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Grupo antissemita organizou ataques, chamou judeus de "câncer" e fez referências ao Holocausto | Foto: Shutterstock/Georgios Kostomitsopoulos
Edição 262

A nova Noite dos Cristais

A caça aos judeus em Amsterdã em novembro passado foi um pogrom ao estilo nazista

Brendan O'Neill, da Spiked
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Chamaram o tumulto de “caça aos judeus”. Incitaram uns aos outros à violência, dizendo que “talvez nunca mais tenhamos [outra] chance de bater em judeus de merda”. Incentivaram uma “fúria” na cidade inteira contra “o câncer dos judeus” e “o câncer dos sionistas”. Chamaram os judeus de povo “covarde”. Compartilharam informações sobre a chegada de um “trem cheio de judeus” e disseram que todo mundo deveria estar lá para recebê-lo, porque “precisamos fazer com que esses judeus sintam o que fizeram com nossos irmãos”. Um deles brincou que o trem podia estar atrasado, porque poderia ser um “trem especial”, preparado por Hitler, “cheio de gás para [os judeus]”.

Onde foram proferidas essas obscenidades racistas? Onde ocorreu essa violenta caça aos judeus? Na Alemanha em 1938, talvez? Não, foi em Amsterdã, no ano passado. Foi a jodenjacht de novembro de 2024, quando torcedores israelenses do Maccabi Tel Aviv foram “caçados” por multidões de homens, a maioria árabes, pelas ruas de Amsterdã. Mais detalhes sobre esse ataque surgiram durante os últimos processos judiciais no começo de março, e envergonham ainda mais as figuras da esquerda ocidental que negam o pogrom e insistem que foram apenas confrontos de rua, não uma caça aos judeus.

Outros cinco dos supostos caçadores de judeus de Amsterdã foram levados ao banco dos réus. Um deles — Mounir M, de 32 anos — é acusado de ser o administrador do grupo de WhatsApp no qual a violência foi incitada e organizada. Originalmente chamado de “Free Palstine” (sic), o grupo depois mudou o nome para “Buurthuis 2” (“Centro Comunitário 2”, em holandês). A animosidade racial e os chamados abertos à violência se espalharam por essa conversa sinistra. Passe com o carro “sobre essas pessoas”, comentou um participante. “Bata forte neles”, sugeriu outro. Precisa haver “pelo menos uma morte”, sonhou um terceiro. Também surgiram dicas de como incitar os torcedores do Maccabi. O grupo foi aconselhado a gritar “Libertem a Palestina”.

Supostamente, Mounir M ajudou a supervisionar esse grupo que fervilhava de ódio aos judeus. Conforme relatou o jornal holandês Het Parool, os procedimentos judiciais do início do mês “não deixaram muita dúvida: os participantes do grupo (…) incitaram uns aos outros em uma caça aos judeus”. O tribunal revelou que o grupo estava cheio de “insultos sobre os judeus”, além de palavras de ordem. Havia também “piadas”, como aquela sobre o trem especial de Hitler, cheio de gás. Mounir M é acusado de reagir da forma mais assustadora a uma mensagem sobre o hotel onde os torcedores do Maccabi se esconderam do ataque dos caçadores de judeus. “Acabe com ele”, ele teria escrito.

Outro réu no julgamento atual — Mahmoud A, um palestino que está pedindo asilo — enfrenta uma acusação mais grave: tentativa de homicídio culposo. Em um vídeo ele supostamente aparece chutando quatro vezes a cabeça de um torcedor do Maccabi que estava caído no chão. Os outros três suspeitos enfrentam acusações de “fornecer informações para o cometimento de violência”, banalizar e tolerar o Holocausto e usar um cinto para chicotear um israelense idoso que estava visitando a cidade. O jornal holandês De Telegraaf afirmou que o mais recente “julgamento dos caçadores de judeus chocou seriamente” o povo da Holanda. É horrível, disse ele, que um evento de “caráter claramente antissemita” possa ocorrer em Amsterdã nos dias de hoje.

Os ‘antirracistas’ sumiram

Será que também houve “choque” fora da Holanda sobre o julgamento dos supostos caçadores de judeus? Sobre o espetáculo assustador de um ataque sendo esmiuçado em um tribunal em 2025? Surpreendentemente, não. O silêncio é geral. Você pode procurar em vão uma cobertura na imprensa não holandesa sobre esse evento relacionado ao ataque de Amsterdã. A imprensa local está cansada dessa história de judeus sendo caçados pelas ruas de uma capital europeia? Sim, que chatice ter de lidar com o fato de que houve uma perseguição organizada e violenta contra o “câncer dos judeus” no nosso continente no século 21. Afinal de contas, a Europa deveria ser um modelo de liberalismo e diversidade, muito superior moralmente em relação a esses populistas idiotas que assumiram o controle dos Estados Unidos. Não podemos deixar que uma bobagem incômoda como uma caça aos judeus interfira nessa narrativa.

