O ano de 2020 foi embora e muitos disseram: “Ufa!”. Não sem razão. A pandemia prejudicou ou mesmo tirou a vida de milhares de pessoas. Quem não perdeu amigos e parentes para o vírus chinês certamente conhece gente que perdeu o emprego. Como se a pandemia em si já não fosse ruim o suficiente, a reação a ela foi sem precedentes, e em vários países vimos os cidadãos tratados como súditos, sempre em nome da ciência. A pandemia aflorou o lado tirânico de muito governante, não resta dúvida.
Por isso mesmo gostaria de iniciar 2021 com uma coluna em tom mais otimista, com uma mensagem de fé e de esperança. A vida já tem sua cota elevada de tragédias e sofrimentos, e a mídia abutre não ajuda, com suas “manchetes olímpicas”, como diz Silvio Navarro, praticamente comemorando a desgraça alheia. Mas chegamos vivos aqui, e isso merece nossa atenção e nossa reflexão. Qual vida queremos preservar? Sobreviver, continuar respirando, não pode ser a única meta. Queremos uma vida com significado, vivemos em busca de sentido.
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Em meio ao burburinho da vida, em nossas discussões políticas diárias, tentando prosperar no trabalho, preservar a família, às vezes nos esquecemos de dar um passo para trás, pausar um pouco, e refletir. Esta época costuma ser propícia a esse exercício. Vamos, então, retirar-nos para a colina, tentar enxergar a floresta em vez de focar apenas as árvores. Vamos agradecer a vida, demonstrar essa gratidão tão em falta na era do ressentimento e da vitimização. Vamos abandonar um pouco aquilo que é profano e mergulhar no sagrado, mirar no eterno, atemporal, despir-nos de nossas máscaras protetoras no teatro da vida, deixar de lado nosso narcisismo. Peço ajuda ao poeta Ângelo Monteiro, com trechos de seu O Ignorado:
Da nossa mais profunda dor sobe o apelo à Grande Mãe. Sempre perdida, jamais encontrada, mas ainda assim ansiada na perpétua agonia de nossas vidas volteando sem cessar ante o altar da Mãe. Ah! O altar da Mãe é também o altar do Verbo. Porque nele cresce e se debate o desespero — ainda que prenhe da mais dolorosa esperança — da chama dessa vela que ora morre, ora revive: nossa alma revolta e transviada que deseja se fundir em algo melhor do que ela mesma, em sua necessidade, em sua culpa, em sua dor, em sua permanentemente frustrada aventura de alegria.
[...] Cada época tem sua astúcia. Mas além da astúcia está o lago. O lago em que o Patinho Feio se reencontrou, segundo Andersen. E onde Narciso se perdeu, segundo o mito grego. Cada época precisa ir além de Narciso. Recolher, em meio ao caos que sempre houve, os paradigmas eternos. A arte, emergindo da vida, deve ser por isso paradigmática: não pode abandonar os arquétipos. Deve também ser normativa: ensinar ao homem a sua redescoberta. Fazê-lo voltar às nascentes do ser, como na sentença socrática: “Conhece-te a ti mesmo”. Toda arte verdadeira será como as histórias de fadas e os Evangelhos: pedagógica. Em sua pedagogia, a arte fará o homem enfrentar-se com o escuro, perder-se nele antes de vir à tona para a vida. E transmitir aos outros uma lição de mistério.
[…] Mas não são os saudosistas — cultores do pó, da cinza e da ruína — que irão apontar o caminho do regresso à origem. Os saudosistas pertencem apenas ao passado. Nem serão as mariposas do momento, que gravitam ante as luzes vazias dos postes iluminados de slogans, que hão de merecer nossa atenção mais régia. Acredito, apesar de tudo, que ainda possam existir homens. […] Quando a Fé é um dom que se tornou impossível de ser apreendido, por causa do tumulto de turvos tempos, a espada possui a força de iluminar os homens ainda mais poderosamente que uma estrela. O seu brilho estonteante, ao querer tombar sobre as cabeças dos que se desvirilizaram por ausência de uma razão para crer, pode, de maneira fulminante, como a mais luminosa das intuições — e com o raio do seu fascínio celeste —, desperta-lhes de vez a mais inexistente fé. E a Fé será, então, o brilho de uma espada sobre aqueles que se recusam a morrer.
[…] Há homens que vivem no medíocre como na mais plena das beatitudes. Eu não sou um desses homens. Anuncio que vislumbro outro mundo — um mundo de lutas gloriosas e, por isso, de poesia e de música — que seja o extremo oposto do uivar sem esperança daqueles que renunciaram à saída por qualquer porta.
[…] Impossibilidade é a palavra predileta dos fracos. Ao Deus que está no Homem nada é impossível. Ao Deus que está no Homem o possível é uma extensão do próprio querer.
