Um extraordinário tesouro subterrâneo ficou oculto numa pequena cidade da China por mais de 2 mil anos. Debaixo da terra estava o monumental exército com cerca de 8 mil soldados, alinhados em formação de batalha, além de carruagens, cavalos e outros animais. Todos meticulosamente esculpidos em tamanho real com terracota, um tipo de argila cozida. Descoberto por camponeses que trabalhavam no local — em 29 de março de 1974 —, hoje o acervo é uma das imagens mais reconhecidas da herança chinesa em todo o mundo.

As estátuas foram encontradas acidentalmente há 51 anos, quando fazendeiros que perfuravam um poço descobriram uma câmara subterrânea a nordeste da cidade de Xian, na província de Shaanxi, região central da China. Trata-se do mausoléu do autoproclamado primeiro imperador da China unificada, Qin Shi Huang (também chamado de Shihuangdi), o mesmo que ordenou a construção da Muralha da China. O exército está voltado para o leste, pronto para a batalha, a cerca de quatro a cinco quilômetros da parede externa do monumento, para protegê-lo dos principais antigos adversários que vinham daquela direção.
Em um primeiro momento, os guerreiros parecem idênticos, mas cada soldado exibe uma individualidade surpreendente. Penteados, chapéus, sapatos, bigodes, orelhas e cada detalhe do corpo foram modelados de maneira personalizada. As expressões são únicas e entregam os diferentes papéis em um exército, de generais a soldados de infantaria, de arqueiros a recrutas. O realismo impressiona e oferece um vislumbre do poderio militar da Dinastia Qin e da crença na vida após a morte. Afinal, diante de um exército tão imponente, não resta dúvida de que o imperador quis viajar com muita segurança para o Além.


As escavações revelaram também que, além dos soldados de argila, o reino subterrâneo de Qin Shi Huang era presumivelmente um fac-símile da corte que o cercava durante sua vida. A comitiva de terracota do imperador inclui músicos, acrobatas, aves aquáticas realistas e carruagens ricamente adornadas de madeira e de bronze. “Descobrimos que os poços subterrâneos são uma imitação da organização real na Dinastia Qin”, disse Duan Qingbo, chefe da equipe de escavação do mausoléu. “As pessoas pensavam que, quando morreu, o imperador tinha levado apenas um monte de soldados do exército de cerâmica com ele. Agora percebem que ele levou todo um sistema político.”


Arqueólogos esperam que leve anos para desenterrar todas as relíquias desse enorme complexo funerário. Nos últimos 50 anos, foram localizados cerca de 600 fossos. Alguns são difíceis de alcançar, mas três fossos principais são facilmente acessíveis. O túmulo do imperador fica embaixo de uma colina florestada e nunca foi escavado. De acordo com documentos encontrados um século após a morte de Qin, o túmulo contém uma riqueza de maravilhas, incluindo o contorno de leitos de riachos artificiais criados para se assemelharem aos Rios Amarelo e Yangtze e que fluem com mercúrio cintilante e prateado para imitar água corrente. A análise do solo revelou de fato um alto nível de mercúrio.
Todo o sítio arqueológico está classificado, junto com a Grande Muralha e a Cidade Proibida de Pequim, como uma das principais atrações turísticas da China. Em 1987, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco.

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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Legal! Não conhecia esse exército de terracota