Há um motivo ainda mais sinistro para o silêncio da Europa sobre esse “julgamento dos caçadores de judeus” em uma de suas cidades mais esclarecidas. Muitas pessoas claramente acreditaram na negação do pogrom que se espalhou como uma doença nos círculos de formadores de opinião logo depois dessa caçada. Os esquerdistas ocidentais dedicaram à negação da verdade sobre o pogrom de Amsterdã a mesma energia moral que costumam dedicar à descoberta do racismo em todos os cantos. As mesmas pessoas que, durante anos, chamaram tudo de “racismo” — de mulheres brancas trançando o cabelo até um arranhão em uma página do Alcorão — estão dando de ombros para uma caça literal aos judeus. “Talvez os torcedores do Maccabi tenham provocado isso”, foi basicamente o que disseram.

Foto de um dos ataque reportados contra torcedores do Maccabi Tel Aviv em Amsterdã | Foto: Reprodução

Para um observador racional, ficou claro desde o início que o que aconteceu em Amsterdã foi um pogrom. O primeiro “julgamento dos caçadores de judeus” foi realizado em dezembro. Cinco homens foram condenados por violência. Um deles se vangloriou no grupo de WhatsApp de ter participado da “caça aos judeus” — palavras dele. Em seguida, esse homem chutou torcedores do Maccabi e segurou um deles pela garganta. Outro descreveu suas vítimas como “[judeus] covardes”. Os homens, junto com cerca de outras 900 pessoas, faziam parte do bate-papo virtual que, segundo o tribunal, havia compartilhado informações com o objetivo de “[cometer] violência contra pessoas de ascendência judaica e/ou torcedores do Maccabi Tel Aviv”. Quatro dos cinco homens foram presos, e um foi sentenciado a fazer serviços comunitários.

A nova Noite dos Cristais, com apoio da esquerda

Ou seja, desde o final do ano passado sabemos que o grupo de Amsterdã chamou suas atividades malignas de “caçada aos judeus”. Sabemos que incitaram uns aos outros a “bater em uns judeus de merda”. Sabemos que falaram sem parar sobre limpar Amsterdã desse “câncer” dos judeus. Sabemos, pelos julgamentos da semana passada, que eles também fizeram piadas sobre o Holocausto, invocaram Hitler, brincaram sobre o gás, supostamente bateram em um israelense com um cinto e são acusados de tentativa de homicídio culposo. Tudo isso teve um “caráter claramente antissemita”, como disse o De Telegraaf.

E mesmo assim a esquerda disse que não foi um pogrom. Ainda assim, vimos manchetes como “O pogrom em Amsterdã que não foi”. Ainda assim, fomos informados de que os torcedores do Maccabi mereciam ser punidos por gritar frases ofensivas e rasgar uma bandeira da Palestina. Esses torcedores levaram o “espírito do fascismo israelense” para a Holanda, disse um observador, e as pessoas na capital simplesmente revidaram. Foi uma culpabilização desmedida da vítima, tão grotesca quanto quando os antissemitas afirmaram que os judeus da Alemanha provocaram a Kristallnacht (“Noite dos Cristais”) por perturbarem tanto a economia. Nada resume melhor o paternalismo racial turbinado da esquerda moderna quanto o fato de gangues de homens dizerem “fizemos uma caça aos judeus!”, e essas pessoas basicamente responderem: “Não fizeram, não. Vocês estavam apenas protestando. Fiquem bem”. Veja bem, eles não apenas acham que sabem mais que os judeus, eles também acham que sabem mais que os árabes.

A esquerda minimizou o ataque antissemita em Amsterdã, culpabilizando as vítimas e relativizando a violência | Foto: Reprodução/Instagram

O cinismo impiedoso de tantos observadores depois do ataque de Amsterdã expôs a crueldade neorracista da política identitária. A negação da caça aos judeus foi alimentada por uma crença distorcida de que os judeus nunca podem ser vítimas. Afinal de contas, os judeus fazem parte dos “privilegiados”, e os migrantes árabes fazem parte dos “oprimidos”. E como “os privilegiados” podem ser atacados pelos “oprimidos”? A verdade da caça aos judeus de Amsterdã foi sacrificada no altar da ideologia. Jogaram os judeus aos leões a serviço da própria visão de mundo engrandecedora. E ocultaram a memória de um pogrom para preservar sua virtude. Outras pessoas fizeram a mesma coisa na Europa 80 anos atrás. E não foram os heróis.


Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “A crueldade da cultura woke”

3 comentários
  1. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    Muito em breve o mundo tomará um rumo definido. Esse negócio já está indo longe demais.

  2. Francisca Lenita de Menezes Aragao
    Francisca Lenita de Menezes Aragao

    Inacreditável que uma prática dessa esteja se repetindo. Inaceitavel. Esse processo de doutrinacao funcional mesmo deixando descerebarados.prática dessa

  3. Francisca Lenita de Menezes Aragao
    Francisca Lenita de Menezes Aragao

    Inacreditável que uma prática dessa esteja se repetindo. Inaceitavel. Esse processo de doutrinacao funcional mesmo deixando descerebarados.prática dessa

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