Nesta semana, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes colocou-se no centro de uma controvérsia que transcende as fronteiras do Brasil, expondo sua própria contradição ao fabricar uma narrativa que ele mesmo rotularia como “desinformação”.
Nesta quarta-feira, 26 de março, durante uma sessão da Primeira Turma do STF que julgava a admissibilidade da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro — acusado de “tramar um golpe de Estado” após as eleições de 2022 —, Moraes lançou uma afirmação tão absurda quanto reveladora. Ele declarou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria elogiado o sistema eleitoral brasileiro, especificamente as urnas eletrônicas, chamando-as de “modelo de sucesso”. Proferida com a solenidade de um magistrado da mais alta Corte, a frase buscava reforçar a legitimidade da tecnologia que sustenta as eleições brasileiras desde 1996.
No entanto, há um problema gritante na afirmação de Moraes: é uma mentira descarada.
Donald Trump não apenas rejeita urnas eletrônicas — ele as despreza com uma paixão visceral que moldou sua trajetória política, uma posição que ele reafirmou com veemência em 21 de fevereiro deste ano, durante uma reunião com governadores em Washington, D.C. A distância entre as palavras de Moraes e a realidade de Trump não é um equívoco inocente — é uma distorção intencional que clama por ser desmascarada.

O palco da falsidade de Moraes
O circo foi armado em Brasília, na sessão da Primeira Turma do STF, um palco carregado de simbolismo e tensão política. O julgamento de Bolsonaro é um marco na polarização brasileira e, para muitos, uma das maiores afrontas à Constituição e ao ordenamento jurídico do país. O ex-presidente enfrenta acusações de incitar os atos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores invadiram o Congresso, o STF e o Palácio do Planalto, alegando fraude nas eleições que consagraram Lula da Silva. Moraes, relator do caso, autoproclamado vítima, acusador, promotor, juiz e testemunha, abriu a sessão com um gesto teatral: exibiu vídeos do caos pós-eleitoral na TV Justiça, transmitida ao vivo pelo YouTube, buscando pintar um quadro de ameaça à ordem democrática.
E sua fala incendiou o debate. Diante das câmeras, Moraes afirmou que Trump, ícone mundial do ceticismo eleitoral e que atualmente processa o próprio ministro na Justiça da Flórida, teria aplaudido as urnas eletrônicas brasileiras. A ministra Cármen Lúcia, também presente, reforçou a narrativa, sugerindo que esse suposto endosso era um selo de aprovação internacional.
A intenção era cristalina: se até Trump, caricaturado como “controverso, malvado e fascista” pelos adversários, via mérito no sistema brasileiro, as críticas de Bolsonaro e seus aliados seriam tachadas de infundadas e golpistas. A afirmação tomou as redes sociais e foi amplificada por manchetes que acusavam “bolsonaristas” de negar a “verdade” sobre a opinião de Trump. Moraes, que já ordenou prisões e bloqueios de contas “em nome da democracia”, tentou usar o nome do presidente americano como arma para sustentar sua tese de golpe. Mas ele não contava com um pequeno detalhe: a verdade.

Em menos de uma hora, uma onda de indignação varreu a rede X desmentindo Moraes. Até mesmo veículos internacionais, como a BBC, noticiaram a controvérsia, destacando a incongruência com o conhecido histórico de Trump. No Brasil, onde as urnas eletrônicas são tanto um orgulho tecnológico quanto um ponto de discórdia, a declaração de Moraes reacendeu um debate latente: o sistema é realmente infalível, ou a falta de um registro físico em papel — ausente desde 1996 — é uma vulnerabilidade que o STF se recusa a encarar?
A reação pública expôs a fragilidade da narrativa de Moraes. Em vez de fortalecer a confiança nas urnas, ele plantou dúvidas sobre sua própria credibilidade. Para muitos, a menção a Trump soou como uma tentativa desesperada de cooptar uma figura admirada por bolsonaristas, transformando-a em aliada improvável de um sistema que eles contestam. O tiro saiu pela culatra — e a verdade sobre Trump veio à tona com força esmagadora.
A verdade: Trump, o inimigo das urnas eletrônicas
Donald Trump não é apenas cético em relação às urnas eletrônicas — ele é seu adversário declarado. Recentemente, em 21 de fevereiro, durante uma reunião com governadores na Casa Branca, Trump dedicou quase quatro minutos de seu longo discurso a demolir a ideia de votação eletrônica: “Sempre que você tiver votos por correio ou urnas eletrônicas, você terá fraude — sem dúvida”.