“Observai como crescem os lírios do campo”
Em Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença, Jordan Peterson mistura psicologia, mitologia e filosofia para nos revelar o papel do herói revolucionário, aquele que enfrenta o caos para chegar à ordem, dando sentido ao que parece sem sentido. Toda cultura segue um padrão similar, como já mostrara Joseph Campbell em O Herói de Mil Faces (The Hero with a Thousand Faces). É essa aventura que nos interessa, inspira-nos. É o processo que importa, não algum ponto de chegada qualquer. Jordan Peterson explica:
O ponto de uma sinfonia não é sua nota final, embora ela avance inexoravelmente para esse fim. Da mesma forma, a finalidade da existência humana não é o estabelecimento de algum modo de ser estático, perfeito — o homem acharia tal perfeição intolerável, como Dostoiévski se esforçou para ilustrar. Em vez disso, a finalidade humana é a geração da capacidade de se concentrar nos eventos inatamente interessantes e afetivamente significativos do presente, com suficiente clareza e consciência, para tornar desnecessária a preocupação com o passado e o futuro.
Peterson usa, em seguida, uma passagem bíblica da mensagem de Cristo:
Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Eu, contudo, vos asseguro que nem Salomão, em todo o esplendor de sua glória, vestiu-se como um deles. Então, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos preocupeis, dizendo: Que iremos comer? Que iremos beber? Ou ainda: Com que nos vestiremos? Porque nosso Pai celestial sabe que necessitais de todas essas coisas. Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo.
Essa última sentença, para Peterson, não significa viver a vida da cigarra em vez da formiga, cantar no verão e passar fome no inverno, fugir pelo hedonismo, o carpe diem, mas concentrar-se na tarefa em mãos, viver, de fato, seu presente, responder ao erro, quando cometido, prestar atenção. Ele acrescenta:
Viver em pleno reconhecimento de sua capacidade para o erro — e sua capacidade de retificar tais erros. Avançar na confiança e na fé; não encolher, evitando o inevitável contato com o terrível desconhecido, viver em um buraco que diminui e fica mais escuro. O significado da paixão cristã é a transformação do processo pelo qual o objetivo deve ser alcançado no objetivo em si: a transformação da “imitação de Cristo” — o dever de todo cidadão cristão, por assim dizer — na personificação da existência corajosa, verdadeira, individualmente única.
E com isso, meus caros, quero desejar a todos um excelente 2021, finalizando com as saudações bíblicas aos Coríntios:
Por fim, irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros no ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!
Precisamos mesmo de textos mais leves que nos levem a meditar sobre a nossa finitude e insignificância. Parabéns pelo texto Rodrigo.
Muita reflexão e um final maravilhoso. Parabéns pelo seu espetacular e inspirado artigo, Constantino. Um Feliz 2021 para vc e sua família!
Fico feliz com o retorno do grande Constantino. Parabéns à Joven Pan.
Constantino sempre Excelente!
Acho que o amigo lá de cima está na revista errada. Procure seus pares se não consegue respeitar a integridade alheia. E o outro amigo ateu, respeite a crença e a fé do outro, ninguém pode te julgar por você crer em um Deus ou em algo acima da sua insignificância. Parabéns a Oeste mais uma vez, por ter colunistas tão ricos e compartilhar conosco estes valores. Siga e aplauda quem quer e quem consegue entender a mensagem .Se sua turma é outra vá em busca daquela.
R.Constantino tem conceito e imagem respeitável.Uma Cultura invejável e é bom caráter. Ivelise,acima, tem razão,o texto dá uma sacudida e nos lembra daquilo que realmente importa:lutar! Feliz ANO.
Muito bom 👏👏👏🙌
Amei Constantino.
Na verdade, esse texto dá uma “sacudida” e nos lembra daquilo que realmente importa: lutar! E lutar para sermos melhores.
Obrigada!
o comentário do antonio ruotolo foi ofensivo e desnecessário.
… mas até aqui na Oeste esses esquerdopatas
infiltrados aparecem para criticar ?!
Teu lugar não é aqui, ô mala sem alça !
Gosto muito do Constantino, mas prefiro-o ateu como eu. Entretanto, respeito sua opção religiosa recente, claro.
Que maneira “grosseira” de tentar ser polido…A demagogia totalitária saiu de suas entranhas como bichos de goiaba. “Gosto muito do Constantino mas prefiro-o ateu como eu” !!! francamente, releia o que vc mesmo escreveu, duas ou duzentas vezes…Quantas forem necessárias para vc. enxergar alguma grandeza em vc mesmo. Sujeito, como ousa falar de gostar muito de alguém MAS preferir que essa pessoa seja como você ? E NEM PASSAR POR SUA CABEÇA QUE PRECISA DE UM PSIQUIATRA ? Ja ouviu falar em NARCISISMO (pela primeira parte) e CRETINICE (pela segunda parte, aquela em que fala do seu “respeito, claro”) ?
Como disse, ha alguns comentários atrás, está difícil ter de aturar mais de uma decepção e muitas náuseas diárias.
Meus quase 80 anos estão começando a pesar demais. Meus músculos e minha tolerância para a estupidez humana estão chegando ao limite.
Inspirador e tocante. Jordan Peterson tem te feito muito bem ao reconciliar seu conservadorismo em uma abordagem do sagrado sem perder a razão do bom iluminismo.
