campos de petróleo na Arábia Saudita, Kuwait e Abu Dhabi. No entanto, as negociações levaram à suspensão do embargo, em março de 1974.


O choque do petróleo foi amplamente esquecido, mas reverbera até hoje. Muita coisa mudou ao longo das décadas de lá para cá. O embargo levou os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental a reavaliar sua forte dependência do petróleo proveniente do Oriente Médio.
Como consequência, o Congresso americano aprovou, em 1975, padrões de economia de combustível. Essa medida exigiu que as montadoras aumentassem a quilometragem de 5,7 para 11,4 quilômetros por litro. Em 2012, os padrões foram novamente dobrados. Como resultado, os americanos estão dirigindo mais, sem aumentar a quantidade de gasolina usada.
Também ocorreram mudanças de longo alcance na política energética doméstica. A produção de petróleo bruto americano aumentou em 50% desde 2008. Hoje, os Estados Unidos se tornaram uma superpotência energética, sendo um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás natural combinados. Menos de 10% do petróleo vem do Oriente Médio.

Depois aconteceram mais duas crises do petróleo, em 1979 e 1991, como reflexo das tensões geopolíticas que aconteceram e ainda acontecem no Oriente Médio.
Pelo menos em parte, as mudanças mais marcantes são atribuíveis ao embargo de 1973, que forçou os produtores na América do Norte a encontrar novas maneiras de produzir hidrocarbonetos, em um esforço para reduzir o uso de petróleo. Outra mudança visível foi a diminuição da influência da Opep, de forma que o petróleo não pôde mais ser usado como arma da mesma maneira que há 52 anos. Mas uma coisa não mudou muito em todo esse tempo: o petróleo ainda é, de longe, o combustível dominante que nos leva do ponto A ao ponto B. Até que isso mude — e opções mais verdes, como veículos elétricos e biocombustíveis verdadeiramente sustentáveis, se tornem alternativas viáveis —, ainda estaremos presos nos anos 1970.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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