E ele foi além, delineando sua visão de eleições seguras: “Precisamos de votos em papel, prova de cidadania, votação no mesmo dia e identificação do eleitor”. Para Trump, essas medidas são a única garantia de integridade eleitoral. Reforçando sua convicção de que sistemas eletrônicos são inerentemente manipuláveis, ele chegou a citar uma conversa com Elon Musk: “Perguntei a Elon, porque ele entende mais de computadores do que ninguém”.
E esse não é um discurso novo do presidente americano. Depois de perder as controversas eleições americanas de 2020, Trump transformou empresas como Dominion Voting Systems e Smartmatic em vilãs de uma saga de suposta fraude, levando suas alegações a tribunais e a comícios inflamados. Há anos ele critica o sistema eletrônico que culminou com imensos problemas e batalhas judiciais nas eleições presidenciais de 2020 nos estados que usaram apenas as máquinas de votação. No Arizona, por exemplo, algumas urnas automatizadas foram descartadas sem auditorias, e até hoje muitas dúvidas sobre possíveis fraudes pairam sobre aquela eleição. Em 2021, na Geórgia, Trump insistiu: “Votos em papel são o único jeito de garantir eleições honestas. Máquinas podem ser manipuladas!”.
Em 2019, em Mar-a-Lago, com Bolsonaro, Trump elogiou a biometria brasileira, dizendo: “Você precisa de identificação para evitar fraudes”. Mas urnas eletrônicas? Nunca um elogio — apenas críticas ou silêncio. Para qualquer eleitor americano — democrata, republicano ou independente —, a defesa de Trump por votos em papel é um pilar de sua plataforma. O sistema brasileiro, sem registro físico, é o oposto do que ele prega. Ainda assim, Moraes atribuiu a ele um elogio fictício, confundindo — ou fingindo confundir — biometria com votação eletrônica.
O custo da mentira
Mas se engana quem pensa que a falsidade de Moraes pode ser um erro trivial — seu ato é uma peça estratégica em um tabuleiro de poder. O julgamento de Bolsonaro é mais do que um processo legal; é um confronto entre visões de democracia. O ex-presidente e seus apoiadores questionam a segurança das urnas eletrônicas, apontando a ausência de um comprovante físico como brecha para manipulação — uma crítica que o TSE e o STF rejeitam com veemência. Moraes, como guardião desse sistema, usou Trump para tentar deslegitimar essas vozes, sugerindo que até um ícone do ceticismo global as aprovava. Mas a realidade é outra: Trump está mais alinhado com os críticos do que com os defensores das urnas. Sua mentira não só falhou em calar o debate, mas expôs a fragilidade de sua própria posição.
A colisão entre Moraes e Trump é mais do que um incidente isolado — é um reflexo de uma luta global. Ambos são figuras titânicas em nações divididas, moldando como a democracia é vista e vivida. Moraes, ao deturpar Trump, tentou blindar sua narrativa contra um adversário populista, enquanto Trump, com seu ódio às urnas eletrônicas e sua defesa de votos em papel, prova de cidadania, votação no mesmo dia e identificação do eleitor — como expresso no vídeo de fevereiro de 2025 —, lidera uma justa guerra contra as elites desconectadas.
E a ironia é gritante: um ministro que diz liderar “a cruzada contra a desinformação” caiu na armadilha de fabricar uma mentira para sustentar sua agenda. A lorota de Moraes, desmentida pelo histórico de Trump, é um lembrete de que o poder pode tentar dobrar fatos, mas não os apaga.
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Excelente matéria Ana Paula, mas vindo de quem vem a fake news (Moraes), não poderíamos esperar outra coisa, pois para eles, há muito tempo os fins irão justificar os meios, por mais espúrios que sejam…
O Brasil voltou a época do Coliseu Romano e seus imperadores. O Sr Alexandre de Moraes coloca o polegar para cima , ABSOLVE, coloca o polegar para baixo CONDENA, podem soltar os leões…E a lei sou eu ….
Após condenar a moça do batom como perigosa terrorista que estava dando um golpe de estado no outro dia manda soltar com restrições da tornozeleira. Nesse caso o polegar está parado no meio. Vai chegar o dia de cercar a manifestação da av Paulista ou da praia de Copacabana e prender todo mundo. É só ele colocar o polegar para baixo. FAZUÉLLE PERDEU MANÉ NÃO AMOLA.