Constantino esta correto. Muito boa a mensagem de uma pessoa do bem e que aprecia o respeito às opiniões, costumes, família, religiões a lei e a ordem, próprias de grande parte da sociedade denominada conservadores. Penso que deveríamos trabalhar, especialmente a imprensa, o amor ao próximo sem destilar ódios, apenas orientando e abrindo as portas para o bom convívio entre irmãos.
Quem acompanha Constantino de longa data, tem observado que até colegas de jornalismo o agridem, por destoar das tendências ideológicas de boa parte da imprensa, e envida esforços para cancela-lo através dos poderosos atuais meios de comunicação que inundam fakes, e que mesmo condenadas não fazem o devido reparo.
Isto vem criando até na boa imprensa da revista oeste e de outros bons meios de comunicação, alguns artigos com opiniões verdadeiras, porem excessivamente agressivas que entendo precisam ser evitadas, até porque incendeiam mais o desrespeito entre conservadores e os atualmente chamados progressistas. Vejo com preocupação essa disputa, que em nada contribuirá para a necessária harmonia entre as pessoas de todas as raças e credos, bem como de nossos Poderes da República, que tão primariamente se destacam superiores aos demais. Vamos sim trabalhar uma comunicação esclarecedora e pacifica, que entendo ser a mensagem que Constantino tenta nos passar e também se corrigir.
Que a boa imprensa faça o mesmo e despreze o péssimo jornalismo do ódio que ainda hoje, contrariando as necessárias mensagens de Feliz Ano de 2021, assim se manifesta o outrora saudoso Estadão em seu editorial, “Ainda faltam 17,5 mil horas”, para nos dizer que, “O Brasil conta as horas para o fim do governo de Jair Bolsonaro”, verdadeira inutilidade, até porque não é o Brasil que esta contando mas sim o Estadão, que não reconhece qualquer mérito neste governo. A melhor forma de bom jornalismo que ainda lá existe nos artigos de Carlos Alberto di Franco e J.R. Guzzo e eventuais do grande jurista Ives Gandra Martins é combater os malfeitos deste governo mas também saber reconhecer seus méritos. É como imagino doravante ser o trabalho da boa imprensa, não incendiando mas orientando a sociedade para evitar conflitos, como por exemplo divulgar que o VOTO IMPRESSO não é um retrocesso, mas o único meio de AUDITAR e ou RECONTAR as apurações eletrônicas, que jamais poderia ter sido declarado inconstitucional pelo STF, porque não “viola o sigilo e a liberdade do voto”, ao contrario, evita graves conflitos em acirradas disputas como entendo serão as eleições de 2022.
Parabéns Constantino e siga sua orientação que você nos dá neste artigo.
É bom começar o ano com uma boa mensagem.
Parabéns Rodrigo.
Um texto sensível, revigorante, sem temor no amanhã, humano, oportuno, já que estamos tão necessitados de esperança, porém, como jamais se vê na imprensa. Aos esquerdopatas doentes, como um deles já deu ares por aqui (está na revista errada, aliás), soa como algo sem valor, incompreensível, desconectados que são com os valores mais elevados da vida.
Parabéns e obrigada, Consta!
Feliz 2021 pra você, à equipe e aos leitores (verdadeiros) da Oeste.
A sua mensagem final é maravilhosa, só faltou vc incluir nela , que tenhamos à disposição de todos os brasileiros,
uma confiável vacina contra a COVID.
Saudações, sucesso, feliz 2021, a todos.
Uma colcha de retalhos de um colunista inteligente mas medíocre. Só faltou ele incluir alguma citação do Trump, outro medíocre que ele venera.
Duro seu julgamento, não? Cuidado…
Medíocre é vc que não respeita as escolhas dos outros.
Mais um infiltrado. O Consta é um dos mais brilhantes colunistas brasileiros. A esquerdalha não o suporta e isso é, por si só, uma credencial fenomenal. Continue assim Constantino. A ralé vai ficando para trás…
Feliz 2021 para todos da Oeste!!
Eis aí mais do mesmo que falei antes…Até mesmo presenças de um tal “Ruotolo”. O que pode-se esperar de alguém com um nome desse ? Um imbecil como ele verá nestas minhas palavras preconceito ou bullying. Em seguida, vai tentar alguma gracinha. Mas, pouco me importo com ele. Me incomoda a possibilidade de convívio com o que sai dele. Meu sistema imunológico já anda sobrecarregado demais.
A Revista Oeste anda fazendo concessões (às quais tenho me referido) e o preço é esse.
Os abutres nunca procuram TÂMARAS nem fazem ninho no SÂNDALO.
Eis aí o meu pesar por começar a ver as TÂMARAS e uso SÂNDALOS sob O ATAQUE DOS ABUTRES.
Tudo de bom e do bem pra vc!
Constatino, que palavras abençoadoras pra todos nós! Muito obrigada por ser um…muito mais que Jornalista, que nos inspira todos os dias com a leitura honesta e íntegra do cotidiano.Que Deus o abençoe todos os dias de 2021, e a toda a sua casa.